Popload Metal – Neurosis fez em SP o show mais pesado que você poderia ouvir na vida. Mas você não foi vê-los

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* Metal, na Popload? Calma lá, vamos explicar. Ou melhor, o poploader Fernando Scoczynski Filho vai ousar explicar a parada.

Em qualquer gênero musical, existem as atrações mainstream (extremamente populares, headliners de festival) e as mais, digamos, “restritas”. No metal, podemos citar o exemplo do Metallica, com apelo comercial imenso, que conseguiu até encabeçar um festival “alternativo” no Brasil neste ano, trazendo dezenas de milhares de pessoas ao Lollapalooza. Enquanto isso, temos bandas como o Neurosis, com mais de 30 anos de carreira, atração do renomado festival indie All Tomorrows Parties por diversas vezes, mas trazendo apenas um público moderado ao Carioca Club, em São Paulo, na sua primeira (e única) apresentação no Brasil, no último dia 8.

O som da banda é do tipo “ame ou odeie”. Pioneira do post-metal, a banda praticamente criou seu próprio gênero, com elementos que viriam a moldar vários subtipos do metal. Músicas gigantescas, transições dissonantes, produção do Steve Albini e provavelmente o som mais pesado que você pode ouvir na vida – sem exageros ou cafonices. É impossível evitar as reações extremas à música deles, sejam positivas ou negativas. E tudo isso estava à mostra na última sexta, em SP.

Por 1h45 e apenas 12 músicas, quase sem interrupções, Neurosis fez uma trilha sonora de fim de mundo, com a execução mais impecável que se possa imaginar. Misturando material da carreira toda (e 4 faixas do ótimo “Fires within Fires”, do ano passado), não havia o que retocar no show: os compassos nada ortodoxos, as introduções instrumentais intermináveis, os vocais surpreendentemente bem preservados para senhores de 50 anos que gritam tanto e o raro tecladista do metal que não é peça sobressalente – tudo impecável para quem consegue curtir. A intenção aqui não é enaltecer um suposto “gosto sofisticado” dos fãs, mas dizer que o negócio é difícil de curtir mesmo. Experimente você.

E é justamente essa atmosfera de apreciação que permeou o show; parecia mais uma performance artística do que um show de metal. Não houve mosh pit em momento algum, nem quando entrava algum riff que fazia “Master of Puppets” parecer música do Air. Poucos celulares tirando fotos ou filmando. Só ouvi uma ou outra pessoa cantar algumas letras, em poucos momentos. No máximo, a galera balançava a cabeça. E aplaudia, muito, ao fim de cada música. Estava bem mais para torneio de tênis em Wimbledon do que outra coisa – e foi isso que permitiu que todos ali curtissem o show único e raríssimo que estava acontecendo.

Para não ficar só em elogios, um ponto bem negativo: o Carioca Club é rodeado de propagandas de cerveja em luminosos e outras lâmpadas diversas na área do bar. Todas essas luzes ficaram acesas, durante o show tudo. Isso prejudicou a atmosfera a princípio, porque o palco da banda é o mais básico possível: só luzes azuis e brancas, nada mais. Pelo aspecto visual, não foi nem de perto tão espetacular quanto o sonoro, mas mesmo assim era possível abstrair desses detalhes.

Sinceramente, não consigo me lembrar de algum momento em que a banda dirigiu a palavra à plateia. Se aconteceu, eu provavelmente perdi porque estava pensando no que tinham acabado de tocar. De uma coisa lembro: o único que se despediu da plateia apropriadamente foi o baterista. Ele acenou um “tchau” no fim. Os outros músicos terminaram de fazer um feedback ensurdecedor, viraram as costas e saíram. As cortinas fecharam, obra de arte exibida com sucesso. Sem “Good night, São Paulo”, sem bis, sem mais nada. E nem precisava.

** As fotos do Neurosis deste post (aqui e na home) são de Drico Galdino (/dricogaldino).

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 13/12/2017
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