Coquetel Molotov 2015: “Respeita as minas, p*rra” – Ava Rocha, Mahmundi, Salma, Ana Garcia

Coquetel Molotov 2015: “Respeita as minas, p*rra” – Ava Rocha, Mahmundi, Salma, Ana Garcia Foto: divulgação

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* Neste sábado que passou, em Recife, aconteceu a edição 2015 No Ar Coquetel Molotov, um dos festivais independentes mais inspirados do calendário nacional, seja nas bandas que escala, na organização que o bota em pé, na comunicação que o divulga para todo o Brasil. Do copo reutilizável para as bebidas até os ótimos som e luz de seus três palcos. O local, outro ponto alto do festival, é em Recife, mas nem parece. Longe das praias, do mangue, de Olinda, do calor pernambucano, o Coquetel Molotov se firmou na “refrescante” (de novo, estamos em Recife) Coudelaria Souza Leão, um atraente centro de criação de cavalos no alto de um morro, afastado um pouco da muvuca da cidade cerca de 40 minutos da praia de Boa Viagem, por exemplo. Para se chegar à area dos palcos, vans/mini-ônibus do festival levavam os festivalgoers da bilheteria e do estacionamento do pé dessa colina ao alto, por uma estrada marcada por tochas. Para o alto e avante.

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As grandes atrações do Coquetel 2015 foram o rapper paulistano Emicida, a banda cearense Cidadão Instigado e o grupo carioca Tono, que recebeu em parte do show a atuação do cantor Ney Matogrosso. Mas quem brilhou mesmo, de um lado digamos “mais indie” e na opinião da Popload (que esteve em Recife a convite do festival) foi em um aspecto o redivivo grupo Ludovic, em outro dos shows de sua volta depois de sete anos afastados do palco, o primeiro no Nordeste do país. Por outro lado, o Coquetel Molotov foi da mulherada protagonista da música brasileira hoje. Em cima e fora do palco.

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Se o Brasil festeja hoje a cena goiana, um bom representante da música da terra dos Boogarins brilhou no festival de Recife. A banda Carne Doce, liderada pelo casal Salma (vocalista) e Macloys (guitarra) e com o DNA goiano cujas entranhas vai do estúdio que gravaram seu álbum de estreia até sua formação e as participações especiais nas músicas, fez um show intenso no palco dois do Coquetel Molotov, do primeiro acorde de sua afiada banda ao último grito lírico da impressionante frontwoman Salma. Ela é magnética, sendo na sua presença de palco fazendo dancinha cool de menina indie dançando Pavement num clube de São Paulo ao alcance de seu instável (no bom sentido) vozeirão, que vai da doce MPB ao pop e aos berros com uma facilidade impressionante.
(A foto acima, de Salma e Macloys, é de Hannah Carvalho. )

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A revelação deste ano numa certa “nova MPB”, a cantora carioca Ava Rocha, que toca nesta quinta (amanhã) no Centro Cultural de SP, fez também uma excelente apresentação no palco principal do Coquetel Molotov (foto acima). Outra com um grande charme em cena e já uma espécie de diva desta nova onda do, digamos, pop nacional, a filha do cineasta Glauber Rocha tem autencidade ao vivo mesmo quando parece uma Gal Costa despirocada, para citar uma representante-totem da MPB. Mas o grande lance de Ava talvez seja o excelente suporte de uma banda de rock estridente, para tirar essa levada de MPB da bunda-molice reinante em formações desse tipo. Os guitarristas e a bateria “descem a mão” em seu instrumento sem medo da felicidade, e ainda assim não abafam Ava Rocha, nem na voz, nem na presença.

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Outra personagem do Rio que fez bonito no Coquetel Molotov é a electroindie lo-fi com “jeitão carioca” gostoso de Marina Lima (ela não curte muito a comparação…) e potencial para ser remixada por Jamie XX é a Mahmundi (foto acima), nome artístico de Marcela Vale, já conhecidinha na cena independente do Sudeste. Com um terceiro álbum por vir e ainda baseando seus shows no belo “Setembro”, disco de 2013, Marcela se apresenta em trio, com um baixista e um tecladista soltando seus barulhinhos cool, mas sua performance também de guitarrista e baterista faz imaginar às vezes que no palco existe um quinteto, no mínimo. Mesmo carregando no ritmo de um moderno pop carioca anos 80, Marcela Mahmundi é o mais próximo em delicadeza sonora que um novo artista brasileiro chega de um artista moderno como o britânico James Blake, por exemplo. Se o som fosse algo mais “quebrado”, se as batidas fossem mais “inesperadas”, então… Mas isso é coisa para os grandes Miranda e Cassim, produtores de seu terceiro álbum.

O Coquetel Molotov teve no sábado a edição que marcou o segundo ano consecutivo na Coudelaria, sua nova casa, e ainda os 13 anos de luta independente de sua mentora Ana Garcia, outra grande mulher que atuou em Recife no final de semana, esta fora do palco. Com seu fiel escudeiro Jarmeson de Lima, Ana constrói na unha e com identidade forte um festival no Nordeste brasileiro e na terra do Carnaval, frevo e de uma cena ainda marcada e ligada à contra cultura do manguebeat, ou o que restou dele. Coquetel Molotov é uma ilha dentro da “ilha”.

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Ava, Salma, Marcela e Aninha. Respeita as minas, porra!

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** O festival Coquetel Molotov aconteceu enquanto em São Paulo havia a grande passeata contra o projeto de lei absurdo do deputado machista Eduardo Cunha. Não por acaso, “homenageado” em alguns dos discursos de artistas durante o Coquetel.

** A foto de Ava Rocha, que está na home da Popload, é de autoria de Flora Pimentel.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 04/11/2015
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