Mark Lanegan lança biografia contando que Cobain ligou para ele antes de se matar. E ele não quis atender

Mark Lanegan lança biografia contando que Cobain ligou para ele antes de se matar. E ele não quis atender Foto: divulgação

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* A história já apareceu aqui e ali, mas agora está documentada.

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Saiu ontem na capa de cultura do jornal inglês The Guardian, pelo menos capa da versão digital a que eu assino, um texto a mim de infelicidade chocante sobre o livro que o roqueiro Mark Lanegan, que adoramos, está lançando sobre suas memórias. E que memórias.

O título da biografia é “Sing Backwards and Weep”, algo como “Cantando para trás e chorando”. O título da reportagem/entrevista é “A heroína me impediu de morrer de alcoolismo, conta o grande sobrevivente do rock”. Leve, o negócio.

O início do texto do “Guardian” é tão pesado como brilhante. Em pouco mais de dois parágrafos, a jornalista que escreveu, Jude Rogers, vai do nascimento de Lanegan, o pai beberrão, a mãe abusiva, seu vício em bebida, pornô e ladroagens AOS DOZE ANOS, as posses de drogas, vandalimo e fraudes cometidas aos 18 anos, até aos 21 anos estar no grupo pré-grunge Screaming Trees, apenas uma opção para ele fugir da modorrenta e empoeirada cidade onde cresceu, Ellensburg, no Estado de Washington.

Diz o texto que, aos 29 anos, oito discos depois, ele se encontrava vivendo em Seattle, fumando tresloucadamente, acendendo um cigarro no anterior, de roupão de banho e cueca suja, vendo novela na TV, quando um de seus melhores amigos ficou ligando insistentemente. Mas ele não quis atender.

Era Kurt Cobain. Que se mataria mais tarde naquele dia de 1994. O pior é que Lanegan desconfiava que podia ser Cobain ao telefone, está no livro autobiográfico, lançado nesta terça-feira. Mas ele achou que o brother do Nirvana iria pedir a ele para comprar droga, o que acontecia frequentemente.

Eles foram amigos muito próximos, por anos. Lanegan diz na obra que conhecia Cobain bem antes da fama e tinha bastante carinho por ele. Mas Cobain não só ligava direto querendo que Lanegan fizesse o corre das drogas como constantemente na sua frente brigava muito com a mulher, Courtney Love, e isso deprimia o cara do vozeirão do Screaming Trees.

Lanegan, claro, ainda que no meio dessa situação triste em que os dois viviam naquele pós-grunge deprimente em que todo mundo do rock ou estava se matando ou morrendo de overdose, se arrepende de não ter conversado com o amigo ao telefone. E que as partes sobre Cobain no livro foram muito difíceis de escrever. Assombra Lanegan também saber que, na época, Kurt afirmava a ele que andava ouvindo muito Screaming Trees, o que o fazia imaginar que suas canções poderiam ter ajudado o amigo a cometer o ato final de desespero.

O bizarro da história. Lanegan viveu ou continuou vivendo numa bad tão grande mesmo depois do suicídio do amigo não atendido. Ele até conta, que naqueles tempos, correu o risco de ter um dos braços amputados de tanto que injetou heroína nele. Chegou até, num tormento da ocasião, durante uma turnê do Screaming Trees, pedir a um de seus técnicos de som que procurasse uma prostituta para ele ter o último “blow job” como uma pessoa “normal”. O cara falhou na missão.

Braço e vida de Lanegan, também está na biografia, acabaram salvos, veja só, pela viúva Courtney Love, que tirou o roqueiro da lama e pagou todo o tratamento de rehab para ele.

Que história!

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Para não dar mais spoiler do livro, mas já dando, “Sing Backwards and Weep” envolve histórias com Anthony Bourdain, o famoso chef que se matou em 2018 no mesmo período em que o incentivava a escrever essa bio, com Iggy Pop, Liam Gallagher, o hit indie “Nearly Lost You”. A palavra “heroína” aparece 102 vezes na obra.

Na semana que vem, dia 8, para acompanhar o livro, Mark Lanegan lança mais um álbum solo, “Straight Songs of Sorrow”. Do projeto, conhecemos já os singles “Bleed All Over” e “Skeleton Key”, que já trouxemos aqui para a Popload.

O novo álbum de Lanegan traz participações luxuosas de nomes como John Paul Jones (Led Zeppelin), Warren Ellis (Nick Cave and the Bad Seeds), Greg Dulli (The Afghan Whigs) e Ed Harcourt. Estamos aqui no aguardo do disco.

O selo de shows Popload Gig já trouxe Lanegan duas vezes para se apresentar em São Paulo. Uma de modo acústico em 2010, no Beco 203, rua Augusta. A outra, com banda completa em inesquecível show com banda e tudo no Cine Joia, em abril de 2012, há exatos oito anos.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 01/05/2020
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