Top 10 Gringo – As Haim pedem atenção. E damos, claro. Lorde vem na martelada. E a Caroline Polachek joga o game

A semana é das minas. Dos muitos temas levantados nas canções, muitos desabafos sobre amor em seus diversos momentos. Começo/fim de relacionamento, desilusões, saudade. Nem sempre a conversa é amor romântico. A Lorde, por exemplo, parece apaixonada por si mesma. Não de maneira ególatra, veja bem. É mais na perspectiva de se redescobrir, de voltar a se sentir bem com quem se é depois de uma fase tensa. Quem nunca, né? Mas deixamos espaços para os hômi também. No caso, roqueiros encarando crises de meia-idade. Tudo tem seu tempo. 

Sabe aquele verso da Pitty? “Eu estava aqui o tempo todo só você não viu”. É comum em um relacionamento um dos lados só sacar que estava diante de uma pessoa maravilhosa depois de tudo acabado. Dá-lhe dor de cabeça com ex. Ainda bem que Danielle Haim está pronta. Porque o homem que fez pouco dela vai sofrer com “I Quit”. O espertíssimo novo álbum das Haim, focado em relacionamentos e na recente solteirice da irmã Danielle, abre com um “Posso ter sua atenção, por favor? / Pela última vez antes de eu ir”. É a deixa para dizer tudo que o ex-controlador e machista precisa ouvir. “Gone” começa aparentemente como homenagem discreta ao George Michael, mas acaba em citação direta ao hino “Freedom! ‘90”. Relacionamentos não precisam ser uma prisão. Liberdade. Ao transformarem algumas mentiras em verdades aqui, rapaz, vai doer nos machinhos tanta ideia, especialmente nos que descobrem quem eram as mulheres de sua vida depois de tanto mal fazer. No caso das Haim, as meninas estão bem agora. Nesse processo, ergueram um novo lugar para os álbuns de fim de relacionamento. Sai o canto choroso, tão comum nesses momentos, e entra o canto de força, energizante. Se não era amor, era cilada. Escape dessa sem culpa, sem querer ter razão (“Down to Be Wrong”). Caso encerrado e confiança nos novos amores. Em todas as suas formas e sons. Que começo de álbum! 

Estamos pertinho do novo álbum da Lorde. Nesta sexta-feira chega “Virgin”. “Hammer”, esta faixa escolhida, é a última prévia e segue na toada de avisar que teremos Lorde falando por aqui de amor, corpo e reconexão – ou ressurreição. Ela também vem de um fim de um longo relacionamento, adicione aí o fim de uma juventude vívida aos olhos do público e imagina o tamanho da treta. Lorde tem só 28 anos, mas é conhecida mundialmente há pelo menos dez ou um pouco mais que isso. Apelando para outro verso brasileiro, sabe quando o Renato Russo manda “Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo”? A neozelandesa chega com algo parecido aqui: “Estou pronta pra sentir que não tenho as respostas”. Ela cresceu, viu que o sonho de sua vida não era um sonho dela e foi preciso fugir – igual a escapar de um relacionamento problemático. “Quando você está segurando o martelo/ Tudo parece um prego”, é o principal verso de “Hammer”. Marreta, Lorde!

Precisamos agora mesmo de um Playstation 5. É a vontade de jogar “Death Stranding 2: On The Beach”, o novo game do mestrão Hideo Kojima, e ouvir na trilha uma inédita da Caroline Polachek. Inédita naquelas, a faixa tinha sido dispensada do álbum “Pang” por não ornar com o conjunto. Caroline classificou a música como “muito malvada”, uma alienígena no repertório. Aí calhou o Kojima começar a conversar com ela sobre uma eventual colaboração e ela resgatou a música dos seus arquivos. Ele curtiu, era exatamente o som que precisava e pronto. Sorte a nossa. Caroline surge arrepiante aqui, casando perfeitamente com o tom sombrio e reflexivo do game. 

A coletânea “Joni’s Jazz” vai passar a limpo os momentos onde o grande nome do folk americano se relacionou com o jazz. No material, há raridades entre outtakes e demos, como o primeiro single, “Be Cool”, cuja versão original faz parte do clássico álbum de 1982, “Wild Things Run Fast”. Dedicado a Wayne Shorter, a coleta terá encontros de Joni com nomes tipo Jaco Pastorius, Herbie Hancock e Charles Mingus. Fraco, né? 

Começamos a seguir a mexicana Silvana Estrada depois de vê-la de rolê com os nossos Tim Bernardes e Rodrigo Amarante quando tocaram na edição mexicana do Pitchfork Music Festival. Ela, superquerida, fez até vídeo comentando os discos dos novos amigos. Silvana define seu novo single como uma canção sobre “o momento em que você se dá conta que uma pessoa que você quer tanto não te quer de volta”. Poderia estar no disco das HAIM esta aqui. 

Será que já é efeito do Brasil na cabeça de Laufey? O novo single da atraçãozaça do último Popload Festival, “Lover Girl”, é pura bossa nova – e em tons mais brasileiros do que a releitura dos EUA. É dar play e ir direto para 1959 na Rua Nascimento Silva e coisa e tal. É tão brasileira a onda aqui que o inglês soa até meio português umas horas. Cabe uma versão, hein. “A Matter of Time”, com a promessa de ser o disco mais denso da carreira de Laufey, chega em agosto. 

Sem dar sinal de que vem mais por aí, o Animal Collective lança um single duplo em vinil com a inédita “Love on the Big Screen” e o lado B “Buddies on the Blackboard”. Engraçado só que nestes dias no Instagram o Deakin, um dos integrantes da banda, postou uma foto sua com uma cabra. E daí? Daí que esse som novo deles meio que caberia num “Pet Sounds” alternativo. Ok. Deixa quieto. Forçamos. 

Não estranhe se a britânica Lola Young fizer um sleeper hit de novo. “Not Like That Anymore”, single de seu próximo álbum, “I’m Only Fking Myself”, tem todo o arzinho de que vai tocar muito no rádio ainda com a vibe “Quem canta essa?” que cercou o hit “Messy”. Tem artista que anda na frente das canções e artistas que são empurrados pelas canções – o segundo tipo costuma durar mais. Lola Young talvez tenha essa sorte mesmo ainda sem ser um rosto superconhecido. O outro single já lançado, “One Thing”, também é 10, super Lily Allen. O disco cheio sai em setembro.

O Muse divide opiniões igual U2 e Coldplay. Tem quem ama demais e quem odeia demais. Acontece com bandas de rock descoladinhas que começam a tocar em arenas. Fica uncool. “Unravelling”, novidade do trio formado por Matt Bellamy, Dominic Howard e Chris Wolstenholme, parece retomar os tempos mais básicos e queridos da banda, mas sempre com o exagero meio sinfônico heavy metal marca deles. Humm…

Por falar em bandas que atravessaram uma crise de identidade e popularidade, o Black Keys segue tentando uma recuperação de seu breve grande tempo no indie, para o aquecimento de seu próximo álbum, “No Rain, No Flowers”, que sai dentro de uns 40 dias. Esta “Man on a Mission” até mostra um retorno ao básico, para aquela sonoridade que fez a dupla ficar conhecida nos primeiros álbuns. Dá tempo ainda?


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* Na vinheta do Top 10, o trio americano Haim.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix

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Terreno Estranho – horizontal fixo Mark Lanegan