Semaninha forte. Arctic Monkeys de volta, acertando a mão. Fica difícil um lugar menos que o primeiro para eles. Britney Spears de volta. E obviamente, ícone que ela é, precisávamos abrir um espaço para ela. Teve ainda a volta do Fidlar e a presença enorme de Muse e DJ Khaled, este último convidando todos os rappers possíveis e sonhados para o seu novo álbum. Nem vamos enrolar muito nesta abertura porque os papos estão longos de tanto que temos para conversar. Chega com a gente, toca a playlist e vamos.
Se você gostou de “Tranquility Base Hotel & Casino” (2018), disco mais recente dos ingleses do Arctic Monkeys, seja bem-vindo a era de “The Car”, o novo álbum da banda que será lançado em outubro. Se você não foi muito com a cara dessa fase mais adulta da banda até aqui, provavelmente não vai delirar com o que vem por aí, pelo que indica o primeiro single da nova empreitada. “There’d Better Be a Mirrorball” dá a pinta que eles vão manter essa atmosfera mais cool, mais suave, e talvez “adulta” mesmo que a turma alcançou na sua fase hoteleira. Enquanto os fãs correm para decifrar a curta letra da canção, que abre margem para interpretações ambíguas, dá para notar que o arranjo chega a ser um pouco mais ousado e acertado do que a maioria das coisas do álbum anterior – como se o quarteto tivesse encontrado uma segurança maior para seguir a explorar essa formação que tira a guitarra e a bateria frenética de suas músicas e insere o teclado e as orquestrações no centro da coisa. Mas quer saber mesmo? Que música linda!
E vem da Austrália um dos melhores discos da semana. Estamos falando de “Pre Pleasure”, terceiro álbum da compositora e guitarrista Julia Jacklin, que começou a cantar inspirada em Britney Spears, que também aparece no ranking de hoje, veja só. Mas o tempo levou ela para o rock e hoje a australiana faz um indie rock muito do sincero em suas letras. Em “Lydia Wears a Cross”, esta que vos toca, por exemplo, Julia mergulha sem medo nas memórias de uma infância muito católica e pensa um pouco sobre suas escolhas. O refrão levanta a questão de uma religiosidade mais aberta: “Eu acreditaria/ Se tudo fosse apenas música e dança”. E, se achar a música muito lenta para o seu gosto, espera a bateria entrar para valer ali com quase três minutos de música. Uau.
Talvez soe inusitado para muita gente que a jovem irmã da Miley Cyrus tenha uma belíssima balada meio country com o vocalista do Death Cab for Cutie. Mas não se deixe levar por qualquer dúvida: Noah tem o talento vocal da irmã e harmoniza bem com Ben Gibbard por aqui. O auge desta música, sobre os momentos finais de relacionamento, é um verso inspirado em uma frase que o pai de Ben costumava dizer para ele: “Cada vez que acordar, você tem que escolher amar alguém”, na nossa tradução livre.
Sabe o que a Noah Cyrus tem em comum com o rapper nigeriano Rema? Um dado que atesta nossa velhice: ambos são nascidos no ano 2000. E provando que essa geração vem forte, é de Rema um dos hits do ano, esta deliciosa “Calm Down”, destaque do seu álbum “Rave & Roses” (2022). Tanto barulho rendeu um remix do som com Selena Gomez, um costume do mercado norte-americano com canções do exterior. Lembra “Despacito” com Justin Bieber? E, por falar em Selena Gomez, você não curte ela como atriz na excelente série “Only Murders in the Building”? Assista. Steve Martin e Martin Short estão voando nesse seriado sobre crimes e podcasts.
Hum, a gente gosta do Muse? A banda inglesa do Matt Bellamy, que já teve seus momentos brilhantes, ficou gigante e um tanto quanto exagerada demais, talvez – exagerar não é o problema em si, a questão é quando não orna, saca? Seu novo álbum, “Will of the People”, mantém essa engrenagem na mesma situação – o momento que parece mais real em uma primeira audição é a desesperada, como o título deixa evidente, “We Are Fucking Fucked” – que traz a banda um tanto mais perto de nós. Basta notar a questão que abre a música: “Estamos tocando juntos?”, diz o baterista Dominic Howard.
Desde que o trio australiano do PNAU descobriu que é preciso só um pouco de criatividade para criar novos clássicos do Elton John brincando com o acervo do cantor em remixes que juntam duas ou mais de suas antigas músicas, a ideia já rendeu um álbum da banda (“Good Morning to the Night”) e uma parceria bem-sucedida com a Dua Lipa em “Cold Heart”. Sem o PNAU, o grande Elton resolveu seguir a fórmula e quer tornar isso uma tradição anual. Buscou o produtor Andrew Watt para misturar “Tiny Dancer”, “The One” e “Don’t Go Breaking My Heart” e convocou Britney Spears para uma participação, a primeira gravação da cantora em anos e sua volta desde que se livrou da tutela do pai, que travou sua carreira por anos. E Britney arrasa. Elton queria mais um hit de verão e vai ter. Vai render remixes e remixes.
Interessante as duas palavras que a turma de Los Angeles do Fidlar escolheu para definir seu som mais recente: atraente e desagradável. É um pouco do clima desta “FSU”, cuja poesia edificante dispensa tradução: “I’ve been waking up/ Getting so fucked up/ Yeah, I’m all fucked up/ Tryna fuck shit up”. A faixa deve fazer parte de um EP previsto para o ano que vem. Lá vem o Fidlar tirar nosso sono, no bom sentido.
As pessoas não parecem ter gostado muito do novo álbum do DJ Khaled. Mesmo reunindo todas as estrelas possíveis do rap de uma só vez (estamos falando de um disco que tem Drake, Ye, Eminem…), você dá uma olhada nessas plataformas que unem notas da crítica e da audiência e o disco vai mal. Mas uma faixa talvez mereça escapar dessa crticaiada toda. “God Did” anda bem avaliada e com justiça. Talvez pela presença sempre incrível do melhor deles, Jay-Z. Que entregou “mais uma vez”, para citar o bordão clássico do Khaled.
Se o disco do DJ Khaled anda sendo detonado pela audiência, o contrário acontece com “The Forever Story”, do JID, rapper de Atlanta. E o disco é uma beleza mesmo. Pensa que para um garoto que não sonhava ser rapper ele arranjou um feat. do mestre Mos Def, que hoje se chama Yasiin Bey. “Ele não queria ser rapper?”, você pode se perguntar. Sim, JID conta que preferia ser jogador de futebol-americano, mas acabou escolhendo a área onde era mais talentoso. Sorte a nossa.
A gente já falou por aqui da acertadíssima parceria do superprodutor Danger Mouse com o Black Thought (a voz da banda The Roots), mas vale repetir mais uma semana: o álbum da dupla, “Cheat Codes”, é um dos grandes discos do ano. Linha “essencial”. A cada audição novos detalhes nos pegam. Repara na quebra de expectativa que Danger Mouse faz nesta faixa quando o vocal começa. Isso para ficar só em um detalhe. Você espera um beat e ele entrega algo completamente diferente – seja na pegada, no timbre e até na cadência da música. Coisas de quem sabe.
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* Na vinheta do Top 10, Alex Turner, do Arctic Monkeys.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
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