Top 10 Gringo – Brittany Howard princeando o ranking. J Mascis chega logo atrás (mesmo). The Paranoid Style completa bem o pódio da semana

Liga o alerta de “disco do ano” aí. Estamos muito empolgados com os singles recentes da Brittany Howard que antecipam seu segundo álbum solo, “What Now”, previsto para ser lançado nesta sexta-feira. E por isso o primeiro lugar é todinho dela. Mas também sobrou espaço para falarmos do que já ouvimos nesta semana, tipo o novo do experiente J. Mascis e, entre outras coisas, da estreia em álbum das meninas do Last Dinner Party, sensação inglesa do momento. Tão para todas as gerações que até encontramos um Morrissey perfeito para os zoomers. E 2024 já tem quase 50 músicas essenciais na nossa playlist matadora.

Brittany Howard sabe quebrar expectativas. A guinada que deu em sua carreira solo e que já tinha dado em sua antiga banda, o Alabama Shakes, sempre foram surpreendentes – sem medo de tomar risco, de desagradar os fãs que já tinham pirado em um tipo de som. “Power to Undo” carrega internamente essa energia. Quando a música explode no refrão, a guitarra vai por outro caminho e troca o peso por um toque cheio de swing que lembra Prince – outro que amava não seguir o que esperavam dele, um clubinho para poucos. Achou exagerado a gente pensar em Prince? Se liga no solo de guitarra da música: é brilhante. E cai perfeitamente no single anterior, “Prove It to You”, que era mais New Order das ideias. Aliás, cai perfeitamente com tudo adiantado até aqui: “What Now” e “Red Flag”. Vem discão aí!

J Mascis, conhecido pelo graaaande Dinosaur Jr., usou seus trabalhos solos como escape para trabalhar sozinho de fato, gravando sempre quase todos os instrumentos, e também exibindo seu lado mais suave, um lado acústico. A solidão continua em seu quinto trabalho solo, “What Do We Do Now”, mas a tradicional porrada de sua guitarra se faz presente – só ouvir o solo de “Right Behind You”. É como uma resposta para a pergunta que está no título do álbum. O que fazer agora? Tocar guitarra o mais ruidosamente possível, sem abandonar a melodia. 

Enquanto você trabalhou o dia inteiro alguém fez o dinheiro da sua vida toda em uma negociata. Os donos do mundo operam assim e amam o som que as classes sociais fazem. É essa turma que é o alvo de Elizabeth Nelson na garageira de sua banda, The Paranoid Style. Elizabeth trabalhou como crítica no “Pitchfork” e quebra a escrita de que todo crítico é um músico frustrado.

Se você achou que o rock dos anos 80 no Brasil se aproveitou dos Smiths, espere até escutar Brigitte Calls Me Baby. A banda de Chicago impressiona pela semelhança com os ingleses – até visualmente, com topete atualizado e tudo. Um Moz para Gen Z – com o plus de não vir com papo reacionário terrível e shows cancelados no Brasil. 

Claire Rousay estampa em sua bio das redes sociais o termo “emo ambient”. Seria uma descrição curiosa para sua música e estranhamente precisa. Considere que ela fez uma peça experimental de 20 minutos sobre um término seu, misturando música ambiente e fala que parecem saídas da voz do Google Tradutor. Outra prova do experimentalismo de Claire? Só notar o fim abrupto desta “Head”, que é o single de seu próximo disco, “Sentiment”, disco com nomes estilizados em minúsculas em que ela afirma buscar novas direções, fruto de um trabalho intenso de dezenas de versões para cada canção que foram mostradas só a amigos e familiares. Um nome para se acompanhar. 

Sensação do momento, o grupo The Last Dinner Party, formado por Abigail Morris, Lizzie Mayland, Emily Roberts, Georgia Davies e Aurora Nishevci, até que convence em sua estreia. “Prelude to Ecstasy”, com produção de James Ford, anda na linha fina entre um pop luxuoso e um rock mais ambicioso e teatral, uma fórmula complicada e que já entortou muito Arctic Monkeys por aí. Com elas, tudo soa no lugar. “Caesar on a TV Screen” funciona bem como resumo do potencial da banda. Se gostar desta, vai ser fácil curtir o resto do disco.

“Nossa, mas vocês escutam só essa barulheira aí?”, você pode se perguntar. Que nada. A gente de vez em quando abre um destiladinho, relaxa na cadeira, desliga o celular e escuta um sofisticadíssimo jazz enquanto o sol baixa pela cidade. Nessas horas, o trio do pianista Vijar Iver, formado com a baixista Linda May Oh e o baterista Tshawn Sorey, caí como uma luva. Mas falando sério: o trio básico consegue no álbum “Compassion” honrar o nome do disco, tamanha a entrega das músicas, que passeiam de melodias simples e cativantes para construções musicais que vão ficando intrincadas. Mas não tem enigma. O resultado é belo e beleza não tem segredo.

No primeiro Top 10 do ano falamos por aqui que a Billie Eilish ia levar um Grammy por conta de “What I Was Made For”. Erramos! Ela levou foi é dois Grammys para casa. Quem lê o Top Dez sabe do mundo antes, está dito. Fora que é sempre um pretexto bom para trazer a Billie de volta para o nosso ranking. 

Direto a gente fala aqui, com certa ansiedade, que tal artista voltou de um longo silêncio. Billy Joel estabeleceu um novo paradigma para longos intervalos. Foram 17 anos sem música inédita. E “Turn the Lights Back on” justifica a quebra do hiato ao entregar uma balada fortíssima – que aborda justamente o fato de ele ter ficado tanto tempo sem escrever nada. Billy tinha se aposentado das composições após um longo período de frustração e um problema sério com álcool. Um retorno tardio, como ele canta, mas as luzes estão acesas de novo.

Confirmando uma boa fase, a turma do Bombay Bicycle Club, que lançou um estrelado disco no ano passado, com direito a feats. de Damon Albarn e Chaka Khan, já chega a 2024 com um Epzinho também lotado de participações especiais – uma delas é Lucy Rose, nesta viciante “Willow”, que carrega uma doçura apesar do verso “Happy for them, who do it better than mе”. Em tradução livre, “Feliz por eles, que fazem isso melhor que eu”. Isso o quê? No caso, aproveitar a vida, pelo que a gente entendeu.

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* Na vinheta do Top 50, a cantora americana Brittany Howard.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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