Top 50 da CENA – Môa do Katendê volta ao seu lugar: o primeiro. Janu sobe ao segundo. Dupla ÀVUÀ fecha o pódio 

Rapaz, e esse segundo turno, hein? Vamos ter que repetir umas ideias musicais por aqui, então. Primeiro pelo primeiro lugar e depois em várias canções que a gente decidiu recuperar para comentar mais uma vez ou até pela primeira vez por ter deixado passar batido em alguma semana tumultuada – e qual que não é, né? Vamo que vamo. 

Môa do Katendê foi assassinado após uma discussão com um eleitor de Bolsonaro, na madrugada após o primeiro turno das eleições de 2018. Em 2022, crimes semelhantes a esse voltaram a acontecer. Quem alastra esse ódio? Mestre de capoeira, compositor e percussionista, Môa sempre trabalhou pelo afeto. Na época em que tiraram sua vida, ele trabalhava em um álbum com composições suas. Para colocar no mundo aquele projeto interrompido, BaianaSystem, Chico César, Emicida, Fabiana Cozza, GOG, Kimani, Jasse Mahi, Lazzo Matumbi, Letieres Leite, Luedji Luna, Márcia Short, Mateus Aleluia Filho e Rincon Sapiência criaram em cima do material composto. O disco, que foi produzido na Mandril Audio pelo Rodrigo Ramos, ainda não está no ar. Mas um outro single chegou: é esta sacolejante “Veía Coló”, que traz no feat. o Edgar e o BNegão. 

Para ir atrás de uma boa brisa, fomos lá no 21° lugar para recuperar a solar canção de Janu, que anda batendo forte por aqui à medida que vamos escutando mais. “Segue em frente, vai/ Sei que nada mais te machuca, vey”. O alagoano, que não tem receio de misturar arrocha com dream pop, faz aqui uma deliciosa canção capaz de ajudar a gente a sacudir a poeira mental e se levantar atrás dos objetivos – mesmo que esses sejam ficar bem tranquilinhos, numa nice. 

A dupla mais harmoniosa do Brasil hoje, ÀVUÀ, encontro das belas vozes de Bruna Black & Jota.Pê, lançou seu primeiro e aguardado álbum, “Percorrer em nós”. É um disco curtinho, só 25 minutos, mas com novidades da preciosa reunião. A gente tá falando hoje em encontrar um pouco de luz? O duo conta que essas canções do disco são “uma proposta de mergulho nos mais diversos sentidos do afeto”. A música do ÀVUÁ é doce sem perder a força, como tirar um tempo, tomar um ar, mas sacar que a luta segue. Naquela coisa, a vida não precisa só acontecer enquanto fazemos outros planos, para parafrasear um certo poeta. 

Por falar em amor, cabe mais uma nessa linha? Vamos do verso “O amor é a cura” que Xênia canta aqui nesta belíssima “Ânimus × Anima”. Mais um verso potente da música? “Tira essa armadura, irmão/ Mentiras servem só de prisão.”  A gente bobeou feio em ainda não ter incluído nenhuma de “Em Nome da Estrela” neste Top 50. O novo álbum da Xênia França saiu lá em junho e a gente vacilando – é dos discos mais bonitos do ano, em perspectiva. Futuro e ancestralidade caminhando juntos por aqui. Xênia sabe e demonstra que o passado cantou o futuro e que ele pode ser melhor que o presente. Tenha certeza. 

Por falar em amor, parte 2. Outra faixa de destaque de seu novo álbum da paulistana Giovanna Moraes, “Para Tomar Coragem”, onde tudo é à flor da pele aqui: a voz dela, a bateria inquieta, as guitarras potentes sem medo de ser e principalmente a linha de baixo, que parece imitar um coração batendo forte. Mais uma música radiofônica para rádios de rock que não vacilam. Existe?

A gente também já escreveu isso aqui algumas vezes. Wry em inglês é sempre bom, mas em português é ainda mais saboroso. E a banda chegou chutando a porta aqui, tanto que, de novo, fomos resgatar uma música já dada aqui para voltarmos a falar dela. A pegada pós-punk nesta “Sem Medo de Mudar”, título que por si só já diz muito, é daquelas que deixam a gente imediatamente em alerta, com vontade de andar por ruas estranhas em dias nublados. E que medo de mudar será esse? Mas sem misturar com política, a cinzenta canção em português do Wry traz anotações para se ter sempre em mente. “Lembre-se, meu amor, sou tão humano quanto você”? Não ter medo de mudar e superar uma fase difícil não é o mesmo que dizer que isso será fácil. 

O novo single da banda Do Amor vem de uma bonita história de… amor… em forma de amizade. O baterista Marcelo Callado ficou amigo do poeta Domingos Guimaraens por ambos serem fãs da clássica banda Mulheres Que Dizem Sim. Callado passou de fã a colega de todos aqueles músicos, proximidade que Domingos teve também. Mas que não o levou para o mundo da música. Até agora. Na pandemia, Callado encontrou um poema de Domingos pelas timelines da vida e musicou. Amigos há quase 30 anos, Domingos e Callado agora são parceiros musicais. 

Tá chegando a hora do Popload Festival e uma das atrações nacionais que vai colar é a Jup do Bairro. Por isso voltamos a dar um play no maravilhoso EP “Corpo Sem Juízo” – e, já que teve Deize Tigrona no primeiro lugar semana passada, nada melhor que conectar essa homenagem de Jup a ela, já que tem participação da própria Deize. Queremos essa no show, Jup. Vai rolar? Em tempo? Já ouviu o mash up que o Raphael Bertazi fez desta música com o hino “Debaser”, dos Pixies? Nããããããão?

Já na disputa por ser uma melhores do ano, o título de música mais divertida do ano provavelmente ninguém tira de “Sururu das Meninas”. Deize Tigrona chega chegando na abertura do seu álbum “Foi Eu Que Fiz”. Seu novo disco marca de vez a retomada de sua carreira.  Ainda que seja um dos nomes mais importantes do funk brasileiro, responsável em levar o estilo para o mundo e ajudar a derrubar o preconceito de muita gente com o gênero por aqui, Deize não costuma levar esse crédito e chegou a ficar dez anos sem trabalhar. O novo disco é a celebração desse retorno desde que ela assinou com a turma da BATEKOO Records. Vem que vem, Deize, hoje é dia de vencer, como canta Rico Dalasam.  

Faixas que aparecem nas versões de luxo de um álbum geralmente são continuidade daquele trabalho. Um lado B, algo que não coube na ideia original. Luedji Luna promete romper com essa tradição e conta que algo de muito diferente vem por aí na versão de luxo do excelente “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água”. O single “Nova Deli”, com produção e beat do rapper norte-americano Oddisee, é uma apaixonada composição de Luedji que dá a senha da novidade. Para se ouvir tão apaixonado quanto Luedji estava na hora que escreveu, hein?

11 – Tulipa Ruiz – “Novelos” (3
12 – Cecília Cecilina – “O Canto dos Sapos” (4)
13 – Planet Hemp – “Distopia” (5)
14 – João Gordo- “Tô Doidão” (6)
15 – Gab Ferreira – “Take Control (Interlude)” (7)
16 – Vanguart – “Oceano Rubi” (Estreia) (8)
17 – Marrakesh – “En Passant” (Estreia) (9)
18 – Multi-Homem – “Peru Pará” (Estreia) (10) 
19 – Pavilhão 9 – “Lados Opostos (11)
20 – Chico César – “Bolsominions” (12)
21 – Marina Gasolina – “Struck” (13)
22 – Spainy e Emicida – “Rap Pagode” (14) 
23 – Vírus – “Foice Facão e Peixera” (com EVYLiN e Urias) (16)
24 – Criolo – “Charlie Brown” (17)
25 – Number Teddie – “poderia ser pior” (18)
26 – Ubunto e Nara Gil – “Abafabanca” (20)
27 – Marrakesh – “Darkstars” (22)
28 – Tim Bernardes – “A Balada de Tim Bernardes” (23)
29 – Rashid – “Não Sabem de Nada” (24)
30 – Izzy Gordon – “A Ilha” (25)
31 – Winter – “Good” (26)
32 – Ombu – “Pare” (28)
33 – Jonathan Ferr – “Lá Fora” (com Coruja BC1, Zudzilla, Lossio) (29)
34 – Josyara – “MAMA” (31)
35 – Valciãn Calixto – “Adoção” (32)
36 – Maglore – “Para Gil e Donato” (33)
37 – José Miguel Wisnik – “O Jequitibá” (34)
38 – Black Pantera – “Isolamento Social” (35)
39 – Tom Zé – “Pompeia – Piche No Muro Nu” (36)
40 – João Donato – “Órbita” (37)
41 – Filarmônica de Pasárgada – “Saudosa Ma Loka” (38)
42 – Luli Braga – “Depois das Onze” (39)
43 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (40)
44 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (41)
45 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (45)
46 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (46)
47 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (47)
48 – Alaíde Costa – “Aurorear” (48)
49 – Saskia – “Quarta Obra” (49)
50 – Radio Diaspora – “Ori” (50)


* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o saudoso Mestre Môa do Katendê.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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