Top 50 da CENA – O movimento BR é sexy. Semana dominada por Sophia, Vaqueiro, Teago, LAN e Bebé

No Brasil ideal, a dupla número 1 tem que ser Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro. O nome é perfeito e as músicas também são. Será que conseguimos dar esse golpe no agrobusiness musical? Talvez incomode a dupla ter algo a dizer de verdade nesse universo, mas vamos lá. Aliás, esta semana nossa ousadia segue em alta e tem até sugestão para o repertório do rei Roberto. 

Os irmãos Valle escreveram “Preciso Aprender a Ser Só” ao que Gilberto Gil devolveu com “Preciso Aprender a Só Ser”. Sophia e Felipe não estão com essa paciência toda. “Viciado em Carinho” abre com o seguinte verso: “Eu não quero ser só/ eu não tenho mais gás”. Talvez no fundo todos estão falando da mesma coisa. Aquela angústia capaz de rasgar o peito. A música é mais um single do álbum da duplinha, “Handycam”, material gravado pela  parceria acompanhados de um cozinha poderosa formada por Biel Basile na bateria e Marcelo Cabral no baixo. “O som do álbum é isso aí – a gente tocando junto, criando e encontrando coletivamente maneiras das canções se assentarem e se bastarem por si mesmas”, anotou Felipe no Instagram. Ficamos ansiosos por aqui. “Handycam” chega na semana que vem.

Das duas uma: quando a canção vira “lalala-lalalá” é porque faltou assunto ou porque a curtição é muita. O lalalá de Teago Oliveira em “Vida de Bicho” se encaixa na segunda opção. A boa brisa da música começa já na chorosa guitarra da introdução e depois se esparrama na letra apaixonada: “Quero me deitar nas suas costas/ E com meu silêncio e olhar profundo/ Fazer sentido na sua cabeça”. Teago já foi gravado por Gal, seria a vez de ser gravado pelo Roberto? O Natal está próximo, bicho. 

LAN tem a história de quase todos nós. Se apaixonou por Lennon e foi entender a mágia por trás daquilo. Virou produtor e já trabalhou com muitos nomes: Don L, FBC, Luedji Luna. Na produção de seu álbum solo vem se associando com os amigos mais talentosos. Por isso, Bebé foi a voz chamada para dar vida à doce e quente “(Des)conectar”: “Vem me provar o quanto faz bem/ Só pra me deixar confuso de vez”.

Oruã é uma banda montada pelo fundador de um dos selos independentes mais antigos do Brasil, o Lê Almeida da Transfusão Noise Records. Com o tempo, o quarteto completado por João Casaes, Bigu Medine e Ana Zumpano foi fincando tentáculos no exterior e chamou a atenção do Doug Martsch, do Built to Spill – tanto que Lê e João chegaram a ser parte da banda no disco mais recente do cultuado nome indie americano. Corta para 2025 e o próximo álbum da banda brasileira, “Slacker”, sairá pela mítica K Records – a casa do Built to Spill, o selo de Calvin Johnson (guitarrista, produtor, vozeirão grave, ex-Beat Happening), a origem do “K” que Kurt Cobain tinha tatuado no braço. Ah, a banda toca no Lollapalooza do ano que vem, o que chamou atenção do portal G1. Eles fizeram uma matéria explicando a diferença entre Oruã e o trapper Oruam.  

Na época da eleição de Bolsonaro, uma fala de Djavan foi mal interpretada e gerou um certo cancelamento do artista. Na verdade, seu posicionamento sempre foi democrático. Naquela época, ele lançava um álbum onde uma das canções se posicionava: “Guerra vende armas, mantém cargos/ Destrói sonhos, tudo de uma vez/ Sensatez/ Não tem vez”. Acontece. Tanto que agora ele assusta bolsonaristas por participar das manifestações contra a PEC da Blindagem e contra a anistia aos golpistas de 2022. Em meio a esse novo cancelamento, pois é, ele se prepara para mais um disco. E enquanto uns babam odiosos comentários, ele canta coisas como: “Apanhe-me entre os loucos/ Os muito pouco normais/ Ir atrás do amor/ É um jazz”. O conceito jazzístico aparece também no nome do álbum, “Improviso”. Previsto para novembro. 

Existem resenhas e resenhas. Em 13 de setembro de 2016, Luiz Antônio Simas postou no Facebook a sua sobre o álbum “Golpe de Vista”, lançado por Douglas Germano naquele ano. “Ouro escondido na lama/ acorde que arde/ vida ferida de morte pela bola sete: Arte” eram alguns dos versos onde o escritor tentava mimetizar seu arrebatamento pelo que chamou de “melhor CD de 2016”.  A resenha virou letra de uma parceria entre os dois e ganhou o nome de “Tudo É Samba”, um dos destaques do que pode ser o melhor CD (!) de 2025, “Branco”, o novo do Douglas Germano. No álbum, Luiz ainda vem com mais duas parcerias com Douglas: “Xaxará” e “Desbancando Gordon Banks”, uma ode ao golaço de Jairzinho no apertado 1×0 que o Brasil arrancou da Inglaterra na Copa de 1970 – um samba de futebol bem do buarqueano, verdadeiro replay em poesia. “Vamos lá, gente!”, pede Douglas ao coro e ao ouvinte um apoio na voz. Cantemos juntos..    

Eliminadorzinho é muito mais que uma sacada esperta para homenagear “Eliminator Jr.”, da histórica banda indie noise Sonic Youth. É um nome manifesto. É o trio formado por Gabri Eliott, João Haddad e Tiago Schützer avisando que fará seu rock barulheira em bom português. Se a maioria da turma brasileira que bebeu de Sonic Youth, Pavement, Dinosaur Jr e cia. ficou mais no inglês mesmo, como se a guitarra mega distorcida só falasse bem com o idioma estrangeiro, a banda paulistana vai fazer sua dissonância cair bem em cenas muito nossas. Ou vc já viu o Thurston Moore falando algo parecido com “Quando eu te vi no bar/ Descendo do 917H/ Com a sua saia de crente/ Igual os meus parentes/ Não pude parar de te olhar”? Lógico que não. E igual ao Douglas aí em cima, em uma das canções do disco que a banda também convida a gente para cantar junto com eles. É muita coincidência, hein? Esta “Você Me Deixa Coisado” é uma “bonus track” do espertíssimo recém-lançado álbum “Eternamente,”, do Eliminadorzinho. Se esta é a “faixa extra”, imagina as outras 14 do disco…

O encontro entre os rappers Rodrigo Ogi e niLL estava escrito nas estrelas – ou nas páginas de um gibi. Melhor ainda: certamente em um pixo por aí. Vindos de gerações e lugares diferentes, eles tinham em comum a habilidade de comunicação absurda, ambos são podcasters dos bons, e uma nerdice incurável: niLL mais dos animes e Ogi mais do quadrinhos. Em comum, eles também encontraram o desejo de dar um aviso para geral de que se as coisas não vão bem, e nunca foram muito bem mesmo, segue o jogo, tem trabalho a ser feito, vida a ser vivida – e bem vivida. Daí escreveram seu “Manual para Não Desaparecer”. Ambos responsáveis pela produção, chamaram os amigos para colaborar: Cravinhos (Maria Esmeralda), DJ Miya B, Munhoz (Professor M. Stereo), DJ Noveset, Ryan Beats, Sono TWS (Febre 90) e Tiago Ticana (guitarra). A mesma regra valeu para os feats: Jamés Ventura, Matéria Prima e Roberta Estrela D’Alva.  

Jup do Bairro lança em outubro seu primeiro álbum de estúdio, “Juízo Final”. Ainda sem revelar suas pretensões, o primeiro single é a melancólica “A Gente Vive Menos Que uma Sacola Plástica”. Apresentando sua amplitude vocal, indo de um grave estourado propositalmente a uma fala tão suave quanto firme, Jup pensa em voz alta sobre o mundo desejado e o fim do mundo estabelecido. Ou não estaria tão estabelecido assim? “Soa um retrato do que muitas vezes sentimos em relação aos rumos do mundo: um desenredo que beira o inevitável, mas que não é impossível de se reagir sobre”, escreveu a artista. Ao brincar com os múltiplos sentidos da palavra menos, Jup estabelece: podemos viver menos tempo que as sacolas plásticas, mas nossa existência não precisa nem deve ser menor por isso ou porque alguém nos Estados Unidos mandou.

Apesar dos boatos de que vivem “no porão de Roberta Martinelli”, o Vanguart está muito bem e soltinho pelo Brasil após um período onde seu destino parecia incerto. Os anos de Bolsonaro e da pandemia pareciam ter colocado um freio no grupo. Após o excelente “Beijo Estranho”, de 2017, o grupo pouco trabalhou seu álbum duplo pandêmico e lidou com uma reforma na formação, firmada agora na dupla Hélio Flanders e Reginaldo Lincoln. Do longo hiato, as coisas foram se restabelecendo na estrada. Show após show. Firmes e fortes, parece ser a hora de pensar em álbum novo. Pelo menos é essa história contada em dois fortes singles ao redor de trens e estações: “A Vida É um Trem Cheio de Gente Dizendo Adeus” e “Estação Liberdade”.

11 – Sessa – “Vale a Pena” (6)
12 – Tori – “Ilha Úmida” (7)
13 – Bike – “Essência Real” (8)
14 – Gab Ferreira – “Seu Olhar” (9)
15 – Fleezus – “Pace de Malandro” (10)
16 – Supla – “Queixo Novo” (11)
17 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (12)
18 – Chico Chico – “Vila do Sossego” (13)
19 – Soulfly – “Storm the Gates” (14)
20 – Chico César – “Breu” (15)
21 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (16)
22 – Bella e o Olmo da Bruxa –  “Deus, Gay” (17)
23 – Pelados – “Whatsapp 2” (20)
24 – Nina Maia – “Manha” (21)
25 – Janine Mathias – “Um Minuto” (22)
26 – Paira – “Ao Mar” (23)
27– Rogério Skylab – “Mão no Pau” (25)
28 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (25)
29 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (26)
30 – Marabu – “Rubato” (27)
31 – Crizin da Z.O. – “Fatal” (com Edgar) (28)
32 – Rico Dalasam – “Dilema” (29)
33 – Don L – “Iminência Parda” (30)
34 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (31)
35 – Luedji Luna – “Bonita” (com Alaíde Costa e Kato Change) (32)
36 – Zé Ibarra – “Segredo” (33)
37 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (34)
38 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (35)
39 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (38)
40 – Maré Tardia – “Ian Curtis” (39)
41 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (40)  
42 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (41)
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43)
44 – Terraplana – “Todo Dia” (44)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, Sophia & Vaqueiro, em foto de Helena Ramos.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

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