Top 10 Gringo – Uma grande volta dos que não foram, capitaneada pelo trio Alabama Shakes. Ainda no pódio, os papos retos sonoros de Billy Bragg e Kneecap

Hum, a semana foi tão boa que faltou espaço para algumas estrelas do pop no nosso ranking semanal. Ih, será que vai dar problema? Esperamos que não. Brincadeira à parte, vamos focar em alguns retornos importantes, afinal quem é vivo sempre aparece, não é? Alabama Shakes, Princess Nokia e Blood Orange resolveram dar as caras após longos sumiços. E voltaram brilhando. 

No espaço de três anos, a banda Alabama Shakes foi de um grupo que emulava bem o passado (“Boys & Girls”, 2012) para um nome bastante esperto do seu tempo (“Sound & Color”, 2015). Daí dez anos de relativo silêncio: tocaram ao vivo até 2017, quando Brittany Howard, vocalista do grupo, entrou em carreira solo – onde também fez dois bons álbuns. Agora o trio está de volta com uma nova tour e um novo selo. Para celebrar o momento, um emocionante single inédito. “Another Life” pega o fio da meada deixado em “Sound & Color” e versa sobre todas as vidas que carregamos com nós. “É sobre perceber que o adeus não é realmente um adeus. É mais como um ‘Te vejo mais tarde’. Uma história coletiva que nunca cessa. Estou feliz por termos aberto esta porta, esta realidade de fazermos música juntos novamente.” Real, parece mesmo outra vida desde que o Alabama Shakes ficou em silêncio. É bom ver vocês de novo. Quando vem um disco novo aí?

Com “Hundred Year Hunger”, o politizado e veterano artista britânico Billy Bragg escreveu uma das canções mais importantes do ano. A música denuncia como durante 100 anos a fome foi usada como arma para destruir o povo palestino, primeiro com os ingleses e hoje com o governo de Israel. No refrão, Bragg repete como mantra a palavra “sumud”. Ele explica: “Sumud é uma palavra árabe que se traduz em português como firmeza ou perseverança. É usado pelos palestinos para descrever sua resistência cotidiana e não violenta contra a ocupação israelense”. O single foi lançado como forma de apoio à instituição Global Sumud Flotilla, uma missão internacional que levará ou pelo menos tentará levar ajuda humanitária a Gaza.

Sempre no noticiário musical e policial e pela causa atual da Palestina livre, combo que rendeu o cancelamento de sua turnê pelos EUA, o Kneecap se move musicalmente com mais um single que parece dar cara a um novo projeto. Pelo menos é o que indica o visual de “Sayōnara” ao dialogar com os singles “The Recap” e “H.O.O.D 2025”. Sendo uma música festeira, o vídeo inverte a lógica dos vídeos festeiros ao focar nas “consequências” da noitada no trabalho. Quem já passou por isso (e quem não?) vai se identificar. 

Em uma tiradinha que funciona melhor em inglês que português, Princess Nokia define que a faixa “Blue Velvet” defende os erros e acertos das mulheres (“women’s rights and women’s wrongs”), brincando com o duplo sentido em inglês de “rights”, que também significa “direitos”. E é isso mesmo. Apelando ao mundo de David Lynch (Eu já passei por muita coisa, querida/ Me sinto como a Laura Palmer/ Eu fui uma estatística/ E todos me ignoraram), ela relata as consequências da disparidade de gêneros imposta desde a invenção de Eva. Se sobrar alguma dúvida, assista “Os Últimos Dias de Laura Palmer”. Tá tudo lá. Ou quase tudo. 

Dev Hynes, o homem por trás do Blood Orange, vinha em uma onda de lançamentos entre 2011 e 2018, cada vez mais reconhecido. Mas rolou a pandemia, ele voltou para casa para ajudar sua mãe até a morte dela em 2023 e um longo período de luto veio na sequência. “Essex Honey” é sobre esse intervalo. Blood Orange encontra em 2025 um mundo bem diferente do que deixou para trás. Como se reconectar? Com bonitas canções, como esta leve “Vivid Light”, que une uma piano doce com uma bateria frenética e tudo faz sentindo. Tanto que ele convenceu a autora (e sua amiga) Zadie Smith a cantar na faixa (ela só não é creditada). Chique demais. 

“Temptation Inside Your Heart” é uma faixa divertida do Velvet Underground. Enquanto a música rola, ouvimos Lou Reed, John Cale e Sterling Morrison conversando entre os versos, tirando sarro deles próprios. Uma conversa que ficou gravada enquanto eles esperavam sua vez de gravar alguns backing vocals. A conversa que seria cortada em qualquer mixagem padrão foi mantida por eles. Em seu cover dedicado ao aniversário de Morrison, o juventude sônica Thurston Moore corta a conversinha, deixa a faixa mais roqueira e capricha no solo de guitarra para esticar a música. Caberia ele regravar tudo do Velvet um dia, né? 

O Soulfly é das poucas bandas que pode frequentar nossa lista de lançamentos gringos e brasileiros. Atualmente formada por Max Cavalera, seus filhos Igor Amadeus Cavalera e Zyon Cavalera e o guitarrista Mike De Leon, a banda segue uma multinacional. Cantando em inglês, o novo álbum deles terá título em português, “Chama”. Aproveitando os múltiplos sentidos, Max quer falar tanto de fogo quanto no viés de convocação, de chamar para briga, talvez. Max conta que o álbum é dedicado a Alex Pereira, lutador que usa “Itsári” do Sepultura como trilha de suas entradas. A banda foi atrás dessa energia. “Storm the Gates”, este primeiro single lançado, dá o tom. O disco chega em outubro. 

Com toques dados por ninguém menos que Mike D, dos Beastie Boys, o Hives fez uma de suas músicas mais aceleradas. “O.C.D.O.D.” é um hardcore para traduzir o sofrimento mental de alguém encarando o Transtorno Obsessivo Compulsivo. E consegue fazer isso ao reprisar a angústia em letra e música, algo parecido com a “Tourette” do Nirvana.  

Bandas que vimos nascer lançando edições especiais de 20 anos de algum álbum sempre mexe com a gente. A da vez são as duas décadas de “From Under the Cork Tree”, disco que tornou o Fall Out Boy conhecido com os hits “Dance Dance” e “Sugar, We’re Going Down”. A versão especial trará remixes, versões ao vivo e acústicas. Uma inédita já disponível é a que destacamos aqui, “Start Today”, cover da banda de hardcore Gorilla Biscuits, feita para um game da série Tony Hawk. 

Por falar nos mais velhos, quem aí lembra do Ash? Os indies da velha-guarda conhecem bem o trio irlandês formado por Tim Wheeler, Mark Hamilton e Rick McMurray. Apesar de estarem por aí desde 1992, só agora chegam ao nono álbum: “Ad Astra”, que vai sair em outubro. Misturando um pegada dance com o rock mais básico, “Fun People” chega no refrão aos gritos e com a participação do Blur Graham Coxon. O Mick Jagger caberia fácil nesse feat. Dá para ver os passinhos dele daqui. 

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* Na vinheta do Top 10, o trio americano Alabama Shakes.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix

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Postado por Vinicius Felix   dia 04/09/2025
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