Falamos bem da Taylor? Falamos! Ou quase. Tentamos falar o que ainda não foi dito, ou seja, a tarefa mais difícil de todas. Mas o lançamento da loirinha é só uma das coisas legais da semana: o Just Mustard desafia a pista de dança, a Lianne La Havas desafia o silêncio e o Gorillaz desafia os limites entre vida e morte. Simples assim. É a música pop, né?
A gente ama muito os irlandeses do Just Mustard e seu modo irlandês de pensar. No aquecimento para o terceiro álbum de sua história, o quinteto soltou mais uma faixa peculiar. A vocalista Katie Bell descreve “ENDLESS DEATHLESS” como uma letra onde se imaginou em uma pista de dança e até que temos uma música dançante dessas barulhentas. São camadas e camadas de sujeira e noise, mas lá no fundo a bateria chama a pistinha para balançar – uma pistinha darkzeira, mas uma pistinha, oras. “WE WERE JUST HERE”, o álbum, chega ainda neste mês.
Tudo já foi falado sobre o novo álbum da Taylor Swift e o disco mal tem uma semana de vida. O que podemos acrescentar? Olha, nossa fase favorita da loirinha já tem muito tempo (a sequência “Red”/”1989”, sua segura virada para um pop espertíssimo e adulto após sua era country). Sendo assim, em um disco de pop tão basiquinho, os melhores momentos são onde Taylor revisita sua sonoridade de dez anos atrás, tipo em “Opalite”, um rockzinho feliz e esperto em ironizar justamente seu passado (“Eu tinha o péssimo hábito/ De sentir falta dos amores passados”). É o tipo de letra capaz de se encaixar em milhões de vidas, a maior habilidade dela como compositora. Bem mais legal do que puxar uma briga meio moralista e chatérrima com a Charli XCX – embora a tal provocação, situada em “Actually Romantic”, esteja na lista de músicas legais… Acontece.
Qual o caminho imaginado para uma compositora dona de um vozeirão? Em tese, ir ficando cada vez mais produzida, mais pop, mais e mais. Lianne La Havas diz um sonoro “não” para a tendência dominante. “Disarray”, sua primeira inédita em cinco anos, é das suas obras mais minimalistas. Uma canção quietinha, gravada no esquema apenas voz e guitarra ao vivo, captando as imperfeições do toque e da voz. Em alguns momentos, a harmonia é tão dissonante que ficamos na dúvida: é erro ou proposital? Não importa. É real. Ou como escreveu a própria Lianne: “A música soou muito íntima, quase como um segredo só para mim”.
Sempre atento ao que rola no mundo todo, Damon Albarn chamou o argentino Trueno para versar em “The Manifesto”, faixa com uma pegada meio autoconhecimento e meio reflexão sobre a vida no geral em seu antes e depois. “No final, o que importa é a tentativa. Apenas minhas façanhas, minha virtude e meus sentimentos me acompanhar”, rima o argentino, que versa, faz o refrão e deixa só uma espécie de ponte na voz de Albarn. Participa do som de forma póstuma o rapper Proof, já que Albarn achou uma pequena sobra dele das sessões do épico “Demon Days” (2005). O novo álbum do Gorillaz está previsto para o ano que vem. Está logo aí.
Lá em abril, a gente alertou por aqui que a inglesa Rachel Chinouriri era um fenômeno no Tik Tok e tinha uma sacada de colocar o rock para as novas gerações de uma maneira semelhante à obtida por Olivia Rodrigo. Nosso alerta terminava com a previsão de que logo os pais estariam levando os filhos para ver ela por aqui. Bom, não sabemos se a turma que colou no Cine Joia para ver a diva precisou estar acompanhada dos pais, mas sabemos da curtição que foi com Rachel se esbaldando de guaraná e de Zeca Pagodinho. Mais detalhes na resenha do Vini Dota.
Por falar em apostas antigas nossas, fomos sacar a nova da Joyce Cisse, aka Flowerovlove, dica dada lá em 2022, quando ela tinha 18 anos. A inglesa espertíssima vem quente no papo e no som nesta “I’m Your First”, de versos como “Sou gostosa para caralho/ não poderia ser mais óbvio/ você não acredita que eu exista”. É o som dos seus 20 aninhos e um hit para cantar nos shows de abertura que ela anda fazendo para as Haim. Agora sim estamos falando de música provocante e sexy.
Ouvir um pouquinho do “Red” para repensar o disco da Taylor deixou a gente vendo “Red” em tudo que é lugar, tipo neste som da Mercer Henderson, jovem compositora de São Francisco e superamiga da Flowerovlove. Daí que a descobrimos. “Different, Worse Versions” é o rockzinho quase country cheio de ganchos perfeitos e a letra sobre superar um término. Não falamos que era super Taylor?
Hoje em dia rola falar que algo é improvável em termos de qualquer coisa? Natural a colaboração entre o produtor de música eletrônica Fred Again.. e a banda Amyl and the Sniffers. Mas para quem esperar uma junção doidaraça de eletrônico e punk vai ter que aguardar mais um pouco. A faixa, na real, é um remix de Fred para “Big Dreams”, lançada pela banda australiana em “Cartoon Darkness”, um som relativamente mais calminho no repertório deles. Nas mãos de Fred, a coisa fica ainda mais suave e viajante.
“Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy” marca ao mesmo tempo um momento de muito sucesso de Elton John e o começo de sua derrocada. Seria seu último trabalho em anos com sua banda de sempre (Davey Johnstone, Dee Murray e Nigel Olsson) e não muito depois ele romperia com Bernie Taupin, seu letrista e um irmão espiritual. A celebração dos 50 anos desse clássico virá em forma de edição deluxe com algumas poucas novidades, muitas delas são versões ao vivo registradas na celebração dos 30 anos do álbum. Ok. Mas essa versão demo da pouco lembrada “We All Fall in Love Sometimes” é uma joia.
Quando Sabrina Teitelbaum, aka Blondshell, lançou “If You Asked for a Picture”, prometia ser um álbum barulhento. Da nossa parte, achamos um belo disco voltado na verdade para um rock mais tranquilo, até de inspiração country/folk. Por isso faz todo sentido esta versão acústica para a engraçada “Arms”, onde ela avisa para o carinha da vez que não vai ser a mãe de ninguém. A faixa estará em uma espécie de continuação do álbum, “Another Picture”, onde estarão versões alternativas, ao vivo e até faixas interpretadas por outros artistas, como as queridas do Folk Bitch Trio.
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* Na vinheta do Top 10, o grupo irlandês Just Mustard.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.