Top 50 da CENA – A semana (ou 30 semanas) é de Rico Dalasam. Criolo chama Ogum no segundão. Jamelão dialoga em terceiro

Top 50 da CENA – A semana (ou 30 semanas) é de Rico Dalasam. Criolo chama Ogum no segundão. Jamelão dialoga em terceiro Foto: divulgação

* Se a semana na gringa deixou difícil escolher um primeiro lugar, as coisas foram bem parecidas por aqui na confecção deste ranking nacional. Bom, como a gente não cansa de afirmar, isto aqui não é disputa: é “só” a nossa vitrine para exaltar este momento belíssimo da música brasileira. Tem rap, tem MPB, tem forró de vaquejada e tem metal também. OK?

1 – Rico Dalasam – “30 Semanas” (Estreia)
Rico Dalasam começa a apresentar seu novo trabalho. “Fim das Tentativas” será o sucessor do espetacular “Dolores Dala Guardião do Alívio”. O primeiro single do novo álbum é uma canção sobre a superação de uma separação dolorida. Afinal, 30 semanas de chororô. Nas palavras de Rico, a música feita em 2018 retoma sua aproximação da canção popular. Nas nossas palavras, parece uma ponte muito interessante que Rico encontrou entre seu material mais recente e sua fase mais pop, ali em 2017, com “Balanga Raba”. Com um detalhe novo que é o refrão, que tem um punch que poderia ser de um pagode estourado em todas as rádios e rodas de samba. Passado apontando para o futuro. Seja na proposta da música, seja na temática da letra. Interessante. E chegou com um vídeo lindíssimo.

2 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (Estreia)
Em “Sobre Viver”, seu quinto disco de inéditas, Criolo faz não só um preciso diagnóstico da situação brasileira, mas também encontra a cura para o momento difícil: amor, educação e arte. Parece pouco e parece simples, mas Criolo confia que cada palavra dessas resolve problemas gigantescos. Primeiro que não é pouco. Essas três chaves são capazes de acabar com tanta desesperança, fome, violência e racismo. Simples não é. Porque o mundão está aí combatendo justamente o amor, a educação e arte. Em alguma medida, parece que a experiência pessoal de Criolo prova um pouco de sua tese. Sua música ao oferecer tudo isso foi ao mundo e seu mundo mudou um tanto. “Ogum Ogum” traz essa fé em uma saudação a Ogum que confia no povo brasileiro essa esperança, aqui contra a intolerância religiosa. É um passo que mudaria tudo. Criolo é profundo.

3 – Thiago Jamelão – “Diálogo sobre Vivência” (Estreia)
Thiago Jamelão é um dos principais parceiros de Emicida em “Amarelo”, álbum que apresentou uma nova perspectiva musical na carreira do rapper. Um tanto dessa parceria de sucesso reaparece agora em algumas canções do primeiro EP solo de Thiago, que ainda dá espaço para que ele se apresente sozinho e com outras junções musicais. Esse bonito encontro da dupla ressoa melhor ainda nesse som que conta um pouco da trajetória de Thiago, que começou na igreja no Centro-Oeste do país, passa por Brasília em bandas de rock e chega até São Paulo, onde encontra com Emicida. Uma música que nasceu em um almoço de dia dos pais.

4 – João Gomes – “Me Adora” (Estreia)
“Tem música que fica marcada no coração”, anuncia João Gomes antes de entregar uma versão daquele que é o maior sucesso da carreira de Pitty, uma das muitas surpresas de seu novo álbum. “Digo ou Não Digo” é o trabalho que aproxima o rei da vaquejada de diversas outras vertentes estouradas da música brasileira, seja o trap, pop ou MPB. Tudo isso sem perder sua essência, que pode ser encontrada em detalhes muito sutis, como os constantes agradecimentos e falas que João faz ao longo do álbum, como se estivessem em um show. Construção, conceito, tudo muito cuidadoso.

5 – Black Pantera – “Estandarte” (com Tuyo) (Estreia)
“Antes que os beats e as batidas cessem, dance!/ Antes que calem sua voz, questione, cante!/ Antes que o amor se acabe, beije, cuide, transe!”. É nessa ideia que chegam os mineiros do Black Pantera, uma das bandas de heavy metal mais responsas do Brasil hoje. Seu novo álbum, “Ascensão”, é uma pancada sonora na ideia certa e no som, que abre um inusitado espaço para a sempre tranquila turma da banda paranaense Tuyo em um disco de metal. E ficou lindo.

6 – Ratos de Porão – “Necropolítica”(Estreia)
E, por falar em metal, o Ratos retoma a produção de inéditas após quase dez anos sem novidades em sua tradicional mistura de punk, harcore e metal que já rendeu mais tretas em tempos mais puristas. Na ideia, bater na ascensão fascista recente que colocou o Brasil nessa dança que canta “Foda-se a vida”. É um pouco do que o Gordo comentou em entrevista aos nossos parças do Scream&Yell: “É o que acontece aqui no Brasil: o governo escolhe quem deve morrer e quem deve viver. Segundo esse camaronês aí, isso é necropolítica. Aquele Witzel (Wilson, governador do Rio de Janeiro) ou no país inteiro. Os ricos vivem, e os pobres morrem. O que aconteceu, realmente, foi um genocídio programado para matar os pobres, os negros, os gordos e os velhos. Isso está explícito. Não sei como as pessoas não percebem isso”.

7 – Elza Soares – “Meu Guri” (1)
Elza Soares se encontrou muitas vezes com “Meu Guri”, canção de Chico Buarque, ao longo de sua carreira. O “match” mais recente foi pouco antes do dia 20 de janeiro. Ela interpretou “Meu Guri” no Teatro Municipal de São Paulo para um DVD ao vivo. Elza não estava sozinha. Ao seu lado, o pianista Fábio Leandro. Entrega intensa em cada nota, em cada olhar dividido pelos dois. Sem ar de despedida. Afinal, seu tempo é agora.

8 – N.I.N.A. – “Anna” (2)
Muito massa ver o sucesso do álbum de estreia da N.I.N.A. Artista do Rio de Janeiro, Cidade Alta, N.I.N.A. chamou atenção pelo singles, por sua pesquisa musical e sua história. Em 2020, ela contou para a “Rolling Stone” um pouco desse processo: “Deixei de ser a Nina que eu sou para virar a Nina acadêmica, que sempre tinha que estar dando o melhor para ser aceita. Eu meio que tinha me perdido em toda aquela fantasia”. Esse reencontro está presente em “Pele”, seu primeiro álbum, onde ela se apropria sem medo do drill, gênero mais atrelado aos caras e à temática da violência. Da faixa “Anna”, seu nome, até “N.I.N.A.”, seu nome artístico, ela abre uma papo sem firula sobre sua história, sexo, rolê e outras “cositas más”. Se os fãs estavam ansiosos pelo lançamento, imagina ela e sua espera bem mais longa: “24 anos para ser eu sem medo”, escreveu no Instagram.

9 – Tim Bernardes – “Nascer, Viver, Morrer” (3)
Tim Bernardes, um terço da banda O Terno, dá o primeiro passo em direção ao seu segundo álbum solo, enquanto se apronta para passar um tempo pelos Estados Unidos em turnê abrindo para o famoso grupo indie Fleet Foxes. Ele vai ser a atração inicial nada mais nada menos que 17 shows da banda americana pela Costa Oeste. Na primeira amostra do novo trabalho, Tim segue com seu jeito bem particular de optar por uma confecção sonora que respeita muito uma certa descompressão. É sua recusa em participar da guerra por mais volume. Interessante que isso dialogue um tanto com a letra, que vai por um rumo mais filosófico sobre a vida.

10 – Saskia – “Quarta Obra” (4)
“Quarta é um martelo nas paredes, é as cinzas do reprocesso e realocação da criatividade. Uma mistura das dimensões, salpicada de ironia, marinada no conforto. Para desentupir todos os desejos afogados, hackear o deboche do grito isolado”. Bem que a gente queria ter essa habilidade para descrever o som da Saskia, mas a belíssima descrição é da própria Saskia, que chega arrebentando no conceitual EP surpresa “Quarta”.

11 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (5)
12 – Otto – “Tinta” (6)
13 – Assucena – “Ela (Citação a Menina Dança)” (7)
14 – Emicida – “Gueto” (8)
15 – Dieguito Reis – “Decolagem” (9)
16 – Amen Jr. – “Mysterio” (10)
17 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Netuno” (14)
18 – Gorduratrans – “Enterro dos Ossos” (15)
19 – Gabriel Ventura – “Nada pra Ensinar, Muito pra Aprender” (16)
20 – AIYE – “Isadora” (17)
21 – Lupe de Lupe – “Brasil Novo” (18)
22 – Holger – “Beaver” (19)
23 – Glue Trip – “Lazy Days” (com Arthur Verocai) (20)
24 – Sérgio Wong – “Filme” (21)
25 – Radio Diaspora – “Ori” (22)
26 – Anitta – “Maria Elegante” (com Afro B) (23)
27 – Devotos – “Periferia Fria” (com Criolo) (24)
28 – UANA – “Vidro Fumê” (25)
29 – Cícero – “Sem Distância” (26)
30 – Karol Conká – “Fuzuê” (28)
31 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (29)
32 – Narcoliricista – “Bem Pertin” (30)
33 – Marina Sena – “Temporal” (31)
34 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (32)
35 – Maglore – “A Vida É uma Aventura” (33)
36 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (34)
37 – Helo Cleaver – “Café com Leite” (35)
38 – Messias – “Avenida Contorno” (36)
39 – Labaq – “Dóidóidói” (37)
40 – Pabllo Vittar e Rina Sawayama – “Follow Me” (38)
41 – Jota.pê – “Preta Rainha” com Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano (39)
42 – Dududa – “Vou Seu” (40)
43 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (41)
44 – Vanguart – “Amor” (42)
45 – HENRI – “Coração de Plástico” (43)
46 – Agnes Nunes – “Não Quero – A COLORS SHOW” (44)
47 – Diogo Strausz – “Deixa a Gira Girar” (45)
48 – Zudizilla – “Oya” (46)
49 – Coruja BC1 – “Auxílio Emergencial do Rap” (47)
50 – Duda Beat – “Dar uma Deitchada” (48)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o rapper-cantor Rico Dalasam, sob foto de Larissa Zaidan.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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Postado por Lúcio Ribeiro   dia 15/05/2022
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