Popload Beats: o rapper Common e o disco do ano

Popload Beats: o rapper Common e o disco do ano Foto: divulgação

>>

A POPLOAD abre espaço aos sábados para alguns colaboradores! Felipe Evangelista, fanático por hip hop, responde pela coluna “Popload Beats”. Nesta semana, ele escreve sobre as tretas ao redor do cotidiano do rapper Common, que acaba de fazer um dos melhores álbuns de rap do ano.

Popload Beats — por Felipe Evangelista

Screen Shot 2014-08-02 at 21.10.31

* Com quase 25 anos de carreira e dez álbuns lançados, Common teria diversos motivos para estar sorrindo à toa, mas a realidade é muito mais complicada. Na semana passada, o rapper de Chicago lançou o álbum “Nobody’s Smiling”, o primeiro pela gravadora ARTium Records do seu amigo e parceiro de longa data, No I.D.. O título do álbum vem da frase “Ninguém está sorrindo (No Gueto)” da música “In The Guetto” do rapper Rakim e é uma clara referência a onda de crimes que vem assombrando a sua cidade natal.

Ao longo de 41 minutos e dez faixas, Common vai dos temas que dão origem ao nome do álbum até o nível em que chegou na carreira, sendo considerado um dos maiores rappers da atualidade. Já na primeira faixa do disco, na sombria “The Neighborhood”, o rapper expõe a difícil realidade das ruas em que nasceu.

Em um cenário controlado por gangues, a luta é diária para se dar bem na vida e se manter longe das drogas, da prisão e de mulheres que querem atrasar a sua vida. O tom muda um pouco na faixa “Diamonds”, em que ele chama Big Sean, seu antigo parceiro de G.O.O.D. Music, para estourar garrafas de champagne e colecionar diamantes enquanto o seu nome vai ficando cada vez mais marcado na história do hip hop.

É mais ou menos nesse tom de soberania que Com continua na faixa “Blak Majik”: “Yeah, yeah, eu sou negro, eu sou mágico”. No som, a magia é feita em conjunto com a cantora Jhene Aiko, sua parceira de gravadora. Na última coluna aqui na Popload eu falei sobre os elogios que o rapper fez para a cantora. Na entrevista para o site “Rap-Up”, em que os elogios surgiram, ele falou sobre a essência da música. “Você sabe que eu chamei de ‘Blak Majik’ porque eu estou acostumado a dizer que nós criamos algo a partir do nada. Você sabe, isso é mágica. Nós podemos criar a partir do nada.”

O clima volta a ficar mais pesado em “Kingdom”. A faixa, que tem a colaboração de Vince Staples, conta a história de um jovem que, mesmo sabendo não ser o melhor caminho, se vinga da morte do amigo ao ver a injustiça na sua frente. O problema é que, em vez de ele conseguir as chaves para o reino (kingdom) que tanto desejava, o que vê são as chaves que vão prender ele na cela para o resto de sua vida. No final, só lhe resta recorrer ao Senhor.

Um dos pontos mais emocionantes do álbum é na música “Rewind That”. Nela, Common volta ao passado para falar da sua relação com No I.D., o reencontro dos dois no álbum “The Dreamer/The Believer” depois de quase 15 anos e as lembranças do período em que passou na companhia de J Dilla em seus últimos meses de vida. Em conversa com a rádio americana Power 106, o rapper falou da dificuldade em falar da morte do amigo e de onde surgiu a ideia de abordar esse tema em sua música.

“Essa foi uma das coisas que eu tive que pensar sobre a canção ‘Rewind That’ e falar sobre voltar no tempo. E eu estava conversando com o No I.D. sobre isso e ele dizia: ‘Cara, você pode falar sobre o Jay Dee’. E eu: ‘Eu nunca nem pensei sobre querer fazer isso porque é algo muito pessoal para mim’. Mas eu falo sobre coisas pessoais. Essa foi uma daquelas coisas que machucam. Você perder alguém. Era pesado e o tempo todo eu realmente não tinha lidado com isso.

“Então, realmente esse foi um verdadeiro exemplo de quando você se expressa e libera tudo através da música e através da arte. De certa forma, era realmente como uma cura para mim. Eu costumava não carregar fotos do Dilla, porque isso sempre me fez pensar sobre algo triste. Uma vez que eu coloquei uma foto dele no meu celular e pensava: ‘Cara, esse é meu parceiro’.”

O saldo final é de um excelente álbum conduzido com maestria por um dos rappers mais experientes da cena e uma produção afiada que se encaixa perfeitamente nos temas abordados. E, se ao longo de sua carreira Common colecionou participações de grandes estrelas, nesse projeto ele escolheu artistas de menor expressão comercial, mas que ajudam a completar a essência que o álbum quis passar. Além dos já citados, Big Sean, Jhene Aiko e Vince Staples, “Nobody’s Smiling” ainda tem a participação de Lil’ Herb, Cocaine 80s, Elijah Blake, Malik Yusef, Dreezy e Snoh Aalegra.

Enquanto os problemas sociais estão longe de acabar, musicalmente Common deu aos seus fãs um pequeno motivo para que eles possam pelo menos esboçar um sorriso.

>>

MITSKI – horizontal miolo página

news

Postado por Lucio Ribeiro   dia 03/08/2014
Editora Terreno Estranho – quadrado interno
MITSKI – inner fixed
INTERPOL – inner fixed mobile