* Que tal inventar uma moda e premiar duas canções com o primeiro lugar? É que a gente foi pego de surpresa nesta semana. Primeiro na live, filme, musical dos Racionais. Segundo, com o disco da Elza Soares ao lado do violinista João de Aquino, uma joia dos anos 90 resgatada em 2021. Não teve jeito de honrar só um deles com o primeiro lugar. Proclamamos um empate técnico.
1 – Racionais com Paulo Galo – “Vida Loka, Pt. 2” (Estreia)
Na impressionante live que fizeram nesta semana, quase um musical com diferentes atos, os Racionais convidaram Paulo Galo, um dos principais militantes na luta contra a precarização do trabalho e uberização, para cantar a abertura de “Vida Loka, Pt. 2”. Galo, que também se aventura pelo rap, chegou com presença: de moto, lógico. Como acontece com todas as participações especiais nos Racionais, está longe de ser um “feat.”. Se você colou com os Racionais em um som, você é dos Racionais.
1 – Elza Soares e João De Aquino – “Juventude Transviada” (Estreia)
Registro dos anos 90 que estava de canto, é absurda a interpretação que Elza e o violinista João de Aquino dão para o clássico de Luiz Melodia. Elza coloca na música uma citação a “O Lamento da Lavadeira”, de Monsueto Menezes. Em registro mais cru, parece que a voz de Elza transborda ainda mais emoção que de costume, muito bem apoiada pela interpretação de João, que conhece os caminhos do violão para que seu dó maior soe como dele e só dele.
2 – Carlos do Complexo – “Planeta-Espelho” (Estreia)
Difícil recomendar uma só do excelente “Torus”, novo trabalho do produtor carioca Carlos do Complexo. Não que as músicas não funcionem sozinhas, longe disso, mas é outra vibe escutar tudo do começo ao fim, até porque a produção foi pensada dessa maneira. Após a introdução de “Torus”, vamos de “On-line” até o som “Off-Life”. Na dúvida, sempre melhor escutar tudo. Agradece a gente depois, certo?
3 – Dora Morelenbaum – “Japão” (Estreia)
A gente falou mais cedo aqui do auê em torno do projeto Bala Desejo, que reúne Julia Mestre, Dora Morelenbaum, Zé Ibarra e Lucas Nunes. Enquanto eles não lançam nada em conjunto, vale ficar atento ao belo single solo de Dora, lançado há pouco tempo.
4 – Letrux – “We’re All Alone Together” (Estreia)
“Apesar de devotos do amor, também somos da solidão, e é muito bonito (e importante) entender o ponto de equilíbrio disso tudo dentro de uma relação”, escreve Letrux sobre o último single da série de canções perdidas que ela resolveu colocar para jogo. Tem uma clima meio Hole nesta música difícil de explicar. Será que a Letícia concorda?
5 – Mateus Aleluia – “Soluar” (1)
O novo disco de Mateus Aleluia, “Afrocanto das Nações”, é a primeira etapa de um grandioso projeto de pesquisa chamado “Nações do Candomblé”. A ideia básica é “registrar e reatar a herança afro musical do Brasil”. Nesse primeiro volume, a busca é pelo Reino do Daomé – Benin, Cachoeira e Salvador. “Buscamos os Voduns, nos curvamos a eles…”, diz o texto presente no museu virtual que acompanha o disco. Destacar apenas uma canção do álbum, com esta bonita “Soluar”, é pretensão demais – vale mais a experiência completa. Separe uma hora e meia e mergulhe.
6 – BK – “Cidade do Pecado” (2)
“Cidade Do Pecado” traz BK em parceria com o produtor JNXV$. A faixa-título apresenta um personagem em um relacionamento novo. Na conversa, as questões que a riqueza traz são levantadas pelo casal, em uma escrita cuidadosa na troca de vozes – vale escutar várias vezes para tentar entender quem diz o quê. Ainda que seja um EP, também vale escutar na íntegra e na ordem correta, pois as músicas desenvolvem uma história mais longa e que se conecta. Interessante. (Estreia)
7 – Alfamor – “Semente” (3)
O mais novo reggae rasgado da sempre politizada gaúcha-paulistana-baiana Alfamor é uma delícia. E contundente também. Traz uma luz de Jah sobre as mulheres, de diferentes territórios, etnias, idades, corpos e origens sociais. Propõe usar o amor como escudo protetor, diz a letra. O vídeo é muito bonito e representativo de tudo isso.
8/9 – Don L – “volta da vitória” e “favela venceu” (4/5)
No ano em que a nossa música mais falou de sonhos que possam mudar os dias tristes do Brasil, “Roteiro para Aïnouz Vol.2”, novo álbum de Don L, talvez seja o que reúne mais elementos não só de sonho, mas também de caminhos para essa luta e principalmente para quais são os objetivos dela. Tá ruim? Massa, mas e aí? O que colocar no lugar? E com o rapper cearense não tem ideia nublada ou vaga. O crime tem culpado e não é acidente. Don L sabe que o projeto do Brasil deu certo, uma vez que esse projeto envolve massacrar minorias, destruir terras e territórios, ciênca, culturas e muito mais. Sua meta? Derrotar o inimigo, sem concessões, sem conchavo. Se perder, já ganhou, porque lutou do lado certo. Se vier a vitória de uma construção do novo país, precisa só ajudar a apontar novos caminhos. Mais interessante ainda é que, na perspectiva apresentada no álbum, essa luta não será ganha lá no futuro. Ela já foi vencida: Don L conta a história a partir do dia seguinte. Parafraseando Emicida: “Se isso não te motivar a deixar de sonhar com um outro mundo, eu não sei mais o que pode te motivar, chapa”.
10 – Chapéu de Palha – “Elo” (6)
A dupla do Chapéu de Palha, formada por Giovanna Póvoas e Helder Cruz, conquistou a gente ao longo deste ano e traz agora toda sua doçura direto de Manaus em sua estreia em álbum, “Cais”. Para quem gosta de bonitas harmonias vocais, tranquilidade e violão, é tiro certo.
11 – Salvador da Rima, Felp 22 e DJ Cia – “Nike & Lacoste” (7)
12 – BADSISTA – “Bandida” (8)
13 – Aláfia – “Quintal” (9)
14 – Coruja BC1 – “Brasil Futurista” (10)
15 – Vieira – “Fluente” (participação Bixarte, A Fúria Negra, Benkes) (11)
16 – Thiago França – “O Futuro um Dia Volta” (12)
17 – Eliminadorzinho – “Verde” (13)
18 – Tainá – “Brilho” (14)
19 – Pluma – “Revisitar” (15)
20 – Céu – “Bim Bom” (16)
21 – FBC – “Se Tá Solteira” (17)
22 – Fresno – “Casa Assombrada” (18)
23 – Alessandra Leão – “Borda da Pele” (22)
24 – Rabo de Galo, DJ Ubunto e Luedji Luna – “Me Abraça e Me Beija” (24)
25 – Vandal – “BALAH IH FOGOH” (25)
27 – Taxidermia – “Taxidermia Punk” (27)
28 – Juçara Marçal – “Ladra” (28)
29 – Criolo – “Cleane” (29)
30 – Caetano Veloso – “Não Vou Deixar” (30)
31 – Marina Sena – “Pelejei” (31)
32 – Prettos – “Oyá/Sorriso Negro” (32)
33 – Liniker – “Mel” (33)
34 – Valciãn Calixto – “Exu Não É Diabo (Èsù Is Not Satan)” (34)
35 – Bebé – “Sinais Elétricos na Carne” (35)
36 – Tasha e Tracie – “Lui Lui” (36)
37 – GIO – “Sangue Negro” (37)
38 – Linn Da Quebrada – “I míssil” (38)
39 – Rodrigo Amarante – “Maré” (39)
40 – Amaro Freitas – “Sankofa” (40)
41 – Pabllo Vittar – “Não É Papel de Homem” (41)
42 – Edgar – “A Procissão dos Clones” (42)
43 – Tuyo – “Toda Vez Que Eu Chego em Casa” (43)
44 – Jadsa – “Mergulho” (44)
45 – FEBEM – “Crime” (45)
46 – Boogarins – “Supernova” (46)
47 – Mbé – “Aos Meus” (47)
48 – Rico Dalasam – “Expresso Sudamericah” (48)
49 – LEALL – “Pedro Bala” (49)
50 – Lupe de Lupe – “Brasil Novo” (50)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o rapper Mano Brown, dos Racionais.
*** Este ranking é formulado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix, talvez o maior estudioso da nossa CENA. Com uma pequena ajuda de nossos amigos, claro.
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