Direto somos acusados de novidadeiros. Como se fossemos incapazes de olhar para o que a turma mais velha faz. Quanta injustiça. Sim, estamos de olhos bem abertos no novo que sempre vem e tudo mais, mas quantos sites por aí vão falar que as melhores músicas da semana são de um senhor com mais de 80 anos e outro com mais de 70? Só aqui.
Tem um artigo superdetalhado na Wikipedia com o registro de todas as sessões de gravações do Bob Dylan. Dia, lugar, horário, número de takes e onde aquela gravação aparece ou não na discografia do mestre. É uma lista que começa em 1959 com gravações caseiras de um jovem Dylan. Mas isso está desatualizado. Em breve, com o lançamento de “Bootleg Series Volume 18: Through the Open Window, 1956-1963”, novo volume da longa série de bootlegs, a história começa em 1956, Dylan com 15 anos (!!!) e um registro seu do blues “Let the Good Times Roll”. O primeiro single da coleção é “Rocks and Gravel (Solid Road)”, gravada nas sessões de “The Freewheelin’ Bob Dylan”, seu álbum de estreia. A faixa acabou não entrando no disco e ficou esquecida. Chegou a sair no raríssimo “The 50th Anniversary Collection: The Copyright Extension Collection, Volume 1”, mas agora é do povo!
A seu modo, David Byrne é um pouco Dylan ao escrever as páginas mais interessantes de sua carreira no agora. Com 73 anos de idade, David chega iluminado ao nono álbum solo. “Who Is The Sky?”. Com sua capa caleidoscópica, o trabalho joga cores em um ano de discos em preto-e-branco. É que seu curiosidade está intacta. Em um papo com a “Rolling Stone” americana, ele admitiu: “Você pensa que na minha idade eu já saberia quem eu sou. Mas não, estamos sempre à procura. (…) Nunca saberemos todas as respostas”. Já ao jornal “New York Times” ele ofereceu outro aspecto da obra: “Li nestes dias que gentileza e empatia são o novo punk. O punk costumava gritar e ser uma barulheira, mas agora a resistência é gentileza e empatia”. Precisa dizer mais? Uma proposta de vida alternativa ao esperado pela extrema direita no mundo está por aqui. A vida pode ser otimista e ótima para todos. Um mundo onde todos possam chegar aos 73 tirando onda como David Byrne tira ao fazer solo de guitarra com a boca em “When We Are Singing”
Quando o Stereolab desembarcar por aqui em novembro, parte do Balaclava Fest 2025, torça para eles trazerem o merchandising completo. No site da querida banda anglo-francesa, é possível comprar de canequinhas e caderninhos até livros de colorir e forminhas de gelo de silicone! Inusitado, não? Ah, seria ótimo se eles trouxessem também seu mais novo sete polegadas em vinil com duas inéditas: “Fed Up with Your Job” e “Constant and Uniform Movement Unknown”.
“Steve”, novo filme da Netflix que chega dia 3 de outubro, é inspirado em “Shy”, livro escrito por Max Porter. O romance traz a perspectiva de um adolescente em fuga de um lar de acolhimento falido. Pelo trailer, o longa traz para a narrativa principal o diretor do reformatório, vívido por Cillian Murphy. A trilha sonora comandada por Geoff Barrow (Portishead) traz Little Simz para descrever a vida atordoada desses adolescentes em “Don’t Leave Too Soon”. Dentro de um loop hipnótico ampliando os sentidos da letra, ela também oferece um ombro amigo: “Não vá embora tão cedo/ Sua dor/ Eu conheço”. Vamos ver se o filme se impõe como um novo “Adolescência”.
E por falar em uma trilha sonora tocada por Geoff Barrow, do Portishead, que tal falar de um FILME escrito por Geoff? É o caso de “Game”, longa estrelado pela dupla do Sleaford Mods, Jason Williamson e Marc Bessant. O trailer saiu nesta semana e, ocasionalmente ou não, o Sleaford aproveitou o timing para lançar uma inédita, “Megaton”. A faixa tem aquela podreira instrumental clássica dos Mods e traz uma letra implorando por união de todos os revoltados com a condição do mundo hoje. Ao ilustrar como genocídio e fotos na academia estão todas reunidas em uma timeline gerando paralisia social, a convocação é por uma união real. “Damos origem a comportamentos que sufocam a solidariedade e causam ondas massivas de alienação hemorrágica, enquanto o mundo silenciosamente desmorona fora das telas”, argumenta Jason. Em um dos versos mais “treta” da canção, eles comentam: ”The emperors new hoes on a record label who just sign all the dregs (let’s face it)”. Algo que pode ser traduzido como “as novas vadias do imperador em uma gravadora que assina com toda a escória (precisamos admitir)”. Uma forma pouco delicada de falar sobre como o capitalismo compra toda a rebeldia a ele para sossegar os irritados. Escapar disso é urgente.
Jeff Tweddy não está sendo literal quando afirma que Lou Reed foi sua babá. Ou quase isso. A metáfora nasceu quando Jeff percebeu algo óbvio: a obra de Lou Reed fez muito por ele, cuidou mesmo daquele garotinho fã de rock and roll. Mas ele deixa a gente na dúvida quando emula perfeitamente o estilo da escrita, a voz e a performance de Lou nesta canção. O cara deve ter sido criado pelo Lou Reed mesmo, só pode.
Enquanto viaja o mundo (em breve no Brasil) com o My Chemical Romance, Gerard Way descolou um tempo para inventar uma banda nova ainda sem muitas explicações a respeito. A parceria é com parte do grupo The Interrupters (Kevin Bivona, Jesse Bivona e Aimee Interrupter). Só ficou de fora o baixista Justin Bivona porque o próprio Gerard assumiu o baixo, instrumento que no MCR fica a cargo do seu irmão. Curioso. Agora imagina a ciumeira que tá tanto o irmão dele quanto o tal Justin por ficarem de fora da brincadeira. Já vimos amizade acabar por menos que isso.
O lado metaleiro do Smashing Pumpkins às vezes fica escondido, mas que ninguém se engane: eles poderiam ser o nosso Van Halen. “Chrome Jets!”, um outtake do mais recente álbum da banda, “Aghori Mhori Mei”, é a prova. Tem tecladinho tosco oitentista, solos exagerados e tudo mais. A versão em vinil do single tem um cover ao vivo de “Zoo Station” do U2. Mais aleatório impossível.
Para melhorar o humor vale sacar o fofo EP do Silverlake Conservatory of Music dedicado ao Red Hot Chili Peppers. O conservatório é uma organização sem fins lucrativos tocada por Flea para educar a criançada. Antes de acusar os jovens de bajuladores, saiba que eles também fizeram EPs dedicados ao Neil Young e aos Pretenders. Criançada espertíssima.
Ao mesmo tempo que surgiu um papo de um álbum de inéditas do Soundgarden a partir de oito músicas que ficaram pelo caminho após o suícidio de Chris Cornell, a filha de Chris se revela uma cantora pop bem legalzinha. Com apenas 21 anos, “Campari” é um dos seus primeiros singles valendo mesmo. No YouTube, você consegue encontrar ela cantando coisas como “Hunger Strike” (Temple of the Dog) na pandemia e até um vídeo dela ainda criança mandando “Redemption Song” (Bob Dylan) com o pai. Fofo.
***
* Na vinheta do Top 10, o lendário músico Mr. Bob Dylan.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.