Top 50 da CENA – Respeita as minas do afrobeat. Funmilayo está no topo. TUM chega ao segundo lugar já com o primeiro single. JP come um arroz de polvo em terceiro (mentira!)

Era para ser em ritmo de Copa, mas deu tudo errado. Mas, se o futebol falhou, a gente segue celebrando a melhor música do mundo: a nossa. Tem outros campeonatos pela frente, não é assim que fala? Este é o penúltimo Top antes das férias e da nossa lista definitiva dos melhores álbuns do ano, muito guiada pelas melhores músicas do ano coletadas aqui semanalmente, lógico.

Só tem homem no afrobeat? Foi essa pergunta que a turma da Funmilayo Afrobeat Orquestra encarou em 2019, quando organizaram seu coletivo formado por mulheres negras e pessoas não-binárias. O nome da banda não é por acaso, Funmilayo Anikulapo Kuti, foi uma pioneira na luta por liberdade na Nigéria – com um plus, como o sobrenome entrega, ela é mãe de Fela Kuti, o pai do afrobeat. Com a emergência da pandemia, que apareceu pouco tempo depois da reunião do grupo, elas resistiram a esse longo inverno e do processo coletivo apresentam seu primeiro álbum, o maravilhoso “Funmilayo”, daqueles discos para ouvir do começo ao fim, sem pular faixas. O texto de “Wikipreta” coloca as ideias de forma objetiva: “A branquitude diz que são tempos sombrios, mas quando é que teve bom para nós, hein?/ Democracia fajuta que não escuta preto e se diz aliado quando convém”. 

TUM, o duo formado por Lovefoxxx e Chuck Hipolitho, estreou ao vivo no Popload Festival ainda sem música lançada. Mas isso é passado, eles soltaram enfim o primeiro single, a impressionante “Polychrome”. Levada por um baixo suculento, a música é um libelo do “faça amor não faça a guerra” de que todos precisamos: eles, eu, você e este país. Louco que quando a gente tá envolvido na música, pedindo por mais um versos… TUM. A música acaba. Ansiosos pelos próximos singles, discos, o que mais vier do TUM. 

O cantor mineiro JP, hoje mais paulistano que belorizontino, sintetiza em seu som novo o alargamento de possibilidades da CENA brasileira de música nova. Seu recém-lançado single, “Arroz de Polvo”, é uma música quase baiana, com uma letra de amor carioca, mas feita com a participação especial da banda Holger, de SP. A letra e a cadência dela nesse indie-axé é uma delícia. Deu até vontade de comer um arroz de polvo. Mentira!

Impossível não ouvir o novo álbum do WRY, essa instituição do indie brasileiro, e não imaginar várias delas tocando no rádio. A sonoridade pós-punk com uma pegada retrô/futurista associada a boas letras parece feita para conquistar audiências que mal sabem que esses caras de Sorocaba cantavam em inglês até um dia desses. Para não dizer que não falamos das flores, sacamos aqui para o Top 50 um momento mais dark do álbum e que talvez rádio nenhuma tenha coragem de tocar. Desafio feito.  

Em seu novo single, Tássia Reis detona em versos os que enxergam nas suas qualidades algo de rude. “Não vou me diminuir para caber nas expectativas de ninguém. E dou esse papo com uma pitada de deboche”, escreve a compositora. A produça musical espertíssima que junta drill, funk carioca e pitadas de samba é assinada por EVEHIVE – o refrão é daqueles feitos para pular na pista. 

O trio paulista pós-punk lançou em setembro seu terceiro álbum, homônimo. Der Baum significa “A Árvore”, em alemão. E o novo single é esta pesada (no som e no espírito) “I Got a Soul”, que é exatamente como a banda fecha seu disco. São Bernardo do Campo nunca falha em sua vocação.

Marina Gasolina, ex-Bonde do Rolê, ex-Madrid, saiu finalmente do buraco existencial e químico em que se encontrava. E de lá trouxe o segundo disco que lança com seu nome, sozinha, depois de muito tempo. Como quem se recupera de tudo, recupera a vida. É em inglês, ousando cravar este primeiro lugar num ranking bem brasileiro, desta CENA. Mas CENA esta que comporta a façanha, principalmente por que o disco é um primor, rico, cheio de camada e todos os graus de desesperos nos vocais. Do quase tranquilo ao assombrado. É uma música melhor que a outra. E, sendo assim, vamos logo ficando com a primeira delas, a que abre o disco e fala exatamente desse buraco.

A versão deluxe de “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água” traz dez faixas inéditas. É quase um novo álbum, pelo número de novidades e ainda mais pela pegada diferente das canções. Uma coleção de lados B com cara de lado A+++. Luedji apostou em letras mais diretas e um som com uma pegada levemente mais puxada para o neo-soul. A temática dos álbuns é a mesma, mas esta “puxada” nova é menos introspectiva, talvez. Provando que é possível mudar sem mudar, sabe? Inclusive, são músicas que fazem a gente voltar as músicas do álbum anterior com outros ouvidos, percebendo novas leituras. Se perca em “Blue”, com seu grave que que chega de surpresa em uma dinâmica de idas e vindas. É o repeat da semana. Discaço.

Tem tempo que estamos ansiosos pelo primeiro álbum solo da Assucena. Esse ano ela chegou com um primeiro single solo, depois lançou uma versão maravilhosa de uma canção da Elis Regina e agora dá a primeira pista do esperado disco. “Menino Pele Cor De Jambo” é uma canção puxada pela cuíca e pela escrita particular de Assucena – é difícil explicar, mas ela tem um modo de colocar as palavras tão seu que você identifica na hora a autoria. Uma canção para dançar na rua, pura alegria.  

“Uva Niágara” é a primeira pista que Anelis dá do que será seu quarto álbum, “Sal”, projeto que vem sendo construído a partir de um financiamento coletivo. Coletivo que está presente na canção – em seu Instagram, Anelis fez questão de agradecer a cada nome envolvido na construção que faz uma música ir da mente dos seus autores para a rua. Em uma faixa sobre a solidão da mulher negra, a solução se apresenta – é juntos que se constrói o novo possível. Ou existe uva que não veio de um coletivo?

11 – Rincon Sapiência – “MAGIA” (com Menor MC) (5) 
12 – Rashid – “Linha de Frente” (com Amiri e Don L) (6) 
13 – Cidade Dormitório – “Aribé I” (7)
14 – BK – “Continuação de um Sonho” (8)
15 – Mundhumano – “Guerreiras Urbanas” (com Conceição e Flávia Carolina) (9)
16 – Sulamericana – “Dia Bom” (10)
17 – Gal Costa  – “Baby” (11)
18 – Dozaj – “Parede Alta Vista Curta” (14)
19 – Tuyo – “Sonho Antigo” (15)
20 – Russo Passapusso, Antônio Carlos e Jocafi – “Aperta o Pé” (16)
21 – Sci Fi – “Sixteen” (17)
22 – Planet Hemp – “Taca Fogo” (18)
23 – VHOOR – “Balinha da Alegria” (19)
24 – Pato Fu – “A Besta” (20)
25 – Lucas Santtana – “Vamos Ficar na Terra” (21)
26 –  Trupe Chá de Boldo- “Ouça Onça” (22)
27 – Gab Ferreira – “Laughing” (23)
28 – Joy Sales – “Signos Fincados” (24)
29 – Far from Alaska – “Olha (com Lenine)” (25)
30 – Djonga – “Até Sua Alma (com Tasha e Tracie) (27)
31 – Number Teddie – “Poderia Ser Pior” (28)
32 – Mestre Môa do Katendê – “Veía Coló (com Edgar e BNegão)”  (29)
33 – Janu – “Vey” (30)
34 – ÀVUÀ – “Bentivi” (31)
35 – Xênia França – “Ânimus × Anima (com Arthur Verocai)” (32)
36 – Giovanna Moraes – “Caixa de Pandora” (33)
37 – Do Amor – “Nefelibata” (34)
38 – Jup do Bairro – “Pelo Amor de Deize” (com Deize Tigrona) (35)
39 – Deize Tigrona – “Sururu das Meninas” (36)
40 – Luedji Luna – “Nova Deli” (com Oddisee) (37)
41 – Tulipa Ruiz – “Novelos” (38)
42 – Cecília Cecilina – “O Canto dos Sapos” (39)
43 – Vanguart – “Oceano Rubi” (40) 
44 – Chico César – “Bolsominions” (41)
45 – Spainy e Emicida – “Rap Pagode” (43) 
46 – Vírus – “Foice Facão e Peixera” (com EVYLiN e Urias) (44)
47 – Criolo – “Charlie Brown” (45)
48 – Ubunto e Nara Gil – “Abafabanca” (46)
49 – Tim Bernardes – “A Balada de Tim Bernardes” (47)
50 – Ombu – “Pare” (49)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o grupo de mulheres Funmilayo, em foto de José de Holanda.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.


>>

MITSKI – horizontal miolo página
MITSKI – inner fixed
Editora Terreno Estranho – inner fixed mobile