Top 50 da CENA – Sabe a Jup do Bairro? E o Negro Leo? E a Juçara Marçal. E o Vanguart? A semana é toda deles

Gostou do incrível Tiny Desk Brasil desta semana? Vimos que muita gente finalmente descobriu a graça e a beleza de Metá Metá e Negro Leo. Para vocês seguirem na festa, que tal ouvir as novidades deles? Negro Leo está no novo álbum da Jup do Bairro, uma estreia poderosa. Juçara Marçal lança disco ao vivo de um show de dez anos atrás. Sempre é tempo. Tanto que o Varanda resolveu revirar seu pequeno acervo, o Vanguart voltou de vez e a turma recuperou o último show da Gal. 

Muita gente finalmente descobriu o Negro Leo graças ao alcance fenomenal da edição brasileira do Tiny Desk Brasil. Sejam bem-vindos a ele! Vamos perdoar vocês pelo atraso. Estão com sorte porque Negro Leo é um dos convidados no álbum de estreia da Jup do Bairro, “Juízo Final”. Aliás, bom momento para descobrir também o som da Jup, se você já não a conhece. Em seu álbum de estreia, ela reuniu um time de produtores variados (peles, Baby Plus Size, Exfera, CyberKills, Thiago Klein e VINEX) e passeia por diferentes gêneros como boa fã de música que é: do samba ao metal. Na reflexão das letras, um conjunto conceitual sobre cansaço e força. Jup chegou ao fim da festa, está exausta, mas não vai deixar de contemplar o seu momento. Ninguém fode com ela, oras. A metáfora vale para o mundão, para o Brasil que atrasa a vida de sua população trans e também para a indústria musical, sempre sedenta, sugando artista por artista. E, assim, agora temos a nossa “Guess”, atura ou surta Charli e Billie.

 Muita gente também finalmente descobriu a Juçara Marçal graças ao nosso Tiny Desk. Sejam bem-vindos de novo! Vamos perdoar vocês pelo atraso, estamos há dez anos batendo na tecla sobre o trabalho da Juçara ser brilhante. Mas sempre é hora, ok. Ainda neste mês, o Sesc lança “Sessões Selo Sesc #16: Juçara Marçal”, registro do show de lançamento do primeiro disco solo da cantora, “Encarnado”. Gravado na unidade da Vila Mariana, Juçara contava naquele momento com uma banda formada por Kiko Dinucci (guitarra), Rodrigo Campos (guitarra e cavaquinho) e Thomas Rohrer (rabeca). Na participação especial, ele mesmo, Thiago França (sax). Dá neles, Juçara. 

Será que quando o Vanguart era só uma ideia na cabeça do jovem Hélio Flanders ele imaginava lançar um disco e ganhar de saída os elogios de sua ídola (e hoje sua amiga) Cida Moreira? São essas coisas que valem algo na vida. Essa sinceridade e calma diante do efêmero transbordam em “Estação Liberdade”. “Se você cai, tem um amigo/ Que canta por ti, e sonha junto contigo”, Hélio solta a voz com seu parça Reginaldo Lincoln. Após os altos e baixos da vida da estrada, que provocaram uma debandada dos integrantes originais da banda ao longo do tempo, e das ansiedades dos tempos da juventude, eles chegam à “Estação Liberdade” escrevendo o fino, aquela sabedoria de quem entende que a coisa mais certa de todas as coisas não vale o caminho sob o sol. Seguimos. 

Rebarba é aquela sobrinha, aquele material que vai ser tido como a imperfeição no corte de um material qualquer. Mas os mineiros da Varanda não transam desperdício. Pegaram as composições levantadas durante a feitura das demos de seu álbum de estreia, “Beirada”, e colocaram ela para jogo, este novo EP, o “Rebarba”. Resultado: é bem legal vê-los experimentando, vendo o que funciona e o que não funciona, como se fôssemos infiltrados no estúdio. Dá até vontade de opinar: “Gente, essa é boa, coloca no disco!”.  

Se a nova versão de “Vale Tudo” ficou um lixo, paciência. O que ninguém estraga é a interpretação de Gal Costa para “Brasil”, composição de Cazuza, George Israel e Nilo Romero. Tão marcante em sua carreira, seria a última música que Gal cantaria ao vivo. O registro da apresentação no Coala em setembro de 2022, pouco antes da eleição, é histórico e agora está no álbum “As Várias Pontas de uma Estrela”. De arrepiar no disco seu aviso antes de se jogar na música: “Vamos votar direitinho, com amor”. Sábia.

“Eu gosto de poesia. De som, textura, timbre, take inteiro. Eu gosto de persistir até acertar”, escreveu Teago Oliveira em seu Instagram na apresentação do seu mais novo disco, “Canções do Velho Mundo”. Esse texto esperto dele poderia muito bem ser a nossa resenha todinha, de tão certeiro. “Meus pais são pessoas humildes. Tenho medo do futuro. Do futuro da arte. Do meu futuro com a arte. Do futuro dos meus amigos. Já pensei em largar tudo. Ter uma vida normal”, confessou com a mesma sinceridade de suas canções apresentadas no álbum. Canções, realmente, ô jeito antigo de se fazer música, né? O que não aparece no texto de Teago, talvez por modéstia da parte dele, é que ele também gosta de fazer a gente se emocionar, outra coisa super fora de moda. É do inexplicável como a gente fica com vontade de chorar em “Desencontros, Despedidas”, uma coleção de pequenas fotografias em versos registrando seus amigos e amores (“Ana entrou na minha porta e pra sempre ficou” é sua parceria de vida, Ana Paula Bohnenberger/ ”O vento passou para Luquinha, Léo e Didi” são os colegas de Maglore). A coisa é tão envolvente, tão delicada, que vem a lembrança de “Encontros e Despedidas do Milton”, vêm lembranças dos Carnavais todos, de cada mudança de casa, da escola, de jogar bola na rua. Pô, parece que o Teago era um amigo nosso daquela época. Se pá, era mesmo. Certeza que era.  

Quando encarou o memético questionamento “Cultura Livre por Urias”, ela devolveu: “É passar nossa história de geração em geração sem medo”. Dito e feito. “Carranca” é a história de Urias. História que ela já vinha contando, é verdade, desde sua estreia superpop em “Fúrias” e passando pelo seu álbum “gringo” “Her Mind”, mas tava na cara que sua solução era o Brasil. Falar em português, festejar em português, se aproximar do rap. Pensar no passado, presente e futuro de um país tão alegre e tão violento. Tão diverso culturalmente e tão cruel com a população trans. Não por acaso, o encerramento do álbum é “Voz do Brasil. Porque ela quer ser ouvida por todo mundo, quer poder circular em liberdade e paz. “Eu também quero ir pro Brasil”, são os versos de encerramento de quem quer mais do país e sabe que ele pode oferecer muito mais. Ainda há uma democracia a ser construída por aqui. Uma que alcance todos mesmo. 

Apesar do Trio Mocotó seguir fervendo pelo Brasil em sua nova formação, com Melvin Santhana chegando após a partida do mestre Skowa, João Parahyba andava quieto em termos de carrerira solo havia 14 anos. “Xei Lá Town”, com esse “s” com som de “x” à la Jorge Ben, é o tema instrumental que antecipa a volta em álbum de inéditas previsto para este fim de mês. Misturando samba rock com jazz e outras sonoridades, ele formou uma banda com Jotap Barbosa (saxofone), Fernando César (piano), Cléber Almeida (bateria), Giba da Silva Pinto (baixo) e Rafael Kabelo e nomeou a confusão de “Mangundi”, segundo ele um termo do Vale do Paraíba para descrever mistura inusitadas. Nunca tínhamos ouvido esse termo, mas de mistura inusitada e boa do João sabíamos bem. Pode confiar. 

O nosso soft power ainda não é igual ao sul-coreano, mas vamos à luta. Quer ver? Em 2020, Tulipa Ruiz foi até a China para uma uma residência artística com a artista Yehaiyahan, fruto de uma parceria do projeto China Tropical com a Embaixada do Brasil em Pequim. O rolê aconteceu em uma fazenda em Lijiang, província de Yunnan, sudoeste da China. Com o material filmado por lá por Filipe Franco e com as músicas compostas também naquele período, finalmente o material em esquema bilíngue foi para o mundo – e vamos combinar, com o estado do Brasil em 2020 + pandemia, valeu esperar… Agora Tulipa completa seu papel diplomático com uma turnê pela China, além de representar o Brasil no Fórum de Artes de Liangzhu. Aliás, se o Itamaraty quiser dicas de outros nomes para fortalecer, temos uma CENA para cada embaixada desse mundão.Temos um Brasil tão foda para mostrar, lembram do Gil tocando na ONU? O mundo tem um jeito que nós podemos dar. 

Enquanto os bancões lutam contra o trabalho online, Marisa Monte ainda acredita no modelo. “Sua Onda” foi gravada em conexão entre três cidades bem distantes uma da outra. Marisa no Rio, o produtor argentino Gustavo Santaolalla em L.A e a Budapest Scoring Orchestra em Budapeste, lógico. Escrita com seus parceiros de sempre, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, a música é a inédita escolhida por ela para sua turnê com orquestra, Phonica. Gravar a faixa com Santaolalla, vencedor do Oscar pelas trilhas de “Brokeback Mountain” e “Babel”, é reencontrar um velho amigo. Em 2009, o argentino trouxe seu projeto Café de los Maestros, uma banda que reúne a velha guarda do tango local, e convidou Marisa para cantar junto. Pouco tempo depois, seria dele o violão na faixa “Ainda Bem”. Por enquanto, é uma colaboraçãozinha, mas será que não cabe um disco nessa amizade entre hermanos?

11 – Tasha & Tracie – “Serena & Venus” (6)
12 – Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro – “Cinema Total” (7)
13 – Dadá Joãozinho & Mundo Vídeo – “Dourado” (8)
14 – PUSHER174 – “Eu Sou do Contra” (9)
15 – Jup do Bairro – “E SE NÃO FOSSE O SONHO” (10)
17 – Oruã – “Casual” (12)
18 – Djavan – “Um Brinde” (13)
19 – Douglas Germano – “Tudo É Samba” (14)    
20 – Eliminadorzinho – “Você Me Deixa Coisado” (15)
21 – Rodrigo Ogi e niLL – “Doze Badaladas” (16)
22 – Sessa – “Vale a Pena” (18)
23 – Tori – “Ilha Úmida” (19)
24 – Bike – “Essência Real” (20)
25 – Gab Ferreira – “Seu Olhar” (21)
26 – Fleezus – “Pace de Malandro” (22)
27 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (23)
28 – Chico César – “Breu” (24)
29 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (25)
30 – Pelados – “Whatsapp 2” (27)
31 – Nina Maia – “Manha” (28)
32 – Janine Mathias – “Um Minuto” (29)
33 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (30)
34 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (31)
35 – Marabu – “Rubato” (32)
36 – Don L – “Iminência Parda” (34)
37 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (35)
38 – Zé Ibarra – “Segredo” (37)
39 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (38)
40 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (39)
41 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (40)
42 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (41)  
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43)
44 – Terraplana – “Todo Dia” (44)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Jup do Bairro, em foto de Wallace Domingues.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

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