Top 50 da CENA – Don L e a tal da Liberdade em primeiro. Varanda inaugura seu pódio. E Sophia Chablau, claro

Liberdade já cantou. E assim que chegamos em mais um Top 50, nossa radiografia semanal do que acontece dentro do Brasil – esse lugar que oferece ao mundo a melhor música do mundo. Dos temas cantados nesta semana, tem papo sobre liberdade, neurose, ansiedade, relacionamentos, idas e vindas. Um tanto de muitas coisas. Aprecie. 

“Lili” é uma música feita por Don L antes de “Roteiro pra Ainouz, Vol.2”. Sua escrita ajudou na construção do álbum lançado em 2021. Para os fãs, a track surgiu quando foi revelada por Don no podcast “Rap, Falando”, onde ele foi divulgar o disco recém-lançado. Como não existe fã que em contato com algo inédito não peça seu lançamento, a turma exigiu uma liberação oficial da música.  E “Lili” aparece agora justamente para encerrar o ciclo de “RPA, Vol.2”. Como nenhum verso é por acaso na obra de Don L, a faixa aparece no dia 7 de setembro – o primeiro em quatro anos sem a sombra ditatorial de um golpe de estado. A liberdade sonhada no disco é real aqui e de muitos significados, pois é uma música que fala ao coração de quem foi ou está encarcerado de maneira arbitrária no Brasil, onde muitos estão atrás das grades sem julgamento, sem processo. Mas a liberdade sempre canta. 

Todo mundo sabe o que é uma neurose, mas é difícil reduzir o sentido da palavra ou sua relação com ela em poucas palavras. Em seu novo álbum, “Música do Esquecimento”, Sophia e cia transformam a neurose em música tortíssima, com as palavras se esforçando muito para se encaixar na métrica proposta. Ironia das ironias, uma música sobre algo que não é fácil de lidar e é das mais divertidas em uma coleção que passeia por temas bem mais agradáveis. Quando alguém te perguntar a definição de neurose toque esta música. 

E, por falar em neurose, pense agora em ansiedade. É o sentimento que aparece nos versos de “Vontade”, bom novo single dos mineiros do Varanda. “Sonho/ Um tanto mais que penso/ Corro/ Um tanto mais que ando”, canta Amélia do Carmo. A faixa parece aquela descrição nostálgica dos amores complicados da adolescência ou dos que se mantêm muito tímidos pela vida. “Tanto ensaiei te dizer quanto eu te quero/ Como se fosse uma chave pro incerto ser mais certo.”

“tds bem Global” é a estreia solo de dadá Joãozinho, artista de Niterói que vive em São Paulo e absorveu a cidade grande e cinza a seu modo. Em sua música, parece dosar um tanto da praia e das vistas bonitas da infância com as paisagens fechadas da capital paulista pandêmica. “Pai e Mãe” parece algo que Caetano Veloso escreveria se tivesse crescido ouvindo trap em vez de João Gilberto. Ainda pensando em Caetano, dadá é mais “Araçá Azul” que “Transa”. Entende?

A região Norte do Brasil está fervendo de artistas novas interessantes. Aos poucos, estamos pirando em Karen Francis, Gabi Farias, Anna Suav, Anne Jezini, entre outras. E outros. Uma boa forma de adentrar essa turma é colar no álbum da Karen, “Anos Luz”. R&B de primeira linha – prontinha para tocar em todas as boas rádios deste país. 

“Um Tijolo com Seu Nome” é dos nomes mais certeiros que já vimos para um álbum. O novo do Lupe de Lupe é de fato uma série de tijoladas com nomes de pessoas – engraçado que só não tem o nosso… Só ouvindo para entender: as guitarras são estridentes, altas, muito altas, a voz fica quase o tempo todo lá no fundo da mixagem. Não é aquele disco que soa como se fosse a banda ao vivo, é outra coisa, ainda mais na cara – uma sonoridade rara mesmo. Como o Lupe de Lupe, só existe o Lupe de Lupe. Não sai um disco assim todo dia. Toma essa, roqueiros do Brasil. Não queriam mais guitarras? 

Existe sempre uma cobrança do mundo, às vezes também uma cobrança interna, para que o artista encontre sempre novos caminhos. No mundo da música, já vimos muitos encontrarem novos sons e timbres, mas poucas vezes você presencia um artista mudando sua voz e sua postura diante das músicas. Isso é um pouco do que dá para flagrar em “Invisível Azul”, no álbum do rapper paulistano Xis, seu primeiro disco em muito tempo, após várias mixtapes e singles. Escutamos aqui um Xis com uma colocação vocal muito diferente, explorando distintas abordagens em cada faixa – coisa complexa mesmo, fruto da experiência. Um presente de Xis para o hip hop no cinquentenário do gênero – presente daqueles que só quem é vai sentir. 

No repertório de João Gilberto existem canções que são de outros autores que parecem mais dele do que qualquer outra coisa. Músicas que foram remodeladas de forma que são de João Gilberto. E aqui que é tocante a sensibilidade de Bebel em escolher muito bem 11 delas, em um repertório muito preciso onde a filha faz um retrato carinhoso, como quem faz uma lembrancinha ao pai. “João”, o álbum de Bebel para João, não tem invenção nenhuma a não ser respeitar a “invenção” de João. E aí que está seu brilho. 

1m16s. Até para a geração Tik Tok parece que a Luísa Sonza apelou para fazer uma música tão curta. Não que compor canções curtinhas sejam uma novidade, imagine. Mas chama bastante a atenção o formato bizarro: estrofe em alta velocidade, refrão, repetição da estrofe e uma miniponte, que na real é o fim da música. Ficou estranho. Ou seja, gostamos.

Tigres ou tigresas estampam a bela capa de “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”, o novo álbum de Ana Frango Elétrico, prometido para 20 de outubro deste ano. A senhorita Elétrico deixou a cena em choque, hehehe, com seus primeiros lançamentos – “Mormaço Queima” (2018) e “Little Electric Chicken Heart” (2019). Tudo antes da pandemia, tempo em que vimos a Ana passeando pelas obras dos colegas em colaborações das mais diversas: backings, produções e até fotógrafa de capa. Com letra totalmente em inglês e lançamento mundial previsto, é questão de tempo para Ana Frango Elétrico conquistar o mundo. Justo. 

11 – Gabriel Ventura – “A Queda para o Abraço” (7) 
12 – Leves Passos – “Atrás dos Olhos” (8)
13 – Rudriquix – “Admirável Ouvido Novo” (9)
14 – Tantão – “Oi Cat” (10)
15 – Luna França – “Gira” (11)
16 – Clarice Falcão – “Podre” (13)
17 – Tatá Aeroplano – “Alquimia Sensual” (14)
18 – Sessa – “Gostar do Mundo – Demo” (16)
19 – Supla – “Transa Amarrada” (17)
20 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (18) 
21 – DJ K – “Isso Não É um Teste” (19) 
22 – Ultraviolet –  “Felicia” (21)
23 – Luiza Lian – “A Minha Música É” (22)
24 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (23)
25 – Nina Maia – “Sua” (24)
26 – Gui Hargreaves – “Somewhere to Start” (25)
27 – Garotas Suecas – “Todo Dia É de Mudança” (26)
28 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (27) 
29 – Planet Hemp – “Salve Kalunga” (28)
30 – Ema Stoned -“Vale da Lua” (30)
31 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (31)
32 – João Donato – “Flor de Maracujá” (32)
33 – Ava Rocha – “Disfarce” (33)
34 – Terraplana – “Conversas – Ao Vivo” (34)
35 – Holger – “Vida Orgânica” (35)
36 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (36)
37 – Terno Rei – “Mercado” (37) 
38 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (38)
39 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (39)
40 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (40)
41 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (41)
42 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (42) 
43 – Troá! – “Que Pena” (43)
44 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (44)
45 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (45)
46 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (46)
47 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (47)
48 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (48)
49 – Rincon Sapiência – “XONA” (49)
50 –  ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (50)

***
* Na vinheta do Top 50, o rapper Don L.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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