Top 50 da CENA – Môa do Katendê “volta” para pegar o primeiro lugar. Ombu emplaca o segundo. Marina Sena retorna toda especial ao ranking

Está frio ou calor aí na sua cidade? Vai saber, por aqui já esquentou, esfriou, uma maluquice. Maluquice adequada a nossa seleção desta semana, com músicas boas para o inverno e para o verão no mesmo dia. De acordo com nossa seleção espontânea, seja qual for a temperatura, o calor no coração é garantido, tanto para o amor quanto para a luta. Duas coisas sempre necessárias. 

Quando se fala em polarização no Brasil, chega-se a mencionar que os tais dois lados seriam agressivos. Que se tenha registro, até aqui só um lado atacou de maneira violenta, já que essas análises esquecem que Môa do Katendê foi assassinado covardemente após uma discussão com um eleitor de Bolsonaro, na madrugada após o primeiro turno das eleições de 2018. Enquanto uns querem esquecer isso, muita gente faz questão de lembrar e também celebrar a obra deixada pelo mestre de capoeira, compositor e percussionista. Em 2017, Môa trabalhava em um álbum com composições suas que só agora vai ser lançado, com a colaboração de diversos artistas que completaram o material que ficou pelo caminho – a lista é grande: BaianaSystem, BNegão, Chico César, Edgar, Emicida, Fabiana Cozza, GOG, Kimani, Jasse Mahi, Lazzo Matumbi, Letieres Leite, Luedji Luna, Márcia Short, Mateus Aleluia Filho e Rincon Sapiência. Criolo reforça essa canção de Môa que destacamos e foi escrita em homenagem à Embaixada Africana, afoxé considerado uma das primeiras entidades carnavalescas negras do Carnaval de Salvador, no final do século XIX. “Se não quiserem tocar no rádio, não precisa, a voz do povo é a voz da sabedoria”, diz o verso inaugural da música. Falou tudo, Môa. E mais: em outubro chega um documentário sobre ele: “Môa, Raiz Afro Mãe”, do diretor Gustavo McNair.

Considere essa historinha dos sonhos: você é uma banda paulista, grava um disco, faz todo o trabalho e manda para aquele produtor badalado dar um toque, uma ideia. Ele devolve com a pergunta: que tal regravar o disco inteiro em fita no Rio de Janeiro e sob minha batuta? Foi assim que Kassin fez quando recebeu o material enviado pelo trio João Viegas, Santiago Obejero Paz e Thiago Barros. A realização desse sonho é o maravilhoso “Certas Idades”; que tem tanta música bonita que pode ir se acostumando com ele aqui pelo Top 50. Vamos visitar todas que derem.  Ah, e os caras tão escalados para o Balaclava Fest junto com o Fleet Foxes. Tá?

Para celebrar um ano de seu falaaado álbum de estreia solo, “De Primeira”, Marina Sena resolveu revisitar quatro músicas do disco em grande estilo, com banda ao vivo e novos arranjos. A novidade acrescenta suíngue e uma nova pegada ao material, originalmente marcado pela habilidosa produção lotada de detalhes. Sem essa costura, as coisas ficam mais soltas, mas não se perdem. Além de boas sacadas, como ressaltar uma melancolia desta “Voltei pra Mim”. A música, que é sobre se libertar e se permitir, não escondia as dores desse processo na versão original, mas agora com Marina acompanhada apenas por um piano, parece que as cores mais escuras do quadro saltam da tela.  

Tá frio aí? Então, coloca o novo álbum do duo Nu Azeite, formado por Bernardo Campos e Fábio Santanna, para rodar. “Vem pro Mar”, segundo trabalho da dupla, esquenta qualquer parada com muito “trip hop, downtempo, boogie, disco, house com aquela pitada de Brasil para deixar tudo mais salgado”, como define Fábio. A vibração é muito Tim Maia, Sandra de Sá, Marcos Valle, pensa. E eles tocam no Rock In Rio no palco New Dance Order.

Lembra quando a gente pirou no álbum “Cura”, do pianista Jonathan Ferr? Pense que agora vamos ganhar uma versão modificada do refinado álbum. Ele explica: “Será meu terceiro álbum, ‘Liberdade’. Um disco de hiphop/jazz/neosoul criado a partir de samples do Cura”. Ferr vem trabalhando neste novo disco há um anos e se o que vier for no nível do primeiro single… Uma boa música para se proteger com os fones, como rima Zud. 

Sabe aquela música que dá vontade de morar dentro? A gente quer fica nesta boa vibração do encontro das vozes da sergipana Vitória Nogueira com o alagoano Bruno Berle, dono de um dos álbuns que a gente mais gostou neste ano, “No Reino Dos Afetos”. Tudo indica que o primeiro álbum solo de Tori, nome artístico de Vitória, vem pelo mesmo caminho, com produção dos bambas Bruno Di Lullo, Bem Gil e Domenico Lancelotti. 

Dias se passaram e estamos ainda mais apaixonados pelo segundo álbum da baiana Josyara. A gente já destacou várias músicas do disco por aqui e a da vez é o segundo som,  “ÀdeusdarÁ”, que revela uma das duas novidades na obra de Josyara: seu interesse por beats, estudo que ela aprofundou na pandemia, e por sopro, influência que ela atribui ao mestre Letieres Leite. Aqui quem dá a letra é o sopro, que embala sonoramente uma dolorida história sobre as mães que perdem seus filhos por conta do Brasil violentíssimo, em especial os jovens negros massacrados pelo racismo, presentes na violência policial e no descaso burguês. “Dentro da canção ponho a voz para chorar”, diz um dos versos.

Não é segredo o quanto a gente admira os trabalhos do piauiense Valciãn Calixto. Cada novidade que chega do homem, a gente para tudo para escutar. “‘Seus Olhos Viam Deusas”, o novo álbum, surge com uma forte promessa, que Valciãn detalha nesta fala: “Todas as músicas deste disco são, em alguma medida, canções de amor. Revelam desentendimentos, a reconstrução do significado desse sentimento, o autoamor, a capacidade de dar e receber amor, memórias de relacionamentos do passado, novos amores e, nesse horizonte, a possibilidade de adoção como uma nova fase para a continuidade e construção de família que o amor proporciona”. Um dos momentos mais bonitos do álbum é esta “Adoção”, que como o nome entrega fala sobre sonhar com o filho que irá adotar. Uma história de amor de pai ou de mãe/um comentário sobre a aflição de crescer e ainda não ter sido adotado, já que as estatísticas revelam preferências dos pais por adotarem crianças pequenas.

Nestes dias a gente estava falando do João Donato por aqui. E não é que a turma da Maglore em “V”, seu novo álbum, fez uma música em homenagem a ele e a Gilberto Gil? Para tal, a banda escapa do seu formato mais conhecido e vai ao violão falar um pouquinho mais baixinho. Uma faixa de agradecimento (“Ver o mar interceder/ Em minha paz, agradecer/ Na eternidade, me perder/ Deu saudade de você não por acaso) não por acaso é a saideira do variado disco da banda. Precisamos voltar a ele para comentar outros momentos “menos suaves”, por exemplo.

Você que é visitante de São Paulo ou é um paulista em plena Avenida Paulista se atenta a qual pedaço de lá? Aqui, Miguel Wisnik canta: “Antes da torre global/ Do Itaú Cultural/ Do metrô e da metrópole/ Da Parada Gay/ E do Réveillon/ Era ele, o velho, belo e bom/ Jequitibá do Trianon”. Daqui, pelo menos, deu uma vergonha de que qualquer lembrança do jequitibá seja mais vaga que a lembrança dos outros lugares e eventos citados. A razão é difícil de decifrar. Outra beleza desta música é pensar no vão do Masp, citado no verso que abre a canção (“Não havia Masp nem seu vão”). Pensar que aquele enorme espaço vazio já estava e não estava ali até o museu ser erguido dá um nó gostoso na mente. 

11 – Black Pantera – “Isolamento Social” (5)
12 – Antônio Nóbrega – “Galope Beira-Mar para Bispo do Rosário” (6)
13 – Tom Zé – “Pompeia – Piche No Muro Nu” (7)
14 – João Donato – “Órbita” (8)
15 – Francisco, El Hombre – “Arranca A Cabeça Do Rei” (9)
16 – Rohma – “@rroboboy” (10)
17 – Joyce Moreno – “Tantas Vidas” (com Mônica Salmaso) (11)
18 – Filarmônica de Pasárgada – “Saudosa Ma Loka” (12)
19 – NoPorn – “Nome Sujo” (13)
20 – Luli Braga – “Depois das Onze” (14)
21 – Djavan – “Sevilhando” (15)
22 – Rico Dalasam – “Guia de um Amor Cego” (com Céu) (16)
23 – Vanguart – “O Que Eu Vou Levar Quando Eu For” (17)
24 – Nobat – “Beira do Mar” (com Luli) (18)
25 – Kamau – “Aparte” (Avulso #06) (19)
26 – Rodrigo Ogi – “Feito Mágica” (20)
27 – Marissol Mwaba (Estreia) – “Parece Azul” (21)
28 – Giovanna Moraes – “No é No” (23)
29 – St. Aldo – “Curly Mind” (24)
30 – Tatá Aeroplano – “Na Beleza da Vida” (26)
31 – ÀVUÀ – “Famoso Amor” (28)
32 – Maurício Pereira – “Um Dia Útil” (30)
33 – Glue Trip – “Marcos Valle” (31)
34 – Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis – “Sé” (32)
35 – Bruno Berle – “Até Meu Violão” (33)
36 – Juçara Marçal – “Odumbiodé” (34)
37 – Mulamba – “Barriga de Peixe” (com Kaê Guajajara) (35)
38 – MC Tha – “São Jorge” (com Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Sueide Kintê) (36)
39 – Tim Bernardes – “Última Vez” (38)
40 – Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz – “Coisa n° 5 – Nanã” (com Caetano Veloso) (39)
41 – AIYÉ – “Exu” (40)
42 – Moons – “Best Kept Secret” (41)
43 – Alaíde Costa – “Aurorear” (42)
44 – Criolo – “Ogum Ogum” (com Mayra Andrade) (43)
45 – N.I.N.A. – “Anna” (44)
46 – Sérgio Wong – “Filme” (47) 
47 – Saskia – “Quarta Obra” (45)
48 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (46) 
49 – Radio Diaspora – “Ori” (48)
50 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o saudoso Môa do Katendê.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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