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* Se o ano ainda não tinha começado direito, agora ficou sério. Artistas gigantes e queridos passam a apresentar seus álbuns incríveis e singles que dão as dicas de álbuns incríveis a caminho. A Mitski voltou arrebentando com seu disquinho novo. Já os Chili Peppers, o Alt-J e a Rosalía estão quase entregando seus álbuns. Ainda dá tempo de a gente recuperar uma preciosidade de 2021 que vai ficar maior em 2022: o incrível Mdou Moctar.

1 – Mitski – “Stay Soft”
Mitski voltou de seu relativo sumiço de alguns anos (ela não lança álbum desde 2018 e sumiu ao final da última turnê) com um discão. “Laurel Hell”, seu sexto álbum, dominou nossos fones nesta semana. Ainda que ela esteja de volta à cena, o disco traz uma reflexão sobre a incerteza, a insegurança de abandonar a carreira. Será que dá para voltar tudo ao normal? Acaba sendo uma metáfora para nossos tempos pós-pandemia. Aqui Mitski também nos leva um pouco para conhecer melhor a sua escuridão ou a escuridão em todos nós, como é muito comum em um trabalho que adentre uma cabeça cheia de ideias e sentimentos como é a dela (e como é a de todos nós). A diferença é que uns sabem transformar isso em grande arte. E ainda que seja imersivo e carregado, “Lauren Hell” não é necessariamente triste. Chega a ser dançante, veja só, inspirando fortemente no synth-pop oitentista em vários momentos. Muito interessante para escutar centenas de vezes o disco inteiro. Mas, aqui, vá de “Stay Soft” com a gente
2 – Alt-J – “The Actor”
Nossos queridos meninos de Leeds vêm com o quarto single de seu quarto e aguardado álbum, “The Dream”, que saí nesta semana. Este som, uma viagenzinha a moda que o Alt-J sabe produzir bem, é uma homenagem a Los Angeles, a Cidade dos Sonhos – seria daí o título do disco? Vem, sexta-feira!
3 – Red Hot Chili Peppers – “Black Summer”
Ele voltou. John Frusciante, mago da guitarra, segundo melhor guitarrista da história do Red Hot Chili Peppers e parte fundamental de discos importantes da banda (“Blood Sugar Sex Magik”, “Californication”, “By The Way”) retornou ao grupo, após alguns anos e discos ausente. E já se impõe no centro do novo single, “Black Summer”. Não tem jeito. Sua guitarra canta de maneira diferente – ainda que não sejamos da turma que rechaça o trabalho de Josh Klinghoffer, que teve bons momentos. Fora da “questão Frusciante”, a banda segue quase no mesmo lugar. Flea, Chad Smith e especialmente Anthony Kiedis, que chega com uma de suas indecifráveis letras. Ainda que dê para imaginar que o refrão (“Esperando que outro verão sombrio termine”) seja dedicado à pandemia. Chega deste longo verão sombrio.
4 – Animal Collective – “Dragon Slayer”
Já que falamos de uma sumida, hora de falar dos sumidos do Animal Collective. Nada mais nada menos que seis anos sem um álbum para valer da importante banda electroindie cabeça – ou dez anos, se a gente contar a última vez que o quarteto esteve completo em um disco (falamos aqui de Avey Tare, Panda Bear, Geologist, Deakin). Nas palavras da revista de alta-cultura “New Yorker”, é bonito ver a banda se aventurar de novo após ter influenciado tanto na música pop. “A estranha mágica da banda está em todo canto”, escreve Amanda Petrusich. São quase 20 anos de estrada e muitas idas e vindas, mas a energia dos melhores trabalhos está aqui. “Dragon Slayer” pode te levar longe de tão nostálgica e good vibe. Ali no sexto lugar a gente vai falar mais de uma pessoa que bagunça as fronteiras do pop e do indie – essa bagunça está em parte na conta desses caras.
5 – Shamir – “Caught Up”
Alerta de provável disco do ano na área. Pelo singles que Shamir, artista de Las Vegas de muitos lançamentos recentes, soltou até aqui, parece que seu novo disco, “Heterosexuality”, pode colocar seu trabalho em outro patamar, saca? As músicas são fortes, um pop com diálogo aberto com as pistas de dança – não estranhe se começarem a aparecer altos remixes; as músicas são cheia de ganchos para isso. Ele perdeu um pouco o teor mais caseiro de algumas canções suas. Repara, hoje ele tem 100 mil ouvintes mensais no Spotify. Vamos guardar essa referência.
6 – Rosalía – “SAOKO”
Pega sua motinho e vem curtir com a Rosalía e seu novo hit. “Motomami” chega em março e parece avançar na capacidade meio única da Rosalía em conseguir entregar ao mesmo tempo um som que vai agradar o fã do pop top 1 da “Billboard” e o indie que faz tipo e diz que não curte música pop, sabe? De algum jeito ela resolve tudo nesses dois universos que se amam enquanto fingem que se odeiam.
7 – Black Country, New Road – “Good Will Hunting”
Um dos discos mais esperados do ano, o segundo trabalho do Black Country, New Road chegou com uma notícia que acabou tirando muito do foco que o trabalho poderia receber: o vocalista do grupo, Isaac Wood, está fora da banda por questões de saúde mental, provavelmente – ele não forneceu muitos detalhes na carta que escreveu no Instagram deles. A decisão fez com que a banda cancelasse shows e tomasse a difícil atitude de seguir juntos ainda que sem tocar mais o material dos seus dois primeiros trabalhos em respeito a Wood. Ou seja, temos agora um novo disco deles para desbravar – e o trabalho é tão interessante quanto o primeiro -, mas eles já burilam algo totalmente novo. O Black Country, New Road que conhecíamos até aqui, provavelmente, acabou. Viva o novo Black Country, New Road.
8 – Mdou Moctar – “Afrique Victime”
Já falamos de um mago da guitarra hoje, precisamos falar de outro: Mdou Moctar, músico da Nigéria, que esbanja criatividade com o instrumento. Onde muitos entendem que tudo já foi feito, Moctar mostra que ainda há universos a serem explorados. Com seu álbum lançado ano passado, “Afrique Victime”, ele e sua banda conquistou a crítica e outros artistas, como o Wilco. Vale vê-los em ação numa session registrada pela Fender.
9 – Liam Gallagher – “Everything’s Electric”
Inicialmente a carreira solo do Liam parecia desinteressante em relação à de seu irmão. Engraçado que faz um tempo que esse jogo virou. Até seus shows recentes parecem melhores, especialmente quando Liam abraça o melhor do repertório do Oasis. E a coisa parece que segue assim neste potente single que apresenta “C’Mon You Know”, álbum que será lançado dia 27 de maio. Detalhe: é uma parceria de Liam com Dave Grohl e o superprodutor Greg Kurstin. Além de ajudar na composição, é do Grohl essa bateria que lembra muito os melhores momentos dos bateristas da antiga banda de Liam – um superpoder do ex-Nirvana, que além de saber tocar muito sabe dar um tom de diferentes estilos quando a canção pede. Só reparar suas gravações com o John Paul Jones ou com artistas de metal (Probot), por exemplo.
10 – Boy Pablo – “Feeling Lonely”
Tá massa essa onda de toda semana ter um showzinho gringo nota dez para celebrar aqui, hein? Desta vez o anúncio é do cantor e multiinstrumentista de 23 anos Boy Pablo, que sobe ao palco do Fabrique, clube da Barra Funda, em São Paulo no dia 20 de abril. Quem colou no Popload Festival de 2019 para seu show sabe do que estamos falando. Menino bom.
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* A imagem que ilustra este post é da cantora nipo-americana Mitski.
** Este ranking é formulado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
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