Show de despedida sempre dá aquela impressão que não é o último. É quase um clichê do rock o papo de “última turnê” e o “último concerto”. Mas o emocionante fim preparado para os lendarios Black Sabbath e Ozzy Osbourne no último sábado não parece ser um desses casos.
No evento histórico chamado “Back to the Beggining”, a cidade natal da banda inglesa, Birmingham, recebeu milhares de turistas para a última apresentação da banda original com os quatro integrantes ainda vivos – algo raro entre seus contemporâneos, ainda mais para quem conhece as histórias de Ozzy, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, gigantes em importância e influência em praticamente todo um gênero, o heavy metal.
E, para celebrar essa festa de adeus, na cidade onde surgiram em 1968, nada melhor do que chamar todos seus admiradores e fãs famosos para o palco, não só para a plateia.
Em um evento de mais de dez horas de duração, inclusive com streaming vendido para países distantes como o Brasil, praticamente todo representante ilustre da música pesada passou por ali para tocar algumas músicas próprias e fazer seu tributo com alguma versão de Black Sabbath ou da enorme carreira solo de Ozzy Osbourne.
Claro que teria Metallica, Guns e Slayer, o alto escalão do hard rock e metal que devem muito de suas músicas aos ingleses. Mas teve também os não tão veteranos franceses do Gojira, Tobias Forge dos suecos do Ghost e o jovem Yungblud. Até mesmo o Brasil marcou presença com o baterista Eloy Casagrande participando com o Mastodon.
Fora que a despedida teve uma espécie de organizador e paraninfo “de peso” (termo relativo em se tratando de um evento celebratório para uma banda como o Black Sabbath): o músico e agitador Tom Morello, do Rage Against the Machine, que afirmou que sábado era o “Mais Importante Dia da História do Heavy Metal”.
Era tanta banda tocando que os músicos ficavam no palco cerca de meia hora no máximo e já davam espaço para as próximas atrações. Na escalação, Anthrax, Tool, Mastodon, Gojira, Slayer, Metallica, Guns N’ Roses, Rival Sons, Halestorm, Lamb of God, Alice In Chains e Pantera revezaram músicas próprias e covers dos homenageados do dia.
Algumas dessas versões se sobressaíram (Tool, Lamb of God, Alice In Chains), outros foram de se lamentar (O Guns até tentou, mas estava difícil aguentar a voz do Axl Rose).
Fora esses grupos, músicos dos mais variados estilos, do indie Billy Corgan (Smashing Pumpkins) ao clássico Ron Wood (Rolling Stones), passando pelo aposentado Steven Tyler (Aerosmith) e Travis Barker (Blink 182), se juntaram em pequenos supergrupos para mais covers.
A fase farofa do Ozzy nos anos 80 rendeu os piores momentos, mas foi legal ver ex-integrantes da banda solo do Ozzy se reunindo uma última vez.
Quem não tocou, apareceu em vídeos mandando saudações (Elton John, AC/DC, Jack Black fantasiado de Ozzy tocando o hino “Mr. Crowley”).
Foram 11 anos de Black Sabbath com Ozzy desde a formação da banda em 1968 até o cantor ser mandado embora em 1979. Claro, algumas reuniões desde então, mas o Sabbath capitaneado por Tony Iommi seguiu um caminho e Ozzy outro (com muito mais dinheiro e fama).
Depois de 57 anos, brigas e reconciliações, todos estavam prontos para tocar juntos novamente, por essa última vez.
A abertura se deu com esse time estrelado até o momento de os dois headliners assumirem a apoteóse do evento no estádio do Aston Villa, time do qual Ozzy é um famoso torcedor fanático.
Antes da banda que começou um gênero enorme no rock, um debilitadíssimo Ozzy subiu para tocar cinco músicas de sua carreira solo com ex-integrantes de sua banda: Tommy Clufetos na bateria, Mike Inez (hoje no Alice In Chains) no baixo e Zakk Wylde, o guitarrista que mais dividiu o palco com Ozzy em sua trajetória solo.
Na hora do hit “Mama, I’m Coming Home”, deu pra ver que Ozzy (diagnosticado com a doença de Parkinson em 2019) estava se esforçando muito para entregar seu último show, e a emoção era visível nas tomadas do público, cantando junto e chorando junto.
Pensa, Ozzy tocando uma música falando que está voltando pra casa, tocando no Villa Park, em sua Birmingham, que fica literalmente a 10 minutos de caminhada de onde ele nasceu.
Depois, por fim, teve o show que todos foram ver, o Black Sabbath com sua formação original pela última vez. No show solo de Ozzy (76 anos) já dava obviamente para ver que ele não está mais saudável para suas performances tradicionais, pulando e correndo. Do restante da banda, Bill Ward (77) sempre foi outro ponto de atenção de saúde, tendo inclusive sendo preterido em algumas reuniões do grupo.
Agora, estavam os quatro ali. A saúde de Ward e Ozzy podem não ser as mesmas, mas não comprometeram em nada na derradeira performance. Pelo menos no que importa para um evento desse naipe.
Já Iommi (77) e Butler (75) pareciam tocar como se ainda estivessem nos anos 70. Em um set curto, foi a última vez que se ouviu os criadores de tudo que se denomina heavy metal tocarem “War Pigs”, “N.I.B.” (com um solo de Geezer que mostra que ele é quem ainda segue com mais vigor de todos), “Iron Man” e “Paranoid”.
As últimas frases ditas por Ozzy Osbourne em um palco, sentado num enorme trono preto (pelas suas condições de saúde mas perfeito e digno pela sua simbologia de “Prince of Darkness”), foram: “I tell you to enjoy life, I wish I could but it’s too late”.
Para emocionar qualquer metaleiro. Qualquer ser humano.
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* Se vamos botar mais vídeos aqui? Claro.