Top 10 Gringo – Quadeca, serpentwithfeet e Friko, quem?, encabeçam o ranking na semana da Dua Lipa

Esta semana rendeu, hein? Vários lançamentos incríveis e vindos de nomes que a gente nem conhecia (tanto) ainda. Muitos artistas novinhos que nem a imprensa estrangeira consegue capturar – quem descobre eles são os fanáticos por música que promovem as novidades em agregadores de notas. Movimento interessante. Daí em diante a gente se empenhou em ouvir tudo, pesquisar e aqui está o resultado. Lógico, isso tudo não impediu que a gente mandasse a nova da Dua Lipa por aqui também, porque, né…

De tempos em tempos, o disco mais comentado em agregadores de notas por aí – espécie de Letterboxds de música – é totalmente ignorado pela imprensa tradicional. É o caso do novo álbum do Quadeca, codinome do jovem americano Benjamin Lasky, que começou a carreira viralizando no YouTube. Mil notas positivas por aí, nenhuma em um veículo conhecido. Fomos checar e seu som, além de ótimo, é daqueles que as pessoas tentam amarrar com termos bizarros, tipo glitch hop, folktronica, glitch pop e emo rap. É doido mesmo. Seu álbum varia entre guitarras que citam o timbre de “Purple Rain” até coisas que soam como bossa nova. O espírito do disco realmente é um encontro do emo com o hip hop – emo pelo tom das composições introspectivas, hip hop pela inteligências em amalgamar referências diversas. Massa demais.

Nas palavras de serpentwithfeet, nome artístico adotado pelo jovem Josiah Wise, seu novo álbum “celebra momentos privados com um parceiro e a vida noturna negra queer”. O rapaz de Baltimore, EUA, que adoraria escrever uma canção com Tom Jobim, conta que cresceu moldado por mãos pesadas e isso explica o seu jeito de falar sobre o toque por aqui: como acreditar que existe afeto crescendo ao redor da violência? Como confiar na intenção e na intensidade de um toque carinhoso, um gesto que vem da mão, um gesto tão próximo do tapa? Ao juntar os dois temas chegamos a canções noturnas e perfeitas para uma balada soando românticas e intensas – isso corre pelo disco todo, mas está mais bem definido na viciante “Safe World”.

Lembram o lado doce dos discos do White Stripes? E daquele violão na nossa cara do Belle & Sebastian? E do desespero vocal do Thom Yorke no comecinho? São pedaços do passado que encontramos em “Where We’Ve Been”, som que abre  “Where We’ve Been, Where We Go from Here”, álbum de estreia do duo americano Friko. É o aviso de que algo bom vem aí. E a duplinha de Chicago atende nossas expectativas, vão além das referências e entregam suas próprias emoções e visões do mundo. O pique nas faixas seguintes ampliam ainda mais a gama de referências para os fãs dos rock no começo deste século: “Crimson to Chrome” e “Chrashing Through” são das coisas mais empolgantes que escutamos em tempos no gênero. O rock foi salvo mais uma vez.

Ficou famosa a frase da mãe de Kurt Cobain dita logo após o suícidio do filho: “Agora ele se foi e se juntou àquele clube estúpido”. O clube estúpido é dos artistas que morreram aos 27 anos: Joplin, Hendrix, Morrison, entre tantos outros. É justamente a esse clube que Tierra Whack se refere por aqui. Em um momento sombrio da vida, ela quase entrou para a lista do estúpido clube. Ao abordar o tema com tamanha crueza, Tierra tenta mostrar o quanto banalizam um assunto sério. E aconselha aos que sofrem que a dica é se manter firme, seguir, a fase difícil passa – ela é prova viva disso. A palavra-chave é generosidade – de quem sofre consigo mesmo; de todos nós com as pessoas ao redor.

Já falamos hoje de uma banda jovem que está salvando o rock. Saibam que tem outra artista novinha salvando um outro gênero. É a Nia Archives, DJ inglesa que está colaborando com uma novíssima safra do jungle, gênero que explodiu nos anos 90 e desembocou no drum’n’bass. A real é que o jungle sempre esteve por aí, mesmo nas baixas. O que Nia com seus 20 e poucos anos faz é dar uma energia nova ao lance. “Silence Is Loud”, uma track que toca alto nos fones, é prova disso – o tipo de música que te tira de uma zona de conforto. Para os ouvidos mais sensíveis, recomendamos o outro single recente dela, a leve “Crowded Roomz”, que é tão dançante quanto “Silence Is Loud” ainda que mais introspectiva. Fora o lindo verso: “I feel so lonely in crowded rooms”. Para a “NME”, Nia comentou: “Sem o jungle, não teríamos o garage, o grime ou drill”, estilos hoje superpopulares. Voltar ao começo sempre é um passo interessante. Não é nostalgia, é reavaliação e reconstrução.

Les Amazones d’Afrique é um supergrupo de artistas do continente africano que nasceu com objetivos bem específicos: 1 – fazer campanha pela igualdade de género e erradicar a violência ancestral, 2 – reunir diversas expressões sonoras do continente em um único trabalho, de linhas mais tradicionais até as mais modernas. No terceiro álbum do projeto, as vozes de Alvie Bitemo, Dobet Gnahoré, Kandy Guira, Mamani Keïta, Nneka, Fafa Ruffino dão o tom da vez em uma experiência vibrante e dançante, explícita na faixa-título “Musow Danse”. Bom para ouvir no repeat e depois ir buscar os trabalhos individuais de cada colaboradora. 

Referência maior quando o assunto é indie rock, o velho Grandaddy parecia ter encerrado as atividades para sempre quando o baixista Kevin Garcia morreu, logo após o álbum que marcou a retomada da banda, em 2017. Mas, sim, eles estão de volta. “Blu Wav” é um disco conceitual a partir de uma epifania do líder da banda Jason Lytle. Escutando rádio, Jason imaginou juntar o aspecto lento do bluegrass com elementos da new wave. E é assim que nasceu a pegada country que percorre todo o disco. Calminho, calminho. Para se ter uma ideia, a maioria das músicas do disco estão em tempo de valsa.  

Dua Lipa está atrás da pessoa certa. As exigências são simples: tem que saber o que quer, ter firmeza, sensibilidade, responsabilidade. A pessoa que faz e acontece junto com ela – nada de parasitas. “É pedir muito?”, ela canta em determinado momento. Menos que isso, sem chance, a temporada de treino acabou. Fora o recado assertivo, a música é outro estouro viciantes da Dua Lipa na sua parceria com Kevin Parker, o Mr. Tame Impala.

As novas do duo canadense Chromeo fazem um bem para a nova da Dua Lipa. A pegada disco/funk que sempre fez parte do duo está em ótima fase – é verdade que os caras andaram numa longa baixa, mas o álbum “Adult Contemporary”, lançado sexta passada, parece colocar a casa em ordem. 

Fã de um eletro-indie pique CSS e com saudade de ouvir algo novo nessa linha? Invista um tempo no quarteto de Brighton, Reino Unido, formado por Chloe Howard, Annabel Whittle, Leila Deeley e Tippi Morgan. A pegada é divertida e descompromissada, como avisa o versinho desta música aqui: “You know that I love you but this is not a love song”.


* Na vinheta do Top 50, o americano Quadeca.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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