Strokes 2001, Arctic Monkeys 2005, Fontaines DC 2019. De Dublin, Irlanda, conheça sua banda nova predileta

Strokes 2001, Arctic Monkeys 2005, Fontaines DC 2019. De Dublin, Irlanda, conheça sua banda nova predileta Foto: divulgação

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* O texto a seguir, escrito desde Nova York, saiu editado no jornal Folha de S.Paulo, na semana passada. Aqui tem a versão na íntegra. E vai ganhar uma segunda parte nos próximos dias.

* O cantor Grian Chatten, da banda Fontaines DC, deu entrevista à Popload no bar do clube Union Pool, no Brooklyn, horas antes de fazer o segundo show sold-out na cidade. Ele me pagou a primeira cerveja, eu paguei a segunda rodada.

* O primeiro álbum do Fontaines DC, “Dogrel”, vai ser lançado no próximo dia 12 de abril. Mas já foi entregue inteiro à Popload. É uma das coisas mais legais, energéticas e referênciais de passado e presente que eu ouvi desde… Strokes e Arctic Monkeys. É forte, é pulsante, o disco tem história, a banda tem história, a história atual já capturou o Fontaines DC para contá-la, de seu jeito.

E é daqui que nasce nossa história, abaixo.

* A Popload viajou aos EUA em parceria com a GOL Linhas Aéreas.

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* Grian Chatten é uma espécie de novo Liam Gallagher na postura “bad boy”. Dois minutos o vendo em ação leva à certeza de que ele é marrento tanto quanto o ex-vocalista do Oasis, inclusive por cantar com as mãos para trás. Mas não é só isso. O vocalista do Fontaines DC, banda que é uma das sensações do movimento sensação que vem resgatando uma forte onda punk jovem no Reino Unido, é irrequieto no palco como foi Ian Curtis (Joy Division), para não dizer que parece que ele pode ter uma pane nervosa diante da plateia a qualquer momento. E, já que é para pinçar semelhanças, Grian Chatten às vezes canta falando, ao feitio e com a entonação britânica de Mark E. Smith (The Fall).

Gallagher, Curtis, Smith de uma vez só, tudo num rapaz só. Mas é de se duvidar que Chatten, 23 anos, já tem toda essa referência antiga, pronta para exprimi-la com tanta felicidade em sua curtíssima carreira de artista, líder de uma banda que nem disco de estreia lançou ainda.

Talvez o vocalista e seus outros quatro companheiros não estejam tendo tempo de se espelhar em nomes carismáticos de outrora para chamar a atenção, já que desde que colocaram algumas músicas no Spotify e apareceram no palco de clubinhos na Europa a vida deles virou de cabeça para abaixo, no último ano e meio. E, repita-se, nem disco cheio eles têm.

“Eu nem sei mais onde estou. Quando acordo, levo uns minutos para perceber o que está acontecendo. Minha vida era muito devagar, talvez agora esteja rápida demais. Mas está tudo bem assim. Até pouco tempo atrás eu trabalhava numa livraria, com muito tempo para fingir que eu estava feliz. Para sentir raiva de algumas coisas. Agora nem pensar em felicidade e ódio eu consigo. Sinto falta de sentir raiva, isso não é bom para um irlandês”, afirma Chatten à Popload, não sei se falando sério ou sendo irônico, momentos antes de encarar o segundo show em Nova York, semana passada, no enorme bar de palco pequeno Union Pool, no Brooklyn.

A noite anterior, em que pese o tamanho da área de shows, o clube estava abarrotada. A seguinte, igualmente com ingressos esgotados. Lembre, eles ainda não têm um álbum.

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“Esses são nossos primeiros shows de verdade aqui nos EUA e ontem tinha gente uma em cima da outra, eu sentia do palco. A gente veio antes para Seattle numa ação rápida, um show e uma sessão para rádio. Agora está sendo para valer. E já ter dois shows sold-out nos faz ver que o que fizemos tocando em palcos da Irlanda, da Inglaterra, da Europa nos fez chegar aqui com essa expectativa.”

O “para valer” a que Chatten se refere incluiu, além dessas duas apresentações nova-iorquinas citadas pela Popload, nada menos que NOVE apresentações semana passada no festival South by Southwest, em Austin, Texas, a principal vitrine de música nova no planeta. E onde bandas pequenas, quando estão muito “disputadas”, tocam umas quatro vezes no evento, se tanto.

Para David Frickle, editor sênior da “Rolling Stone”, um dos mais aclamados jornalistas musicais americanos, o Fontaines DC fez uma das grandes descobertas do Sxsw deste ano (o Boogarins também). “I’m not looking forward to the day I have to share this band in bigger rooms. But it is coming soon, and they’re earning it. See Fontaines D.C. in this kind of squeeze and mayhem while you can.” O radialista Steve Lamacq, gênio da BBC 6 Music, disse, antes de tocar uma música do grupo irlandês, que foi ver o Fontaines DC três vezes em Austin.

O Fontaines DC está inserido num movimento curiosamente batizado na Inglaterra de “post-brexit punk scene”, apesar de ser uma banda da Dublin do U2, na República da Irlanda, e não estar nem aí para “questões britânicas”. A Irlanda deles faz parte da União Europeia.


“Os jovens na Irlanda não estão muito preocupados com Brexit porque isso não é problema nosso, de um certo modo. Temos nossas lutas e envolvimentos muito claros por lá. Tem muita coisa acontecendo agora na Irlanda, tudo em direção de escolhermos políticos melhores, brigar pelos direitos de as mulheres fazerem aborto. Brexit é só um assunto que pode apenas nos desviar a atenção de nosso principal foco, que é outro. Mas talvez tenhamos problemas na fronteira com a Irlanda do Norte [Reino Unido] por isso, por causa de algum conflito, desintendimento. Sobre fazer parte dessa cena post-Brexit, na real, não ligo. Não penso se isso é bom ou ruim”, explica Chatten.

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O post-brexit post punk scene começou com um elemento estranho na música jovem inglesa uns quatro cinco anos atrás, quando bandas como Shame, Fat White Family, Slaves e Girl Band (da mesma Dublin do Fontaines DC) começaram a chamar a atenção para um rock “novo”, cheio de energia e letras que vão “direto ao ponto” no mundo de hoje. Principalmente o mundo europeu. Agora virou uma cena real deal.

Embora alheio ao Brexit, o Fontaines DC foi musicalmente dragado para essa nova cena punk que chacoalha o Reino Unido não só com uma energética música boa, mas também com o chamamento jovem bem contundente para questões como política, economia, imigração (contra e a favor), feminismo e machismo. É muito sério.


É o ressurgimento do rock político, dizem na Inglaterra. Faz as guitarras voltarem a respirar no mar de pop, hip hop americano e trap que assola a música jovem na ilha da rainha.

Grupos como Idles (o mais famosinho deles, com dois discos, o segundo lançado no finalzinho do ano passado), Eyesore & The Jinx e Fontaines DC já são a segunda onda imediata, para levar isso para um público muito maior.

“Dublin in the rain is mine. A pregnant city with a catholic mind. My childhood was small, but I’m gonna be big”, grita Chatten no já conhecido single “Big”, que vai abrir seu disco de estreia, enfim o esperado disco cheio do Fontaines DC.

Alguém duvida?

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* A foto p&b da banda no parque é de Deborah Sheedy. A imagem colorida do grupo é de Daniel Topete. A terceira foto, de Grian Chatten em ação, é minha, tirada em show de Nova York, no Union Pool.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 25/03/2019
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