Strokes ainda é headliner de megafestival. E na Inglaterra ainda por cima. Mas o que isso implica para a “cena”?

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* Sei lá, seria a resposta mais adequada. Mas vamos nessa.
Aqui e ali, muito tem se discutido sobre festivais, suas escalações e suas atrações principais nestes tempos, digamos, pitorescos. Tame Impala maravilhoso içado à condição de headliner do Coachella (e o Kevin Parker esquecendo de avisar a banda do fato), o genial Stormzy envergando na cabeça um dia inteiro do majestoso Glastonbury, Tribalistas estreando a categoria de ex-headliner do nosso Lolla, todas as tretas e mutretas do famooooooso festival americano de playba Fyre Festival, que acompanhamos sedentos em 2017 e agora volta forte ao assunto porque virou tema de dois documentários recentes avassaladores.

E, agora, em anúncio grande de ontem, vemos nossa banda querida-forever, mas atuais arremedos de si mesmos, os Strokes, virar o headliner do mais novo grande festival do planeta por tudo que embarca em seu conceito, o delicinha All Points East, que acontece no meu aniversário no final de maio em Londres.

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Aqui não tem uma crítica ferina, necessariamente. Nem sobre a banda de Nova York, nem sobre o festival de Londres. Até eu queria os Strokes como headliner do Popload Festival 2020, já que o de 2019 já está (praticamente) certo que vai ser um outro grupo. Pode vir muito, Julian!!!!

Mas o negócio é que, com o anúncio do All Points East, um festival bem maior que o “modesto” porém lindo Popload Festival, onde os Strokes cabem mais de uma forma, digamos, apropriada, temos a oportunidade de pensar sobre o tema “headliners e o estado da música em 2019”.

E dado que o festival londrino gigante de três dias (na verdade são seis, dois finais de semana, mas isso é uma outra história) é o que é, ou quer ser o que quer ser, botar como atração principal de um de seus nobres dias os Strokes, nossa banda indie mais linda dos últimos 20 anos _mas cuja fama ficou lá atrás mas ainda tem “o nome”_, nos convida a pensar na cena inteira.

Sem fazer disso uma análise acadêmica, apenas umas pinceladas, a gente aqui que:

1. O All Points East vai para a sua segunda edição em Londres. Foi montado no ano passado “meio que às pressas” pela galera americana que produz o Coachella, transformado em um “festival business” mais que um “festival de música” em seu entorno. O ponto aqui é: produtores americanos, que até poucos anos (uns 20, a idade dos Strokes) atrás não tinham tradição nenhuma em festivais (tirando uns lendários e pontuais), invadiram a verdadeira “terra dos festivais”, desalojando dois eventos britânicos tradicionais de música de um parque no leste de Londres, e se apossando assim do lado mais cool da capital inglesa nos dias atuais. Fincaram a bandeira americana em UK e montaram um festival seu, que até iria se chamar Coachella London, na ideia inicial. Até que alguém se mostrou sensato e não deixou isso acontecer.

2. Os Strokes, de inesquecíveis dois ou três discos (o último destes de 2006, 13 anos atrás), e esquecíveis dois últimos álbuns e no ameaço de lançar o sexto há tempos, se arrasta há mais tempo ainda em irregulares shows de hits. A magia das músicas antigas está lá até, quando saem sujas, bem tocadas. Mas o tempo claramente vai apagando o apego entre público grande e banda. Bom, até aí, deixa eles e tal. Cada um na sua. Entenda o ponto aqui: eu iria em show pequeno e/ou médio dos Strokes todos os dias, se eles acontecessem hoje perto de mim. Tocando no Z, no Fabrique, no Breve, até no Popload Festival. Mas virar (ainda) headliner de grande festival em Londres é confiar muito nos laços que a banda criou com o importantíssimo e algo “revolucionário” disco debut “Is This It”. E lá se vão 18 anos. Muito mal comparando, os Rolling Stones tocam há 50 anos e beleza, mas aí vai uma enorme diferença de importância para sua era, número de discos bons e clássicos e turnês marcantes. Fora que o setentão Jagger parece ter a disposição de um trintão. E, os Strokes, muito ao contrário disso.

3. Há de se pensar no modo atual de “fazer festival”, nesta era do celular e das selfies, da nova geração e do barulho de redes sociais, pensando em música como entretenimento e negócio. Atualmente, é difícil mensurar esse “barulho” de redes sociais, quando transposto para a vida real. Está obviamente tudo muito esquisito. Veja o Coachella escalando banda de kpop em alto de line-up (e não é de hoje). Explica-se pelo alto número de público oriental frequentando o deserto da Califórnia, em ascensão anual. E o de público americano mesmo consumindo o gênero (aqui no Brasil é uma febre louca, por exemplo). Inclusive o Rock in Rio deste ano tentou muito trazer uma das principais bandas de pop coreano como HEADLINER de um de seus dias. Banda esta superdisputada em leilão brasileiro, por pelo menos três produtoras num primeiro momento. Duas no fim. E a conversa foi encerrada (para este ano) quando a banda não quis/pode vir. Decidiu por outros planos.
Falando tudo isso acima assim, a discussão fica até superficial, mas não pretendo escrever um tratado aqui. Só pincelar à luz de Strokes headliner de megafestival inglês em 2019. O que é um nó de contrasenso temporal.

4. Não falo isso com juízo de valor, mas muitos dos festivais enormes, como o Coachella, para citar um luminar, viraram outra coisa além de serem eventos de música para amantes de música. Um dos muitos exemplos disso são marcas de cosméticos bancando as selfies californianas de “influencers” brasileiros de instagram diante da roda gigante do festival de Indio, a três horas de Los Angeles. Se em seus seis palcos estão tocando na mesma hora da foto nomes como The Kills, Metronomy, Billie Eilish, ASAP Rocky, James Blake e Idles, isso pode ser um mero detalhe.

5. O All Points East pensa assim e sabe disso, obviamente. Escalar Strokes no topo de um line-up não deixa de ser estratégico para não perder o “street cred” entre os “fãs de música”. A tal da credibilidade. Ao mesmo tempo, garantem os novinhos com DJs, bandas “da onda” e uma bonita estrutura para fotos. Torram o orçamento com “grandes nomes” disponíveis (embora sua trajetória capengue desde 2006, 2007, os Strokes são um grande nome), que levam público mais velho (muitos já pais nos mesmos festivais que os filhos), e assim garante o bar e o consumo de álcool, hoje um negócio nada terceirizado para quem também pensa em quais bandas colocar no palco como atração.

Enfim, a variável é grande e latente. Uma coisa é você atravessar uma lama em 1991, depois de longa caminhada, para ver o “algo desconhecido” Nirvana tocar cedinho num Reading Festival de pouco patrocínio, mas com fieis de música comprando seus 80 mil ingressos. Outra coisa é em 2019, às vezes 30% dos ingressos (até mais) de um festival serem destinados para marcas fazerem “relacionamento” com uma galera considerada vip, convidada para um evento que talvez não fossem.

Tudo certo, é assim mesmo, “sign o’ the times” como diria o Prince, joguemos o jogo, a vida é segue. Mas vamos lá: que demais os Strokes ainda serem headliner de festival grande em 2019. Como há chances de eu ir vê-los no All Points East, não vejo a hora de eles tocarem “IS THIS IT” e “THE MODERN AGE”. Elas fariam o maior sentido para tudo.

Se você tiver umas opiniões farois sobre isso, manda para mim, no lucio@uol.com.br. Daí eu reúno um “melhores momentos” de opiniões e coloco de volta a discussão por aqui em breve, com outros pareceres. Me ajuda!

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 30/01/2019
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