And after all, a vida continua. E nada melhor para rebater as guitarras do fim de semana de britpop do que o som da pista. No comando, Fred Again.. e o Sleaford Mods. Para acalmar o recinto, um pouco de Tobias Jesso Jr. e seu piano. De curiosidade, uma banda dos anos 1960 lançando “novidades” nos anos 2020 e uma banda dos anos 2020 que adoraria ser do anos 1960.

O inglês Fred Again.. honra as reticências em seu nome mostrando que sempre tem algo por dizer em sua série de lançamentos “USB”, um “álbum” construindo faixa a faixa indefinidamente. A mais nova é a colaboração com o produtor britânico Sammy Virji e a nigeriana Winny, voz e título da faixa. Além disso, Fred vem compartilhando com os fãs o processo de faixas inéditas no Soundcloud, vale ficar de olho no perfil dele por lá. Como ainda não inventaram um vinil infinito e atualizável, em breve, “USB002” colocará em mídia física uma segunda compilação da série.
Feliz Natal! Ou quase. Lógico que o Sleaford Mods não cantaria algo natalino. O Papai Noel dele é o da dupla é do mal, uma canção sobre “a cultura masculinista, o crescimento da direita e Donald Trump, que é basicamente o ‘Bad Santa’ ”, explica Jason Williamson. Mal-humorado, de mal com o mundo, como tem que ser. É o som ideal para pesar o clima na ceia mais próxima de você e mandar um “E o Bolsonaro, hein?” para aquele parente que não larga o osso.
Semana passada, ficamos de cara com “I Love You”, canção onde Tobias Jesso Jr. juntou seu piano com uma bateria supercomprimida e estranhona. Porém, essa não é a vibe de seu álbum solo “s h i n e”, mais focado mesmo em mostrar sua bela voz em canções simpáticas ao piano. É um disco sem grandes refinamentos na gravação. Escutamos as reverberações na sala de gravação, um arzinho quando tudo está em silêncio. Parece o compositor querendo reencontrar seus tempos mais simples depois de escrever para os gigantes do pop (Adele, Justin Bieber, Shawm Mendes, Pink, Florence and the Machine…). E, sem querer comparar, esse trabalho voz e piano lembra um tiquinho o jeito do Prince de lidar com piano e voz. Sem comparar, ouviu?
Depois do sabonete nojento na capa de um disco do Dry Cleaning, o dominicano Twin Shadow aparece com um sabonete mordido na capa do seu “Cadet”. Apesar da imagem aflitiva, o álbum é uma delícia de se escutar, com o músico na sua longa investigação das possibilidade do synth pop. Colocando sintetizadores e guitarrinhas para conversar, Twin tirou da cachola um disco mais energético e para cima do minimalista “Georgie”, também lançado neste ano. Em uma entrevista, ele resumiu assim: “’Georgie’ é uma experiência cerebral. ‘Cadet’ é uma experiência corporal”.
Nesta semana, sai no Disney+ a reedição da série “Anthology” com um episódio inédito. Até lá dá para ir mergulhando em “Anthology 4” e suas belezinhas inéditas. A nossa nova favorita são os takes iniciais de “Every Little Thing”. Perdida no “cansado” disco “Beatles for Sale”, a música é uma das primeiras tentativas da banda de mudar sua configuração básica. Ringo toca um tímpano na faixa original. Obviamente, nos takes básicos, o tímpano não está lá e sua ausência é sentida. Ouça as duas e compare. Ainda era um experimento básico. E a coisa avançaria nos álbuns seguintes.
O Lemon Twigs, que vimos ao vivo no Popload Festival ano passado, está mais Beach Boys e Beatles do que nunca, nas harmonias, nos gritinhos, no timbre do solo de guitarra. É como se um monte de obcecados tentasse recriar a sala de Abbey Road em 1963/1964. E conseguem! O lado B do single, “Friday (I’m Gonna Love You)”, é tão nostálgico quanto.
Quando Dave “Trugoy the Dove” Jolicoeur, ⅓ do De La Soul, partiu em 2023, os outros dois integrantes do trio foram cobrados pela irmã de Dave: “Se você pararem, o Dave para. Continuem, assim o Dave continua também”. Eles seguiram o pedido e entregaram dois anos depois um respeitável tributo a Dave ao lado de muitos e muitos parceiros (Killer Mike, Nas, Q-Tip, Commom, Slic Rick, entre muitos outros). A mensagem já na introdução lembra o refrão dos Beastie Boy em “Sure Shot”: “And you don’t stop”. Na mesma música, sentenciam: “The magic will always remain three”. De fato, o De La Soul segue.
Taí uma coisa difícil de imaginar antes: o Pulp sacando um cover de Johnny Cash. E mais: um Johnny Cash moderno. “The Man Comes Around”, com sua letra inspirada no livro do Apocalipse, era a inédita que abria o disco de releituras “American IV: The Man Comes Around”, aquele com a cover de “Hurt”. A versão de Jarvis Cocker e companhia tira um pouco do peso da original, embora ela siga sombria. Está na trilha de “The Hack”, série sobre o escândalo de espionagem promovido pelo ex-tablóide dominical britânico “News of the World”.
Agora dois filmes dão conta da história do Pavement. Um é o já conhecido “Pavements”, a mistura insana de documentário, cinebiografia e “mockumentary”. O outro é sobre um personagem menos conhecido pelos leigos, o baterista Gary Young, membro de primeira hora do grupo. “Louder than You Think” traz sua história, incluindo seu problema com o álcool. A faixa, feita para o filme, reúne Gary com os velhos amigos do Pavement, Stephen Malkmus e Scott Kannberg.
“Mas isso não é lançamento…”. Vamos combinar que foi um fim de semana mágico e tudo bem? A homenagem ao Mani, toda a atmosfera do Morumbi cheio, a possibilidade de ter sido mesmo o último show do Oasis em território brasileiros… Os boatos de que continuam a turnê ano que vem são só boatos por enquanto, eles vão “refletir”. E, em todo caso, novas datas devem ser só pelo estrangeiro. Será? I said maybe…
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* Na vinheta do Top 10, o produtor e multiinstrumentista britânico Fred Again..
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.