CENA – Com pegada raiz e vibe incrível, Festival Sensacional (nosso Glastonburyzinho?) leva 25 mil pessoas para espaço subestimado em BH

CENA – Com pegada raiz e vibe incrível, Festival Sensacional (nosso Glastonburyzinho?) leva 25 mil pessoas para espaço subestimado em BH Foto: divulgação

Imagine um festival com line-up eclético, que vai do rap ao samba de raiz, em um parque cheio de área verde, sem pista premium, camarote open bar e outras diversas vertentes de setorização. Este evento existe e recebe o nome Sensacional, em Belo Horizonte.

Surgido em 2010 no baixo centro, mais precisamente no Viaduto Santa Tereza, reduto cool da galera alternativa da capital mineira, o Sensacional chegou a sua edição de número 10 e foi mais uma vez realizado no Parque Ecológico da Pampulha, a exemplo do ano passado, em uma região turística de Belo Horizonte onde está, por exemplo, o estádio Mineirão, a Igrejinha da Pampulha e outros pontos essenciais para se conhecer na capital dos mineiros.

O evento foi aquecido na noite de sexta-feira, quando o inoxidável Gilberto Gil apresentou o show ao lado de sua talentosa família de músicos, em performance que arrastou 10 mil pessoas, teve cover de Beatles, homenagem para Rita Lee e contou ainda com a participação especialíssima de Preta Gil, que está em importante e vitorioso processo de cura de um câncer. Cantora, família e público não conseguiram segurar a emoção.

Já no sábado, mais 15 mil pessoas aproveitaram as diversas atrações ao longo do dia, que contou com abertura do ritual indígena “Caminhos do Pachamama” e levou canto, celebração e dança como expressões de luta e resistência dos povos indígenas.

Espalhados por quatro palcos, sendo dois deles colocados lado a lado na arena principal, o público não precisava caminhar muito se quisesse conferir as atrações em sequência, que tiveram de Hermeto Pascoal a Flora Matos, passando por Nação Zumbi e o espetáculo Manguefonia, celebrando os 30 anos do mangue beat, reforçado com as presenças de Fred Zero Quatro (Mundo Livre S/A), Canibal (Devotos) e Fábio Trummer (Eddie).

Céu com seu Baile Reggae especial e o veterano grupo Fundo de Quintal, que recebeu a grande Leci Brandão, recém-recuperada de uma angioplastia na perna – “Infelizmente não posso sambar”, disse ela – deram o tom do fim de tarde enquanto muita gente assistia aos shows sentada no gramado, em dois pequenos morros do parque que parecem ter “nascido” ali para o festival.

No outro extremo do espaço, MC Tha fez show emocionante e carregou um grande público para o palco Chacoalha, enquanto a galera do Masterplano conduziu a programação em um palco dedicado às eletronices. No bosque, intervenções em neon e infláveis da Festa da Luz, movimento que acontece todos os anos no centro de BH, e que foi carregado como “special guest” para o festival.

Encerrando a noite, os dois principais shows do rolê foram de Gloria Groove, que recebeu Valeska Popozuda para um set de funk proibidão, e a garota fenômeno Marina Sena, mineira, que não escondeu a euforia naquele foi um dos shows mais importantes de sua carreira, em casa.

O ponto negativo, especialmente nas duas apresentações, foi o volume do som, que de fato estava bem baixo até para quem estava próximo aos palcos. Mas este é outro tópico.

O Parque Ecológico da Pampulha, embora seja um espaço bem aconchegante e grande, é rodeado por residências. Assim, o Sensacional – ou qualquer outro promotor de eventos no local – precisa seguir algumas regras. A começar pelos horários. No sábado, alguns shows precisaram ser encurtados para que o festival batesse a meta de se encerrar às 22h. Isso inclusive explica o fato de se ter dois palcos lado a lado na arena principal, já que um show começava instantaneamente após o outro, sem tempo até para tomar uma cervejinha ou ir ao banheiro.

Fora isso, o volume baixo também está ligado diretamente ao entorno de residências, a maioria delas de classe nobre. Durante a semana passada, o festival foi alvo de manifestações da associação de moradores da região, que tentou embargar o evento via Ministério Público. Já no domingo, poucas horas após a realização do evento, a associação de moradores do bairro já estava na imprensa local reclamando de “barulho, congestionamento, som alto e privação do direito de ir e vir”.

A real é que, como morador de Belo Horizonte, vale frisar que o parque é da cidade, e não “pertence” apenas ao bairro. E é até pouco aproveitado pela estrutura que tem.

O que se viu no Sensacional foi um público bastante eclético, educado e responsável com a preservação do espaço, algo bastante trabalhado na comunicação conscientizadora do festival.

No fim das contas, parece mais daquelas implicâncias de patrão que não suporta ver o empregado ter acesso à cultura, “que deveria ser item de cesta básica neste país”, como disse Gilberto Gil na sexta.

Mas este tipo de questão a gente deixa para os envolvidos resolverem em 2024. A Popload foi ao Sensacional e gostou bastante.

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