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* Uau, que semana absurda de lançamentos. Rosalía e Charli XCX lançaram não apenas grandes álbuns de 2022, mas talvez seus melhores trabalhos até aqui. Se um “duelo” entre as duas era esperando, o rapper Residente mexeu com nossas emoções em um poderoso single que fala muito para toda a América que não está nos Estados Unidos.

1 – Rosalía – “CUUUUuuuuuute”
Não tem para ninguém, na boa. “Motomami”, terceiro álbum da espanhola Rosalía, é um estouro. Avançando na experimentação com vertentes do pop proposta já no álbum anterior, “El Mal Querer”, Rosalía trafega aqui por diferente gêneros como se as fronteiras entre eles, que limitam muitos artistas, fosse um mero detalhe. Também não há tempo ruim em questão de letras: elas podem ir para o caminho da pura diversão, caso de “Chicken Teriyaki”, ou até ousar em uma abordagem explicíta sobre sexo, que consegue ao mesmo tempo ser sutil, como em “Hentai”. Em “Cute”, escrita daquele jeito estilizado, com sua letra fragmentada, reúne sem medo música eletrônica, balada ao piano e uma bateria de escola de samba recortada ali no meio – e tudo faz sentido. É um álbum para se aprofundar na construção e tentar entender de onde vem cada peça, reparar nos compositores e tal. Olhando lá na frente, talvez o grande recado de “Motomami” seja de que Rosalía seja capaz de fazer o que bem entender. Pensa que um feat. com o gigantenco The Weeknd é só uma chinfra deste disco.
2 – Charli XCX – “Crash”
Quebrando expectativas, a inglesa Charli XCX entrega em uma avaliação inicial seu álbum mais “certinho” e pop até aqui, com “Crash”. Mas há muita provocacão nessa tomada de rumo, excessivamente retrô em alguns momentos. Como disse para a “Folha de S.Paulo”, há uma exploração de arquétipos do pop aqui. Sem mais voltas teóricas, talvez seja sua coleção de músicas mais grudentas, viciantes e por aí vai. Ao entregar o que é tido como descartável nesse nível, capaz que seja um álbum que dure e influencie gerações, até porque ela nunca esteve tão popular. Não tem sentido essa busca irritar os fãs, como parece ter irritados alguns.
3 – Residente – “This Is Not America”
Integrante da banda porto-riquenha Calle 13, Residente entrega, nesta contundente faixa solo com a presença do duo franco-cubano Ibeyi, uma resposta a forte “This Is America”, de Childish Gambino. “Gambino, mi hermano, esto si es América”, canta Residente ao mostrar a amplitude de lutas e resistência de todos os outros países que fazem parte do continente. Ao passo que lembra que muitos dos EUA são constituídos por esse povo (“2Pac se llama 2Pac, por Túpac Amaru del Perú”), coloca na conta do império muito do veneno que corre por aqui. Tão forte quanto a letra da música, é seu ótimo vídeo, lotado de referências históricas sutis, assim como o vídeo de Gambino. Vale dar um Google pelos posts que estão descobrindo mais sobre cada referência.
4 – Fontaines D.C. – “Skinty Fia”
Deus do céu esse disco novo da banda irlandesa, que vai sair no final do mês que vem com o mesmo nome deste single, que remonta a uma lenda muito particular do veado irlandês, cheio de significados, que está em extinção mas aparece deslocado na capa do terceiro álbum do Fontaines D.C. (Outro) single absurdo, outro vídeo ótimo.
5 – Princess Nokia – “No Effort”
Em um beat bem clássico, a rapper norte-americana retoma também suas origens no Harlem, em uma carta de amor às meninas da quebrada e seu estilo que foi muito roubado por ricaços, seja nos EUA quanto no resto do mundo. Neste som, Nokia toma de volta tudo. E está certíssima.
6 – Normani – “Fair”
Parte do Fifth Harmony, grupo que revelou ao mundo Camila Cabello, Normani vem mostrar que outra voz do grupo pode ser gigante em trajetória solo. Pelo menos essa é a expectativa em torno de seu primeiro disco solo, que vem por aí. Até aqui, seus singles mostraram isso e “Fair” representa.
7 – King Princess – “For My Friends”
Ah, que tristeza saber que o Lollapalooza está finalmente chegando, mas que uma das suas atrações mais esperadas (por nós) pré-pandemia não vem este ano. Daí que a gente rebateu com gosto essa tristezinha ao som do seu novo single, que é sobre bons amigos, que poderiam muito bem ir juntos a um certo festival ver King Princess… ok, estamos reclamando demais haha.
8/9 – Arcade Fire – “The Lightning I, II”
A promessa do novo álbum do Arcade Fire, “WE”, é muito conceitual. Um lado A sobre isolamento, um lado B sobre reconexão, poucas faixas, quase todas dividas em duas partes. Chato? Pelos dois primeiro singles, nada disso. Talvez seja até um reencontro da banda com seus melhores momentos, em especial os três primeiros álbuns, naquele pique de criar hinos contagiantes. Eles voltaram.
10 – Sonic Youth – “Basement Contender”
Caramba, tem mais de dez anos que o Sonic Youth acabou. E com último show aqui no Brasil, quem viu? Mas a banda segue muito ativa nos lançamentos dos arquivos. “In/Out/In” é um desses registros. Cinco sons (praticamente) instrumentais da década final da banda reunidos. É muito coisa para fã dedicado, ver a banda pensando fora do lugar habitual e tal, mas não faz mal passear, por exemplo, pelos convidativos 9 min do som que separamos.
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* As imagens que ilustram este post é da cantora espanhola Rosalía.
** Este ranking é formulado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
**** A Popload está passando por umas questões técnicas e o upload de fotos anda prejudicado. Por isso, as imagens que ilustram as chamadas para os posts mais recentes, como este, aqui e lá na home, são “genéricas”, digamos. Quando a situação normalizar, trocaremos elas, beleza?
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