* Em relação à cena internacional, que começou em disparada, a CENA brazuca sempre foi um pouquinho mais devagar, compreensivelmente. E isso continua em 2022. Muito até pela nossa tradição de só começar o ano depois do Carnaval. Ainda que já dá para dizer que saímos do zero desta vez, já que em tempos recentes os artistas parece que passaram a entender que um dos sentidos do mundo hiperconectado é que o tempo é bem relativo e já no começo do ano tem muita gente ansiosa pelas novidades.
E, já que estamos iniciando os trabalhos com o Top 50 neste 2022 já tumultuado, vale o disclaimer habitual. Nossa missão do Top 50 não é falar quem é melhor artista, qual música é melhor que a outra. E sim orientar sua busca por música brasileira nova, contando um pouco sobre as novidades que mais interessaram a gente a cada semana. Ao longo do ano a gente vai acumulando esse conhecimento também em playlist, que você pode sempre acompanhar e mandar a infelizes quando escutar a clássica “Não tem mais música boa neste país”. Ah, de vez em quando a gente quebra a regra e coloca umas coisas antigas. Esta semana por exemplo tem dessas.
Vamos para a lista. Play.
1 – Terno Rei – “Dias da Juventude” (Estreia)
Passado, presente e futuro se confundem no primeiro single que o Terno Rei divulgou do que virá a ser seu quarto álbum, ainda sem data de lançamento programada. Após o gigante “Violeta”, que colocou a banda em evidência, a sequência promete ao abrir um novo diálogo com quem viveu e com quem imagina o que foram os anos 90, período que eles gostam de evidenciar no som, nos vídeos e nas capas com certa frequência. E vale sacar o vídeo da música, que bombaria fácil no Disk MTV. Lembra os dias da juventude?
2 – Assucena – “Parti Do Alto” (Estreia)
Essa tem a cara de que talvez fique até o fim do ano na nossa lista. Em sua estreia solo, Assucena, ex-As Baías, chega firme em uma música que vai do pop ao samba-canção e em sua letra sutilmente anuncia a queda do patriarcado, ao derrubar e cortar símbolos desse poder construído pelo homem e não um dado da natureza.
3 – Fernando Catatau – “Nada Acontece” (Estreia)
Ao lado de Juliana R e Gio(vani Cidreira) na composição e vozes, Catatau, sempre um cidadão instigado, oferece a primeira pista do que será seu primeiro álbum solo. E de cara já apresenta o que separa ele sozinho de seu trabalho em banda – aqui mais guiado pelo sintetizador do que pela guitarra, que não desapareceu, lógico.
4 – FBC – “De Kenner” (Estreia)
A gente falou aqui do FBC ao longo do ano e quem não ouviu da gente certamente escutou alguma dele em alguma festa de Ano Novo por aí. Foi o hit dos stories. E cada hora é uma do álbum “Baile” que bomba. E, se você não sorri quando ele consegue rimar Juliet e Messi aqui, eu acho melhor a gente ficar sem conversar por um tempinho.
5 – N.I.N.A. – “Stephen King (Jotaerre Remix)” (Estreia)
O portal “Embrazado” é uma criação dos pesquisadores GG Albuquerque e Igor Marques para registrar e documentar a música periférica do Brasil, que fica muito de canto na crítica e na produção de memória do país. Uma das frentes de trabalho deles agora é a coletânea “Embrazado Hits”, que promove encontros de diversos artistas. É muito bom, por exemplo, ver as novas cores que o guitarrista Jotaerre dá a esse rap de N.I.N.A, aka ” , , “, um hit de 2020 que tem tudo para ficar mais forte em 2022.
6 – Pitty, Jup do Bairro e Badsista – “Busca Implacável” (Estreia)
Badsista, que a gente sempre elogia aqui, coloca Pitty para suingar em base eletrônica acompanhada da parceira Jup do Bairro, outra predileta da casa. A letra pega na questão de quase todo os dias: o que estamos buscando? E alerta: “Se arriscar é viver de verdade/ O resto é televisão”. E se a bad bater, ficam os versos de Hilda Hist citados na música (“E ainda que as janelas se fechem/ É certo que sempre amanhece”).
7 – Sargaço Nightclub – “A Dança do Caos” (Estreia)
É pegajoso o synthpop da pernambucana Sargaço Nightclub. E a “A Dança do Caos” lança uma boa irônia com o status quo da política brasileira, uma abrasileirada na clássica e cada vez mais atual obra literária “A Revolução dos Bichos”. Tem disco dos caras chegando no segundo semestre. Fique atento.
8 – Luneta Mágica – “Águas Poluídas” (Estreia)
A banda de Manaus, que completa dez anos de sua estreia em álbum neste ano, prepara um novo disco: “No Paiz das Amazonas”. O primeiro single parece dar conta do cenário destruído que enfrentamos no presente momento, nada leve, mas um recado necessário de uma banda que fala de um dos lugares que mais precisa da nossa atenção hoje.
9 – Nara Leão – “Opinião” (Estreia)
Nara Leão? Uma música de 1964? A gente explica. Acontece que é muito bonita a série documental “O Canto Livre de Nara Leão”, disponível na Globoplay. Renato Terra, documentarista já de bom repertório (“Uma Noite em 67”, “Narcísio Em Férias”, entre outros), acerta ao aproveitar o tempo maior de uma série para deixar as músicas, injustamente sempre cortadas em documentários musicais, falarem muitas vezes por si só. Além da música, é uma joia ver também Nara falando longamente pelo episódios em recortes televisivos. À frente de seu tempo, ela problematizava seu repertório e suas escolhas para avançar e melhorar ao pensar um Brasil sem preconceitos e que entende que o país é sua totalidade. E todo episódio abre com a poderosa e bela “Opinião”, uma composição de Zé Keti. Atente nessa bateria maravilhosa da música: é Edison Machado.
10 – Juçara Marçal – “Crash” (1)
Rap. Samba. Juçara entrega em “Crash”, letra de Rodrigo Ogi, uma música que arrebenta com qualquer fronteira que se queira criar entre os gêneros musicais. É impossível determinar onde começa o que aqui. Uma certeza é que a letra tem um recado mais claro: é hora de ver a derrota de quem com ferro feriu.
11 – Don L – “Volta da Vitória/Citação: Us Mano e as Mina (Xis)” (2)
12 – Rico Dalasam – “Expresso Sudamericah” (3)
13 – Jadsa – “Sem Edição” (4)
14 – Alessandra Leão – “Borda da Pele” (5)
15 – LEALL – “Pedro Bala” (6)
16 – Marina Sena – “Por Supuesto” e FBC – “Se Tá Solteira” (7)
17 – Caetano Veloso – “Pardo” (8)
18 – Amaro Freitas – “Baquaqua” (9)
19 – Pabllo Vittar – “Não É Papel de Homem” (10)
20 – Anitta – “Girl from Rio” (11)
21 – Coruja BC1 – “Brasil Futurista” (12)
22 – Tuyo – “Sonho de Lay” (13)
23 – Prettos – “Oyá/Sorriso Negro” (14)
24 – Marina Sena – “Pelejei” (15)
25 – Liniker – “Mel” (16)
26 – Luana Flores – “Lampejo da Encruza” (17)
27 – Valciãn Calixto – “Exu Não É Diabo (Èsù Is Not Satan)” (18)
28 – Bebé – “Sinais Elétricos na Carne” (19)
29 – Edgar – “A Procissão dos Clones” (20)
30 – Rodrigo Amarante – “Maré” (21)
31 – Tasha e Tracie – “Lui Lui” (22)
32 – GIO – “Sangue Negro” (23)
33 – Linn Da Quebrada – “I míssil” (24)
34 – Jonathan Ferr – “Amor” (25)
35 – Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – “Fora do Meu Quarto” (26)
36 – MC Carol – “Levanta Mina” (27)
37 – Criolo – “Cleane” (28)
38 – Fresno – “Casa Assombrada” (29)
39 – Gab Ferreira – “Karma” (30)
40 – César Lacerda – “O Sol Que Tudo Sente” (31)
41 – TARDA – “Futuro” (32)
42 – Rabo de Galo, Ubunto e Luedji Luna – “Me Abraça e Me Beija” (33)
43 – Céu – “Chega Mais” (34)
44 – brvnks – “sei la” (35)
45 – Vandal, Djonga e BaianaSystem – “BALAH IH FOGOH” (36)
46 – FEBEM – “Crime” (37)
47 – Luedji Luna e Zudzilla – “Ameixa” (38)
48 – Johnny Hooker – “Amante de Aluguel” (39)
49 – BADSISTA – “Chora Na Minha Frente” (40)
50 – BK – “Cidade do Pecado” (41)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda paulistana Terno Rei.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix. Com uma pequena ajuda de nossos amigos, claro.
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* R.I.P. Elza Soares <3
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