Popload entrevista: MADONNA

Popload entrevista: MADONNA GUIA OUT POPLOAD.

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* Haha.

(((Esta entrevista saiu publicada ontem na revista “Serafina”, da Folha de S.Paulo)))

A conversa com Madonna Louise Veronica Ciccone, 53 anos, praticamente a mesma idade que o Morrissey, aconteceu em Nova York, em dezembro. Assim como com o ex-Smiths não podia falar sobre Smiths, com miss Ciccone não podia falar sobre… música. A conversa era sobre seu filme, “W.E.”, ou “a maior história de amor desde Romeu e Julieta”, que estréia dia 9 de março no Brasil. O filme é bem mais ou menos. Mas ousado, tipo a Madonna. Que, achei, estava bem amargurada na entrevista. Popload no cinema.


foto: Mert Alas e Marcus Piggott/Divulgação

“Bom era o tempo em que as pessoas só me diziam ‘sim'”, sussurrou uma Madonna algo reflexiva, algo irônica, indo embora da mesa de entrevista para divulgação de seu novo filme, “W.E.”, em dezembro. A frase surpreendente foi proferida em um hotel, em Nova York, para um pequeno grupo de jornalistas do qual a Popload esteve presente, em nome da revista dominical “Serafina”, da Folha.

Ela, a mulher mais famosa da música pop de todos os tempos –e faz tempo–, desta vez travestida de diretora de cinema iniciante, reclamava da marca de luxo francesa Cartier. O bracelete que Madonna estava usando na ocasião não era o original do filme que ela dirigiu, coproduziu e coescreveu, em cartaz nos EUA e com estreia nos cinemas brasileiros no dia 9 de março, com o nome providencialmente reforçado de “W.E. – O Romance do Século”.

“O que fizeram para o filme deram para a Andrea [Riseborough, atriz principal de “W.E.”.]. Eu pedi, mas já tinham prometido para ela. Para mim, mandaram esse, para me consolar depois do ‘não’ que levei”, respondeu a cineasta (sim, cineasta. Acostume-se). Ela combinou a pulseira com um vestido azul, esse sim original do filme, com etiqueta da Vionnet, grife francesa famosíssima no passado, desativada há décadas e que tenta voltar com força à moda contemporânea nos últimos anos, vestindo estrelas de cinema e participando de produções. E nessa entram Madonna e seu “W.E.”. E o “sim” fácil para ela fazer o que quiser com a roupa.

A coleção de “nãos” que ousam falar agora à artista que vendeu mais de 300 milhões de discos no mundo em quase 30 anos se deve bastante a sua outra faceta, a do cinema. Especialmente essa mais recente, a de cineasta.

A música vai bem, “thank you very much”. E vitaminada com o lançamento do single “Give Me All Your Luvin'” e de um showzinho para estimados 111 milhões de telespectadores no Superbowl americano. Um novo álbum, “MDNA”, seu nome mais ou menos abreviado –e que lembra MDMA, o nome químico do ecstasy, ou, segundo ela, a “droga do amor”–, sai agora em março. Uma turnê mundial, que começa em Israel, em maio, passa por 26 cidades europeias e 34 da América do Norte e chega ao Brasil para pelo menos dois shows em dezembro.

Mas no cinema a coisa é diferente. Madonna estreou como diretora em 2008 com o filme “Filth and Wisdom” (“Sujeira e sabedoria”, em tradução livre). Recebeu críticas na linha “ela foi uma péssima atriz em tantos filmes e, agora, com seu apetite voraz e costumeiro por sucesso, tornou-se também uma péssima diretora” (do jornal inglês “The Guardian”). Com “W.E.”, apelidado rapidamente de “EW” (uma interjeição de nojo, como “eca”), a recepção ao filme não tem sido muito diferente desde que foi exibido em festivais de cinema importantes no ano passado, como Berlim e Toronto, até estrear agora em 2012, na Inglaterra e nos EUA.

Mas Madonna levou o prêmio de melhor música original, por “Masterpiece”, no Globo de Ouro, única canção que compôs e gravou para o longa-metragem. Não entrou no páreo do Oscar porque só toca durante os créditos finais.

“W.E. – O Romance do Século” é a primeira grande produção da artista como diretora. O filme conta a história de Wally Winthrop (Abbie Cornish), uma mulher dos dias de hoje, infeliz no casamento e obcecada por outra mulher: Wallis Simpson (1896-1986), uma americana com dois divórcios na bagagem e que, em 1936, se envolveu num romance-escândalo com o futuro rei da Inglaterra, Eduardo 8º (1894-1972).

O enrosco foi tamanho e tão passional que fez o monarca abandonar o trono meses depois de assumi-lo para viver com Wallis, mesmo com o país às portas da Segunda Guerra Mundial.

O longa “O Discurso do Rei”, vencedor do Oscar em 2011, contava a história do ponto de vista do irmão de Eduardo, o futuro rei George 6º, que teve que superar a gagueira para fazer o pronunciamento à nação que levaria o país à guerra. Nesse filme, Eduardo 8º tem uma aparição rápida, porém importante para a história. Interpretado por Guy Pearce, é o rei cuja desistência do título nobre passa o trono ao irmão mais novo.

O segundo filme de Madonna é ousado em sua concepção. Até o título tem mais de uma ideia embutida: “W” é a inicial de Wallis e “E”, a de Eduardo (James D’Arcy). Juntas, formam o pronome “we” (nós, em inglês).

Pode ser tudo, menos um projeto fácil e seguro para uma superestrela de outra área se firmar numa carreira relativamente nova. “Eu não poderia fazer um filme simples sobre uma das histórias de amor mais lindas de todos os tempos”, resumiu na entrevista.

A narrativa é costurada em idas e vindas nas trajetórias das duas Wallies, a do tempo presente e a “jet setter” Wallis Simpson. Traça paralelos improváveis nas duas situações tão diferentes, fazendo a do passado mudar o destino da atual.

Como o roteiro foi parar na cabeça de Madonna ela explica fazendo um segundo paralelo com a história de Wallis Simpson. Um paralelo com a própria vida.

“Essa trama me fascina desde a primeira vez em que eu a ouvi, no colégio, em uma aula de história. Mas só me aprofundei nos detalhes quando me casei e me mudei para a Inglaterra”, conta. “Viver lá foi um choque, eu me sentia desconfortável, perdida. Era uma estrangeira no dia a dia. Eu não pertencia àquele lugar, entende?”

“Comecei a ler tudo sobre a história do Reino Unido. E cheguei de novo na parte que tinha me interessado nos tempos de colégio: Eduardo 8º, o cara que desistiu de ser rei por causa da mulher que amava.”

Guy Ritchie, o homem que levou Madonna a abrir mão de morar nos EUA, é dez anos mais novo que ela. Os dois foram casados, de 2000 a 2008, tiveram um filho e adotaram um segundo. Foi Ritchie quem lhe deu o apelido de “Madge”, que soa como “majesty”, majestade em inglês. A piada do marido, pelo jeito, não passou despercebida.

E foi aí que a história de Wallis e Eduardo começou a fazer ainda mais sentido na vida de Madonna. Ela estava perto de completar 50 anos (hoje está com 53) e colecionava dissabores amorosos. E alguns novos sabores também.

“Não que eu tenha me casado com algum rei, muito pelo contrário. Mas, quanto mais eu me afundava na produção do filme, mais eu via a minha história ali também”, filosofa.

“Quando uma pessoa deixa de ser rei por sua causa, você precisa fazê-lo se sentir um rei nesse relacionamento pelo resto de sua vida”, acredita a “pop star”. “Wallis recebeu milhares de cartas de ódio enquanto viveu. Foi o preço por ter um amor verdadeiro e bancá-lo custasse o que custasse.”

Ao mesmo tempo que parece mesmo encantada com a história de Wallis e Eduardo, Madonna mostra um lado meio amargo com o amor, que contrasta com a imagem de “sex symbol” poderosa que construiu na música. A ponto de impressionar até o Vaticano com sua postura “sexualmente provocativa”.

Guy Ritchie foi o segundo marido de Madonna. Ela já havia tido um outro “casamento de cinema”, com o ator e diretor Sean Penn, que durou de 1985 e 1989.

Além de vários romances. Na longa lista de seus namorados estão John Kennedy Jr., Jean-Michel Basquiat, Lenny Kravitz, o jogador de basquete Dennis Rodman, o jogador de beisebol Alex Rodrigues e até Jesus Luz.

O ultimo “toyboy” com quem tem sido vista é o bailarino francês Brahim Zaibat, 24, que dançou em sua performance no Superbowl.

O casamento com Ritchie não terminou muito bem. E aconteceu bem na época em que ela estava debruçada sobre o roteiro de “W.E.”. O projeto grandioso a ajudou nesse momento.

“Serviu até de terapia”, revelou. “Acho que todas as escolhas que fiz na vida foi porque precisei. Precisei contar essa história e precisei que uma parte dela se passasse nos dias de hoje”, revela.

A partir daí, na entrevista, veio uma Madonna diferente da que a gente vê na música, como aquela que entrou na arena do Superbowl carregada como uma rainha por dezenas de gladiadores. O tom era de desabafo.

“Meu filme é menos uma biografia de um rei e mais uma grande história de amor, que pode acontecer com qualquer pessoa. No fundo, é sobre o desapontamento eterno de perceber que o amor perfeito não existe” disse.

“E, quanto mais você acredita que ele existe, mais acaba descobrindo que nunca vai chegar nem perto. Isso é bem dolorido”, confessa. E prevê o pior: “Em algum momento da vida você vai ter seu coração despedaçado ou vai perceber que escolheu a pessoa errada para viver junto”.

Não era o momento de interrompê-la. Nem ela parecia querer parar de falar. “Se formos adultos capazes de fazer uma autoanálise razoável, a gente percebe que, na verdade, a felicidade está só nas nossas mãos, não na de outras pessoas.”

O argumento não tinha fim: “Se nós mesmos não nos fizermos felizes, não vamos viver bem com outra pessoa. Felicidade não se divide”, concluiu. Então, botou de novo o filme na conversa, quase como um escudo.

“O que ficou de relevante para mim, com ‘W.E.’ pronto, em cartaz e depois do que vivi nos últimos dez anos, é que, não importa em qual estágio você esteja em sua vida, você sempre pode mudá-la.”

E, então, Madonna parou de falar.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 27/02/2012
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