Popload Entrevista: Wolf Alice. Falamos com Theo e Joel sobre o disco número 1 das paradas britânicas

Banda boa mas que sempre foi intermediária entre os muitos movimentos musicais ingleses desde que surgiu, no começo dos 2010, o quarteto Wolf Alice vive talvez seu melhor momento de protagonista de alguma coisa.

Não só seu mais recente disco, “The Clearing”, ganhou muitos elogios desde que saiu, há uns dez dias, como o álbum bateu no primeiro lugar da disputada parada britânica, empurrando para baixo álbuns importantes como os recém-lançados e badalados trabalhos de Laufey, Deftones e a coletânea “Time Flies”, de um tal de Oasis.

A gente já falou bastante de “The Clearing” aqui e aqui, mas chegou a hora de trazer um papo que o poploader Vinicius Dota fez dia destes com dois Wolf Alices, o baixista e o baixista Theo Ellis e o baterista Joel Amey.

Vamos para a conversa!

Ao longo da última década, a Wolf Alice foi se consolidando quietinha como uma das bandas independentes mais relevantes do Reino Unido, ao conciliar a energia do indie rock com a presença em palcos cada vez mais marcante. Com três álbuns elogiados pela crítica, um Mercury Prize e uma base de fãs em expansão, o quarteto britânico chegou agora com “The Clearing”, seu quarto trabalho de estúdio. E dá mais uma curva inesperada em sua trajetória: adiciona uma delicadeza setentista a sua densidade sonora rock’n’roll e prova que é possível amadurecer sem perder o frescor que a torna fascinante desde quando os conhecemos.

Para falar sobre esse novo momento, a Popload conversou antes do lançamento, no dia 22, com Joel Amey (bateria e vocais) e Theo Ellis (baixo), que dividiram bastidores do processo criativo, refletiram sobre a evolução da banda, a mentoria do premiado produtor Greg Kurstin e adiantaram o que os fãs podem esperar da nova fase da banda.

Popload – Durante o processo de criação, imagino que vocês percebam quando uma música carrega o potencial de se tornar um hino atemporal ou, em outros casos, essa dimensão só se revela mais tarde, na forma como os fãs reagem de maneira surpreendente a uma em particular. Em “The Clearing”, existe alguma faixa que já desperte em vocês esse entusiasmo?
Joel Amey – Sim… Olha, é difícil escolher neste momento porque eu estou muito empolgado para que todo mundo ouça tudo, e a resposta tem sido bem bonita. Mas tem uma música chamada “Leaning Against the Wall” que eu lembro muito bem quando a Ellie [Rowsell, a vocalista] me mandou a demo. Foi mais para o fim, quando a gente já tinha algumas músicas. E ela acabou sendo meio uma curva porque a demo trazia coisas que a gente tinha comentado de talvez não fazer. E eu ouvi e pensei: pode deixar assim, não precisa mexer… Aquilo me pegou de um jeito, e eu criei muita expectativa para quando a gente fosse gravar o álbum. E na hora realmente lapidamos ela, a deixamos mais elaborada. E, ainda assim, quando chega no refrão e Ellie canta aquela letra, continua mexendo muito comigo. Então, sim, “Leaning Against the Wall” seria a minha resposta para essa sua pergunta.

Popload – Legal! E também imagino que haja uma faixa no álbum que vocês não podem esperar para tocar ao vivo? Eu sei que vocês já tocaram “Bloom Baby Bloom” e “The Sofa” no último Glastonbury…
Theo Ellis – Tô animado para tocar White Horses ao vivo, que a gente lançou faz uma semana. Uma semana? Eu já nem tenho mais noção do tempo [risos]. Obviamente, Joel nos vocais tem um papel importante nessa faixa, mas ela tem esse ritmo que todos nós da banda conseguimos nos encaixar quando estamos tocando. É tão natural que parece que já ensaiamos muitas e muitas vezes.

Popload – Eu estava na primeira sessão do “listening” do “The Clearing” aqui em São Paulo, e quando eu ouvi a faixa “Just Two Girls” minha mente foi levada imediatamente para “Bros” (faixa do album “My Love Is Cool”)… Digo, é como se as garotas tivessem crescido!
Joel – Não, não, não. O quê? “Como se as garotas tivessem crescido?!” Uau, isso é tão interessante!
Theo – Eu estava dizendo isso…
Joel – Eu sinto que talvez seja essa a narrativa…

[“Bros”, do álbum “My Love Is Cool”, é um tributo à amizade genuína, marcado por uma nostalgia suave da infância e da adolescência. Ellie Rowsell compôs a faixa inspirada em sua melhor amiga de juventude, criando um retrato sonhador de duas garotas explorando o mundo lado a lado.]

Popload – Ou talvez seja só a minha imaginação fazer essa conexão [risos], mas vocês sentem que algumas de suas músicas, de todos os quatro álbuns, são como parentes uma das outras, coexistem no mesmo universo?
Joel – Eu adorei essa pergunta. Isso é tão legal, sabe por quê? Porque quando a gente tá trabalhando fora dos palcos, como o Theo estava dizendo, nós ficamos numa espécie de “montando um show ao vivo”…
Theo – Agora a gente já tem quatro álbuns e um EP, então precisa equilibrar, né? Não dá para tocar só as coisas novas, tem que trazer também músicas do “Blue Weekend”, do “Visions of a Life”, e ver como tudo conversa entre si. E a gente foi encontrando esses pequenos grupos, essas pequenas famílias, tipo “White Horses”, “Smile” e “Formidable Cool” que meio que se juntaram e a gente fez um bloco inteiro com elas. E, engraçado que estávamos criando algo meio “Yuck Foo”, “Play The Greatest Hits” e “Silk”, em uma nova música do novo álbum chamada “Play It Out”. E isso acaba funcionando.

Essas linhas de conexão entre os discos anteriores estão ficando mais evidentes para nós, quando tocamos ao vivo. Eu sempre gostei da ideia de músicas-irmãs, tipo “sister songs” e “brother songs”, quando você pensa na tracklist de um álbum e percebe que algumas faixas conversam entre si, começam e terminam se respondendo. Eu gosto muito disso, e achei muito legal o que você falou sobre “Bros”, porque dentro da banda também rolavam essas imagens e a gente pensava: “É, isso é bem legal mesmo”.

Popload – “Boom Baby Bloom”, “The Sofa” e “White Horses”: esses três singles destacam logo de cara climas bem diferentes um dos outros – esse contraste foi intencional para mostrar a variedade do que estava por vir, ou melhor, como voces decidiram quais músicas deveriam apresentar “The Clearing” pela primeira vez ao mundo?
Theo – Eu acho que elas foram caso a caso, mas faz sentido intencionalmente você trabalhar numa paleta ir soltando o que quer mostrar. Às vezes a gente faz a versão mais extrema possível e confia que, quando a pessoa ouvir o álbum inteiro, a própria montanha-russa de emoções vai encontrar o ponto de equilíbrio. Mas dessa vez eu acho que quem puxou foi “Bloom Baby Bloom”, porque ela já vinha muito focada na performance — até pelo ritmo e pela força imediata do refrão, sabe? E acho que, quando a gente ouviu a demo, rolou essa sensação de que o refrão era instantâneo, batia de cara. Não é algo que você precise pensar muito, sabe? Acho que depois de ficar um tempo fora, voltar já com aquele groove e aquele refrão, mostrando um pouco da performance de cada um fazendo o seu, deixou tudo muito natural, divertido e empolgante para a banda. E isso abriu espaço para outras coisas também, tipo lançar um single bem animado, gravar um vídeo… E esse vídeo acabou sendo uma das minhas coisas favoritas que a gente já fez. Então foi bem massa.

Com “The Sofa” foi meio inesperado, para falar a real. Acho que quem já tinha ouvido o álbum dentro da equipe e da família começou a se conectar mais com essa música. Não foi nada planejado, sabe? Ela meio que se destacou sozinha. Eu lembro de estar no carro com a minha irmã e, assim que tocou, ela já falou: “É essa, funciona direitinho’” E eu acho que foi uma boa quebra de ritmo em relação ao que vinha antes. Na letra, sem querer desmerecer a Ellie que não está aqui, mas é muito sagaz e ao mesmo tempo engraçada de um jeito leve. Então acabou sendo bem especial.

Então, White Horses é aquela coisa… Do nada você ouve nosso baterista cantando, numa faixa nossa, e já dá uma quebrada no ritmo. E ainda remete a uma fase lá do primeiro disco, com “Swallowtail”, que é uma música incrível. É legal, é divertido, uma ótima canção. A gente ficou empolgado de soltar isso antes do álbum, como uma pista do que vinha aí. Sei lá, já tô meio viajando aqui, mas tudo bem.”
Joel – Você não está falando m—–, não [risos].

Popload – Ainda sobre impressões… Eu sempre me divirto lendo os comentários do YouTube. Eu vi que “The Sofa” está tendo vários bons, parece que as pessoas realmente se apaixonaram pela faixa. Ela é muito boa mesmo.
Joel – Que bom, eu vi alguns que disseram o oposto [risos].

Popload – O Greg Kurstin [produtor de “The Clearing”] é conhecido por equilibrar o lado pop com um trabalho de produção superdetalhado. O que especificamente ele trouxe para “The Clearing” que surpreendeu ou desafiou vocês?
Joel – Bom, o Greg é conhecido pelo pop, e eu já conhecia ele por alguns trabalhos nesse estilo, mas também por coisas de rock. E também sabia que ele é um pianista virtuoso, que tinha escrito a maior música do mundo com a Adele. O que me surpreendeu mesmo foi a atitude dele e a forma como ele se porta no estúdio. Ele me fez sentir muito, muito tranquilo, como se eu pudesse fazer qualquer coisa. E não daquele jeito forçado de “Vai lá, você consegue”. Foi tipo: “Entra no estúdio, hoje a gente vai trabalhar, se divertir”. Ele é súper de boa, passa confiança. E é com pessoas assim que você faz o seu melhor trabalho.

Além do fato de que ele pode tocar qualquer coisa, fazer qualquer coisa… Ele é uma pessoa muito especial. O trabalho principal dele, o motivo pelo qual você o contrata, pelo qual a gente chama um produtor, é extrair o melhor de nós quatro. Não é para ele fazer tudo por você ou tocar tudo — claro, tem um pouco disso também. Mas, no fim das contas, ele está fazendo um álbum do Wolf Alice. Então ele precisa tirar os melhores vocais da Ellie, a melhor bateria do Joel, as melhores guitarras e o baixo do Theo. E é isso que ele faz: ele é uma força motriz dentro do Wolf Alice. Eu não sei se fiquei exatamente surpreso com isso, mas fiquei surpreso com o quão pouco ego ele tem e o quão incrível ele é. Porque, sabe, nem todo mundo que chega ao nível de sucesso dele continua assim. Ele foi supercarismático e trouxe tudo o que precisávamos para o álbum. Isso é muito importante quando você está a milhares de quilômetros de casa, com pessoas estranhas, tentando criar algo que você sabe que vai durar para sempre, algo pelo qual você se importa mais do que tudo, enquanto todos que você ama estão longe. Se a energia não for a certa, pode ser bem horrível. E o Greg foi incrível, ele conduziu o barco e ajudou a gente a criar o disco da melhor forma possível.”

Popload – Bem, agora esperamos escutar o novo disco no Brasil, ao vivo!
Theo – Sim, nos vemos no Brasil!

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Postado por Lúcio Ribeiro   dia 01/09/2025
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