Top 50 da CENA – O pódio todo ao mestre João Donato, com carinho

2023 está uma dureza para os fãs de música brasileira. Foi a vez do grande João Donato partir nesta semana. Pianista, compositor e arranjador brilhante, fora a simpatia, gentileza e leveza que trazia no bolso, Donato traçou na nossa canção uma história rica que parte da invenção da bossa nova, da qual parece ter mais “culpa” do que ousou creditar a si, até os dias de hoje. O músico manteve conversa ativa com a nova geração e ele mesmo não parava de lançar novidades, basta lembramos do belo “Serotonina”, lançado não tem nem um ano. A postagem em seu Instagram que trouxe a mensagem de adeus veio com uma imagem solar, como João era. Inacreditável que não viveu por 100 anos. Permanece infinito em sua obra. 

Quando lançou seu último álbum, em 2022, João Donato apareceu no nosso Top 50, óbvio. Em uma apresentação ao vivo, fez questão de celebrar o feito com a plateia. Imagina, João. A gente que sorriu por aqui de ser lembrado pelo mestre no lugar sagrado que é o palco. Foi um gesto simples, mas de enorme carinho que nos marcou para sempre. Carinhoso, gentil, fino, elegante – né, Tulipa? Essa historinha é só uma das provas do quanto o homem estava na ativa, com sua música viva – música que ele sabia que tinha potencial de cura. Ninguém é o músico favorito de João Gilberto de graça. Esse foi e continuará sendo João Donato. Em uma nossa humilde seleção-homenagem de músicas suas, fiquemos com “Flor de Maracujá”, que marca sua linda parceria com Gal Costa; com “Ê Lalá Lay-Ê”, que dá o tom de seu balanço e doçura; e com “Órbita”, sua afirmação poética com o parceiro e produtor Ronaldo Evangelista. E muito obrigado por tudo.

Segue alta nossa ansiedade pelo novo álbum da Luiza Lian. Após a revelação do primeiro single, “Eu Estou Aqui”, que liderou nosso pódio na semana. “Desabriga” é uma canção de amor. Qual amor exatamente? Tantos. Em suma, é sobre a soma que faz o barco ir em frente, sobre entendimento. Fora a brincadeira com os múltiplos sentidos dentro de um simples “desabriga”. 

E, por falar em amor, que tal os versos “Mas ninguém (se livrou) se livrou de si (se livrou)/ Se livrou de si (se livrou)” presentes em “Disfarce” de Ava Rocha? Sobre separações, mentiras e desencontros? Consequências do amor? São perguntas de uma interpretação nossa. Vale você mergulhar e se arriscar por conta própria entre essas ondas. Afinal, é como escreveu a própria Ava: “Há rios embaixo do asfalto, assim como sangue sob a pele, e nós sob a lua absurda, sob o sol gigante e tudo o que nos resta: viver a poesia sem nenhuma explicação”.

“Ao Vivo na Vinícola” é uma sessão ao vivo registrada pela turma da banda curitibana Terraplana. Disponível em áudio e vídeo, o álbum dá a noção da dinâmica sutilmente construída pelo grupo – apoiada pelas imagens, a sonoridade da banda, que já é espacial, ganha um recorte que potencializa nossa imaginação. E deixa mais solar o ambiente cinzento do shoegaze do quarteto do PR. Ainda que um pôr-do-sol tímido.

Ao contrário do que disseram as “Más Línguas”, o Holger está mais forte do que nunca. Finalmente, a banda está oficialmente de volta – eles que não lançavam um álbum desde 2018 e esperaram a pandemia sossegar para fechar o trabalho desenhado em seu quinto disco. Entre letras que escondem recados e timbres que trazem sombra e calor, “Vida Orgânica” se destaca pela mensagem de querer puxar um freio na maluquice da vida, mas não para fazer menos. A ideia aqui é querer fazer mais, mas fazer o que se quer, sem chance para o tédio.  

Em “Zulu: Quarta Parede, Vol. 3”, o rapper Zudizilla encerra sua trilogia Zulu se aproximando como nunca do fã. É como se de fato ele quebrasse a quarta parede estabelecida em alguma medida até aqui. O ouvinte agora observa Zud de perto, em casa, com o filho no colo. Dessa nova perspectiva, cada vontade, sonho e palavra, se amplifica. Viramos confidentes de Zud. Entre várias participações especiais, destaques para o peso oferecido por Galo de Luta e Don L no par de faixas “Tempo”/”Tempo Ruim”. Ao juntar o líder do movimento dos entregadores antifascistas, que também é rapper, com um rapper que versa que é “mais guerrilheiro que MC”, Zud mostra que não é só bom escritor dos próprios versos, mas um sábio leitor e construtor de novas realidades coletivas. Só ideias certas, em outras palavras. 

O conceito de lado B é uma construção e tanto do pop. Mais do que o segundo lado do vinil ou a música que ficava “atrás” do single em um compacto simples, com o tempo virou sinônimo de banda desconhecida, de hit perdido e tantas outras coisas, até programa na MTV. Com o relativo assassinato da mídia física, o lado B persiste por fidelidade conceitual de alguns artistas. Por isso o Terno Rei batiza o seu EP de sobras do álbum “Gêmeos” de “B-Sides Gêmeos”. E a ideia funciona tão bem que um certo chavão cabe perfeitamente aqui: são lados B que poderiam muito bem ser lados A. E o fã vai se deliciar imaginando a posição “certa” delas no álbum original – o que sempre alimenta teses e longos papos de bar. 

11 –  Sain – “Aquelas Coisas Mais pra Frente” (5) 
12 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (6)
13 – Garotas Suecas – “Gentrificação” (7)
14 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (8)
15 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (9)
16 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (10)
17 – Raffa Moreira – “Beleza Exótica” (com Matuê e Jay Kay) (11)
18 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (12)
19 – FBC – “Químico Amor” (13) 
20 – Troá! – “Que Pena” (15)
21 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (16)
22 – Tuyo – “Zero Coragem (Acústico)” (18)
23 – Coruja BC1 – “Versão Brasileira” (com FEBEM e MC Luanna) (19)
24 – Mãeana – “Meu Pedaço de Pecado” (20) 
25 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (21)
26 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (22)
27 – Xis – “Isnaipa” (23)
28 – Tasha e Tracie com Kyan e Rapper Gregory – “Dia de Baile” (24)
29 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (25)
30 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (26)
31 – Ruadois – “Sprint” (27)
32 – Anttónia – “Me Leva” (com Giovani Cidreira) (28)
33 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (29)
34 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (30)
35 – Rincon Sapiência – “XONA” (31)
36 – TUM – “DTF” (32)
37 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (33)
38 –  ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (34)
39 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (35)
40 – BIKE – “Além-Ambiente” (36)
41 – Majur – “Tudo ou Nada” (37)
42 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (38)
43 – Marina Sena – “Meu Paraíso Sou Eu” (39)  
44 – Mateus Fazeno Rock – “Indigno Love” (com Brisa Flow) (40) 
45 – Julia Mestre – “do do u”  (42)
46 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (43)
47 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (44)
48 – Iara Rennó – “Iemanjá” (45)
49 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (46)
50 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (48) 


* Na vinheta do Top 50, o músico João Donato, que nos deixou nesta semana.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.


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