Top 50 da CENA – Dois é bom: Tasha & Tracie, Sophia e Vaqueiro, Dadá e Mundo Vídeo comandam as melhores

Se você teve uma semana mais confusa que final de luta do Popó, estamos aqui com a seleção do creme da música brasileira para oragnizar (ou não) as ideias. Não é playlist com todos os lançamentos possíveis, é a nossa listinha pedindo sua atenção para o que de mais bacana passou por nossos fones nestes últimos sete dias. Veste o smoking e vem para a pista. 

“Sou a perfeição e a minha inimiga é a pressa”, versa Tracie na faixa-título do primeiro álbum dela com sua irmã Tasha, “Serena & Venus”. É o verso de rap perfeito: arrogante, objetivo, sagaz e, a parte mais difícil de todas, verdadeiro. Se tivessem pressa, Tasha & Tracie teriam sumido de cena há dez anos, quando começaram a chamar atenção como blogueiras de moda no “Expensive $hit”, site que elas alimentavam sem ter internet em casa. Ou, talvez, logo depois do excelente EP “Diretoria”, lançado em 2021. Mas elas sabem navegar. Souberam construir sua imagem antes de fazer música e sabem expandir a fama depois de boas músicas lançadas. Colaborações, trampos de publicidade, capa da “Capricho” e a maior agenda de shows do rap nacional deram a base para que o primeiro álbum delas fosse feito no estúdio delas da maneira delas. O perfeccionismo e o cuidado aparecem antes do play: são 21 faixas em um álbum conceitual sobre a vivência de uma mulher no sistema prisional, da ascensão à queda. Uma história muito inspirada na história pessoal das meninas – a mãe delas esteve um tempo presa. Como a comunicação com a mãe se dava por meio de cartas, são elas que guiam parte da lírica até a estética da capa. As cartas que as irmãs queimaram de tanta tristeza pela barra da situação se tornam seu veículo, seja para passar a visão da situação da cadeia quando se é mulher ou ainda para mostrar como ter um carreira de sucesso na música nos anos 20. Nos streamings, o nome do disco é completado com um “(Lado A)”. Sendo assim, teremos um lado B? Coisas boas nos aguardam, parece. 

Talvez todo artista quando forma amizade com outro mande aquele papo “E se a gente fizer um disco nosso, hein?”. Se a dupla tiver uma banda, então, a probabilidade sobe graças ao volume de composições pelo caminho, ideias que não cabem no grupo. Entre seus mil projetos, a dupla de amigos Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro chegou na tal questão. Mas, diferentemente de milhares de outros, eles tocaram o projeto em frente. Foram para o estúdio, chamaram outros colegas para ajudar (e os amigos são simplesmente Marcelo Cabral e Biel Basile) e boa. “Handycam” é o registro do rolê. Como indica o nome, esse registro em uma câmera barata, capturando o calor do momento em baixa resolução. É tudo tão espontâneo que o disquinho tem mil caminhos: eles cantam juntos, cantam separados, cantam coisas escritas em dupla e coisas escritas só por um ou por outro. Mas nessas tantas trilhas eles se encontram mil vezes. O genocídio na Palestina é um tema caro aos dois: “Quando as bombas matam gente estadunidense vemos no jornal/ Mas se é gente inocente longe do ocidente do norte global/ Se amansam as manchetes”, escreve Felipe. “Tudo está em guerra/ me pergunto como esse mar tão azul/ continua banhando a Terra”, escreve Sophia. O amor também aparece como tema comum: “E eu beijaria o set inteiro, só pra disfarçar/ gosto de você pra caralho”, confessa ela na caetânica “Cinema Brasileiro”. “Tenho muito a aprender, pois com você parece ter/ Um jeitinho de fazer acontecer”, diz ele em “Já Não Me Sinto Tão Só”, faixa que é uma espécie de encontro de Geraldo Azevedo com Mac DeMarco. Não são os dias mais fáceis, mas com a ajuda dos amigos é isso aí, uma canção pode salvar o dia. Cuidemos de fazer canções aos montes, então. 

Outro encontro de amigos que foi para frente é o do duo carioca Mundo Video (Gael Sonkin e Vitor Terra) com o niteroiense Dadá Joãozinho. “Dourado” é a primeiro adianto de um EP do encontro. No formato apresentado até aqui, o Mundo Video dá a cama sonora para Dadá versar ao seu modo, rimas em flash rápidos, clipes de uma cena, aberto a mil interpretações. Ele já vinha dando essa guinada para deixar sua voz mais forte, mais presente. É pop esquisitaço e apaixonado do melhor. 

A banda punk de um homem só voltou mais provocativa do que nunca em “Nada Nunca Jamais”. Estilhaçando ainda mais seu mix de punk com música eletrônica, o mineiro Luis Henrique despeja suas ideias sem meias palavras, seja para bater nos alternativos nada alternativos ou na postura genocida do estado de Israel. Quem vê tosquice nas suas produções não sabe de seu passado remixado trap e do seu empenho em encontrar esse som de rock produzindo tudo em um notebook. É coisa de geniozinho mesmo. Uma história ótima é de quando aos 16 anos ele chamou atenção do rapper Isaiah Rashad com seus remixes piratas de trap. O cara chamou ele para trabalhar junto, mas Pusher estava de castigo, sem computador e perdeu o bonde. “Nada Nunca Jamais” ficou um tempão fora das plataformas de streaming, mas agora já está em todas. Bora.

Jup do Bairro lança em outubro seu primeiro álbum de estúdio, “Juízo Final”. E se o primeiro single, a melancólica “A Gente Vive Menos Que uma Sacola Plástica”, dava poucas pistas do que viria por aí, é com “E SE NÃO FOSSE O SONHO” que começamos a entender um pouco melhor a pancada preparada pela artista. Dentro de uma base de funk bem clássica e animada ela versa sobre o sonho ser seu motor. Era acreditar ou não voltar. Agora é refletir e rebolar. 

Das duas uma: quando a canção vira “lalala-lalalá” é porque faltou assunto ou porque a curtição é muita. O lalalá de Teago Oliveira em “Vida de Bicho” se encaixa na segunda opção. A boa brisa da música começa já na chorosa guitarra da introdução e depois se esparrama na letra apaixonada: “Quero me deitar nas suas costas/ E com meu silêncio e olhar profundo/ Fazer sentido na sua cabeça”. Teago já foi gravado por Gal, seria a vez de ser gravado pelo Roberto? O Natal está próximo, bicho. 

LAN tem a história de quase todos nós. Se apaixonou por Lennon e foi entender a mágia por trás daquilo. Virou produtor e já trabalhou com muitos nomes: Don L, FBC, Luedji Luna. Na produção de seu álbum solo vem se associando com os amigos mais talentosos. Por isso, Bebé foi a voz chamada para dar vida à doce e quente “(Des)conectar”: “Vem me provar o quanto faz bem/ Só pra me deixar confuso de vez”.

Oruã é uma banda montada pelo fundador de um dos selos independentes mais antigos do Brasil, o Lê Almeida da Transfusão Noise Records. Com o tempo, o quarteto completado por João Casaes, Bigu Medine e Ana Zumpano foi fincando tentáculos no exterior e chamou a atenção do Doug Martsch, do Built to Spill – tanto que Lê e João chegaram a ser parte da banda no disco mais recente do cultuado nome indie americano. Corta para 2025 e o próximo álbum da banda brasileira, “Slacker”, sairá pela mítica K Records – a casa do Built to Spill, o selo de Calvin Johnson (guitarrista, produtor, vozeirão grave, ex-Beat Happening), a origem do “K” que Kurt Cobain tinha tatuado no braço. Ah, a banda toca no Lollapalooza do ano que vem, o que chamou atenção do portal G1. Eles fizeram uma matéria explicando a diferença entre Oruã e o trapper Oruam.  

Na época da eleição de Bolsonaro, uma fala de Djavan foi mal interpretada e gerou um certo cancelamento do artista. Na verdade, seu posicionamento sempre foi democrático. Naquela época, ele lançava um álbum onde uma das canções se posicionava: “Guerra vende armas, mantém cargos/ Destrói sonhos, tudo de uma vez/ Sensatez/ Não tem vez”. Acontece. Tanto que agora ele assusta bolsonaristas por participar das manifestações contra a PEC da Blindagem e contra a anistia aos golpistas de 2022. Em meio a esse novo cancelamento, pois é, ele se prepara para mais um disco. E enquanto uns babam odiosos comentários, ele canta coisas como: “Apanhe-me entre os loucos/ Os muito pouco normais/ Ir atrás do amor/ É um jazz”. O conceito jazzístico aparece também no nome do álbum, “Improviso”. Previsto para novembro. 

Existem resenhas e resenhas. Em 13 de setembro de 2016, Luiz Antônio Simas postou no Facebook a sua sobre o álbum “Golpe de Vista”, lançado por Douglas Germano naquele ano. “Ouro escondido na lama/ acorde que arde/ vida ferida de morte pela bola sete: Arte” eram alguns dos versos onde o escritor tentava mimetizar seu arrebatamento pelo que chamou de “melhor CD de 2016”.  A resenha virou letra de uma parceria entre os dois e ganhou o nome de “Tudo É Samba”, um dos destaques do que pode ser o melhor CD (!) de 2025, “Branco”, o novo do Douglas Germano. No álbum, Luiz ainda vem com mais duas parcerias com Douglas: “Xaxará” e “Desbancando Gordon Banks”, uma ode ao golaço de Jairzinho no apertado 1×0 que o Brasil arrancou da Inglaterra na Copa de 1970 – um samba de futebol bem do buarqueano, verdadeiro replay em poesia. “Vamos lá, gente!”, pede Douglas ao coro e ao ouvinte um apoio na voz. Cantemos juntos..    

11 – Eliminadorzinho – “Você Me Deixa Coisado” (7)
12 – Rodrigo Ogi e niLL – “Doze Badaladas” (8)
13 – Vanguart – “Estação Liberdade” (10)
14 – Sessa – “Vale a Pena” (11)
15 – Tori – “Ilha Úmida” (12)
16 – Bike – “Essência Real” (13)
17 – Gab Ferreira – “Seu Olhar” (14)
18 – Fleezus – “Pace de Malandro” (15)
19 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (17)
20 – Chico César – “Breu” (20)
21 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (21)
22 – Bella e o Olmo da Bruxa –  “Deus, Gay” (22)
23 – Pelados – “Whatsapp 2” (23)
24 – Nina Maia – “Manha” (24)
25 – Janine Mathias – “Um Minuto” (25)
26 – Paira – “Ao Mar” (26)
27– Rogério Skylab – “Mão no Pau” (27)
28 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (28)
29 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (29)
30 – Marabu – “Rubato” (30)
31 – Crizin da Z.O. – “Fatal” (com Edgar) (31)
32 – Rico Dalasam – “Dilema” (32)
33 – Don L – “Iminência Parda” (33)
34 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (34)
35 – Luedji Luna – “Bonita” (com Alaíde Costa e Kato Change) (35)
36 – Zé Ibarra – “Segredo” (36)
37 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (37)
38 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (38)
39 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (39)
40 – Maré Tardia – “Ian Curtis” (40)
41 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (41)  
42 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (42)
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43)
44 – Terraplana – “Todo Dia” (44)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, as irmãs bafo Tasha & Tracie.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

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