Você deve lembrar. Aconteceu uma vez com “Seven Nation Army”, conhecido hit indie do White Stripes que ganhou aos poucos as arquibancadas da Europa, depois do mundo, e acabou virando hino oficial da FIFA para seus eventos boleiros de escala mundial, tipo a Euro 2016 (de nações europeias) e a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Falamos aqui na Popload, até.
A ponto de a música composta em 2003 em Detroit por uma dupla barulhenta sui-generis (guitarra-bateria) virar uma praga no planeta inteiro sem mesmo as pessoas do mundo do futebol que cantava ela nos estádios e arenas nem saberem de onde vinha.
Hoje, temos uma nova praga musical de história engraçada, agora oficializada pela FIFA, que não para de tocar nos campos, na TV, nas rádios, na internet por causa do Mundial de Clubes que está acontecendo por estes dias nos EUA, com Palmeiras, Fluminense, Botafogo e Flamengo como representantes brasileiros na disputa.
A música como tema de futebol deve ganhar escala ainda maior no ano que vem, quando acontece também nos EUA, mais México e Canadá a Copa do Mundo 2026 de seleções.
Trata-se de “Freed from Desire”, uma música eurodance lascada lançada como single em 1997 pela cantora italiana Gala, na época em que estudava fotografia em Nova York e foi convidada a clicar uma turnê de um DJ europeu nos EUA.
A trajetória de “Freed from Desire”, das paradas para as arquibancadas, é parecida com a de “Seven Nation Army”, do White Stripes. Com algumas nuances.
Enquanto era “só” um hit musical, “Freed from Desire” fez bastante sucesso nos anos 90 e por um período por alcançar o segundo lugar das paradas britânicas quando lançada. E o primeiro em países como Bélgica, França e Espanha. O “Na-na-na-na-na-na-naaa” do refrão foi pegajoso demais para rádios e pistas.
Mas outros hits dance vieram, a Gala não manteve o ritmo de artista de sucesso por tanto tempo e “Freed from Desire”, digamos, passou e caiu no esquecimento.
Até que anos depois, mais precisamente em 2016, um torcedor do time britânico Wigan, da cidade de mesmo nome, que joga hoje a terceira divisão inglesa, ficou emocionado demais quando a equipe ganhou de 1 x 0 do hoje poderosíssimo Manchester City num jogo da Copa da Inglaterra. O gol foi marcado por um tal de Will Grigg.
Esse torcedor, empolgado com a vitória, subiu no Youtube uma versão de “Freed from Desire” com a letra trocada. O nome da versão? “Will Grigg’s on Fire”.
A música do torcedor virou febre, invadiu as arquibancadas e pubs e foi ouvida bastante entre os ingleses na Euro 2016. Fez até a música original, a da Gala, voltar às paradas. Um duo chamado Blonde, à época, lançou sua versão “séria” de “Freed from Desire” para surfar o hype. Tudo por causa de “Will Grigg’s on Fire”, do torcedor do pequeno Wigan.
O presidente do Wigan à época, como agradecimento à exposição que seu clube teve, deu ao compositor de “Will Grigg’s on Fire” um passe de um ano para o cara acompanhar todos os jogos do time naquela temporada 2016-2017 de graça.
E, como aconteceu com “Seven Nation Army”, em algum ponto a versão fugiu do controle e de repente todas as torcidas da Europa usava seu “Na-na-na-na-na-na-naaa” de “Freed from Desire” envelopada de “Will Grigg’s on Fire”.
Caiu no gosto popular, ferrou. Muitos entoam a música nas arquibancadas e não sabem de onde vem o “Na-na-na-na-na-na-naaa” usado na empolgação das grandes conquistas futebolísticas, muito menos quem foi e quem é Will Grigg, que hoje, aos 33 anos, joga no Chesterfield, time da quarta divisão da Inglaterra.
No ano passado, pouco antes de se tornar a música boleira oficial do mundo pela FIFA, “Freed from Desire” ganhou um remix do conhecido Diplo e voltou a frequentar as pistas de dança.
E agora está neste primeiro Supermundial de Clubes. E, no ano que vem, estará ainda mais forte nas nossas orelhas como trilha sonora da Copa do Mundo.