Top 10 Gringo – Na semana à espera da Rosalía, nosso pódio traz Florence + The Machine, Guided by Voices e Romy. Não tá fraco, não!

Em uma semana de poucos lançamentos e uma ansiedade generalizada pelo próximo da Rosalía, reinou sozinha e com caprichos a nossa Florence + The Machine e sua trilha perfeita para o Halloween. Fora isso, muitos singles e promessas de lançamentos – muitos para o cada vez menos distante 2026.

“Everbody Scream” é o disco mais cru já feito por Florence Welch – menos “Dog Days Are Over” e mais “Kiss with a Fist”. Não é por acaso, ela viu a morte de perto e a tirou para dançar. Ao engravidar em 2023, ela passou por uma complicação séria, a gravidez ectópica, onde o embrião se forma fora do útero. Em entrevista, tentando encontrar uma metáfora para “Everbody Scream”, ela pensou em filme de terror – ou você acha que o disco saiu em um 31 de outubro por acaso? Esse interesse por dark folk coincide com a percepção do quanto era impossível ler sobre nascimento sem ouvir falar em bruxaria, magia e medicina. “Algumas das primeiras pessoas julgadas como bruxas foram parteiras”, explicou Florence ao jornal “The Guardian”. Impossível não pensar em Silvia Federeci e seu “Calibã e a Bruxa”: “A caça às bruxas buscou destruir o controle que as mulheres haviam exercido sobre sua própria função reprodutiva, e preparou o terreno para o desenvolvimento de um regime patriarcal mais opressor”. “With Dance” avança na metáfora descrevendo essa dança dela com a morte ao tentar gerar uma vida, um texto que aborda também sua força física – na vida real, ela voltou a trabalhar pouco dias depois do aborto provado pelas complicações da gravidez. “E suas ameaças e suas promessas, elas não me assustam/ Afinal, não há ninguém mais monstruoso do que eu”, são os versos finais. 

O veterano Guided by Voices é das bandas que justificam existir uma database online (gbvdb.com) organizando sua discografia oficial e paralelas de todos os seus membros atuais e passados, incluindo o sempre presente Robert Pollard. “Thick Rich and Delicious” é o 42° deles, o segundo deste ano, e tem um norte conceitual – refrões, poderosos refrões abrilhantados por sequências perfeitas de acordes. O resultado é absurdo. Segue a delícia barulhenta de sempre, quase lo-fi, quase pop, certamente maravilhoso. “Lucy’s World” tem os timbres power pop que Dave Grohl sonhou em tirar com o Foo Fighters um dia. 

Mais um sinal da volta do XX está no ar. Já faz tempo que circula a notícia de que eles estão em estúdio, fora o anúncio de shows no ano que vem, mas agora Romy também “se despede” do seu álbum solo lançado em 2023, “Mid Air”. O single “Love Who You Love”, descrito como uma “uma canção de amor orgulhosamente queer”, é esse “até logo” que olha com muito carinho a força da comunidade queer em criar laços e ampliar horizontes de quem teve dúvidas no caminho. “Esta canção pretende ser uma carta de amor à visibilidade e ao orgulho. Ninguém pode tirar o amor que você sente – ele é seu”, define Romy. 

Quando o artista toma um pé na bunda rende um disco daqueles, né? E quando dois da mesma banda tomam um pé na bunda? Foi o que rolou com o Whitney. A dupla formada por Max Kakacek e Julien Ehrlich se viram ao mesmo tempo sozinhos de novo. O processo da dor vai estar em “Small Talk”, que sai nesta sexta-feira. É o Whitney de novo cantando baixinho. 

José González conta que de vez em quando quer escrever canções atemporais. Uma primeira leitura desse desejo pode dar a entender que sua vontade é escrever músicas fortes e grandiosas e tudo mais. Pelo contrário, essa atemporalidade pode estar em uma pequenina track, um assobio para passar o tempo. É isso que rola aqui em “Parajito”, singelo single do sueco de ascendência argentina. Outra referência foram as canções para crianças, sua playlist mais forte em casa tendo virado pai recentemente. 

Falando em “parajito”, Andrew Bird parece ser daquelas pessoas obcecadas. Já viu algum artista lançar três encarnações da mesma música? “I Capital” é uma sobra do badalado “The Mysterious Production of Eggs” que aparece pela primeira vez agora na edição comemorativa de 20 anos do disco. Acontece que uma ideia inicial dessa música já tinha saído com o nome de “I” em “Weather Systems” de 2003 e uma versão mais avançada chamada “”Imitosis” surgiu em “Armchair Apocrypha”. A mesma ideia em três momentos diferentes. Vale a experiência de ouvir elas em sequência – nossa predileta é a do “Armchair”…

“The Greatest”, lançado em 2006, talvez seja um dos álbuns mais fortes de toda a carreira da eterna Cat Power. Das letras peito aberto, onde a fragilidade é força, até a sonoridade conectando seu indie rock com o soul norte-americano, tudo ainda soa poderoso 20 anos depois. Ano que vem ela cairá na estrada para celebrar a data redondinha e de quebra soltará um EP com três gravações recentes e inéditas com a banda que a acompanhou na turnê do álbum. São dois covers (“Try Me” do James Brown e “Nothing Compares 2 U” do Prince) e uma releitura de um som dela mesma, “Could We” no arranjo ao vivo. 

Pete Doherty criou o Babyshambles lá atrás entre idas à prisão e demissões do Libertines. Quando foi expulso de vez da banda por conta do abuso com drogas, o Babyshambles virou seu principal e não menos conturbado projeto. Hoje está tudo tão em paz com Pete que ele resolveu retomar o grupo, relançar o álbum de estreia e emplacar uma turnê pelo Reino Unido. De quebra, uma inédita chamada “Dandy Hooligan”, uma homenagem a um amigo da banda especialista em socar nazistas, se entendemos bem. 

Viram que o misterioso Orville Peck, o mascarado cantor country, vai participar do novo filme do “Street Fighters”? Obviamente, ele pegou o papel do também mascarado Vega. Se o longa vai ser uma bomba ou não ainda é difícil saber, mas Orville segue mandando bem na música. Vem aí um EP chamado “Appaloosa” e este single aqui dá indícios de que seu country anda mais roqueiro e pop do que nunca. 

Olha a sumidinha da Weyes Blood por aí. Ela se juntou com a espertíssima e experimental Spellling, aka Chrystia “Tia” Cabral, em um single que parece uma música encontrada nos arquivos perdido da Britney Spears do começo dos anos 2000. É bem diferente da Spelling encontrada neste ano em “Portrait of My Hear”, mas tão boa quanto. 

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* Na vinheta do Top 10, a cantora britânica Florence Welch, da Florence + The Machine.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix

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Postado por Vinicius Felix   dia 06/11/2025
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