Nine Inch Nails aparece ousado em “Bad Witch”, terceira parte de trilogia que se iniciou em 2016

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Quando Trent Reznor anunciou que seu Nine Inch Nails iria lançar uma trilogia de EPs, começando em 2016, os fãs não sabiam bem o que esperar. Já houve ocasiões em que projetos foram prometidos pela banda, mas nunca lançados, então uma trilogia parecia algo distante e intangível. Cá estamos, em 2018, e a tal terceira parte da trilogia acaba de chegar, com Bad Witch, a ser lançado oficialmente nesta sexta-feira, 22 de junho, um EP que virou LP no meio do caminho (calma lá, logo explicamos). O resultado está na mesma linha de qualidade que os lançamentos anteriores, mas com algumas mudanças significantes no som, que ora são incríveis, ora são só um pouco esquisitas.

Reznor justificou que Bad Witch foi classificado como um álbum completo (ou seja, um LP) para ganhar mais destaque em serviços de streaming como o Spotify. Apesar da duração de apenas 6 faixas e 30 minutos, a decisão faz sentido, pois os dois EPs anteriores da banda ainda encontram-se agrupados com os seus singles na plataforma de música, bem abaixo dos lançamentos principais. Mas continua tendo cara de EP? Continua.

As duas primeiras partes da trilogia (Not The Actual Events, 2016, e Add Violence, 2017), focaram em um som introspectivo, que retomava temas antigos da banda e os reutilizava para construir algo com cara de novo. Bad Witch fecha a trilogia pendendo mais para a subversão desse som.

Todo o disco segue uma estrutura incomum, que se adequa bem à duração curta do projeto. A abertura com a dobradinha “Shit Mirror” e “Ahead of Ourselves” é escancarada, com uma distorção exagerada no vocal e nos instrumentos que tira qualquer pretensão de fazer um som pop ou fácil. Chega a ser desorientador nas primeiras audições, mas é possível imaginar uma versão mais “limpa” e tradicional dessas músicas, onde o resultado provavelmente seria esquecível.

O ouvinte que chegar à terceira faixa, a instrumental “Play The Goddamned Part”, provavelmente já saberá o que esperar, e não será pego tão de surpresa pela inclusão bem evidente de um saxofone. Sim, Reznor também toca saxofone, e sua decisão de colocar o instrumento no disco foi uma forma a mais de tentar desafiar as concepções de som do Nine Inch Nails. Deu certo, especialmente no single “God Break Down The Door”, que demora a ser digerido, mas tem uma dinâmica que lembra os melhores momentos da fase Outside / Earthling do David Bowie.

Infelizmente, uma segunda faixa instrumental, “I’m Not From This World”, tira um pouco do impulso do álbum. Longe de ser uma música ruim, sua inclusão acaba parecendo desnecessária frente a coisas mais interessantes – ainda mais considerando que Trent Reznor e seu parceiro de estúdio Atticus Ross já lançaram quase 10 horas de música instrumental nesta década, como parte de trilhas sonoras.

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Como ocorreu em partes dos dois EPs anteriores, as letras ainda parecem questionar a relevância / obsolescência do NIN nos dias de hoje. Em um momento, Reznor canta: “Obsolete, insignificant, antiquated, irrelevant / Celebration of ignorance / Why try change when you know you can’t?” Em seguida, manda: “I think this keeps happening / Over and over again / Feel like I’ve been here before / I’ve always been 10 years ahead of you.” Obviamente, qualquer interpretação de letras é subjetiva, mas parece que a trilogia como um todo fala sobre o próprio processo criativo da banda, após 30 anos e ter tentado “de tudo”. Uma análise sincera do que funcionou (ou não) no seu histórico, e uma dicotomia confusa entre o que é inovação e repetição.

Para uma banda que existe há tanto tempo quanto o NIN, ter uma música que possa competir com o seu material clássico, já é saldo positivo. Neste caso, a música é a excelente “Over and Out”, que basicamente soa como LCD Soundsystem sendo cantado por David Bowie. Nela, há uma das melhores linhas de baixo a aparecer em qualquer trabalho do Nine Inch Nails, e um trabalho vocal de Reznor arriscado, como nunca foi ouvido antes. Com seus mais de sete minutos, é o encerramento perfeito para o disco. Se você for ouvir só uma faixa, vá direto nessa.

Ao fim deste terceiro lançamento da série, fica o surpreendente alívio de ver o processo chegar à sua conclusão, e de a mesma não decepcionar. Os três discos (EPs ou LPs, como preferir) têm identidade própria, dando margem para eternas discussões entre fãs de qual é o melhor, e acabam sendo mais fáceis de ouvir do que um LP de uma hora, como foi com Hesitation Marks (2013). Bad Witch, longe de ser perfeito, é o mais ousado dos três, e corre o risco de ser o menos apreciado. Mas, numa discografia excelente cheia de imperfeições, está muito bem situado.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 21/06/2018
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