Top 50 da CENA – Tem samba e tem funk “destrói fone” no pódio da semana. Tem até uma música “normal”, como a do Walfredo

Dia de samba no Top 50. Dia também de funk no mesmo Top 50. Dois gêneros que tanto conversam entre si, seja por seus métodos de criação e inovação ou por sua história, que passa por períodos de marginalização e reconhecimento quase sempre tardio – geralmente após aprovação gringa. DJ K conquistou a sempre difícil Pitchfork, enquanto Xande vestiu de samba a obra de Caetano Veloso. Vamos conversar sobre isso. 

Discos de regravações geralmente não acrescentam muito à história do homenageado em questão, mas não é o que acontece no álbum mais comentado desta semana. Ao regravar suas canções prediletas de Caetano Veloso, o cantor Xande revela a dimensão de samba guardada na obra do discípulo mais fervoroso de João Gilberto. Sem samba não dá e Caetano sempre respeitou isso, mesmo quando não deixou evidente os sinais. Xande entendeu tudo e canta isso por aqui. A produção rica em detalhes de Pretinho da Serrinha e a ótima escolha do repertório entre sucessos e lados B precisos, ajudam a deixar tudo maior ainda. E tem a voz de Xande – diamante verdadeiro. Um disco para ser escutado um milhão de vezes. 

“DK K não tá mais produzindo, tá fazendo bruxaria.” Já ouviu essa frase antes? Se a resposta é “sim”, quer dizer que você está ligado no fenômeno DJ K e seu álbum “Pânico no Submundo”. O jovem produtor de Diadema conquistou os críticos gringos e na sequência os jornais daqui, uma ordem comum quando falamos de música brasileira. Dias destes, o Emicida também tuitou que está ciente da bruxaria do DJ K. Mas qual é a da bruxaria? O jornalista GG Albuquerque explica essa variação do funk que acontece em São Paulo: “O som é distorcido e pesado— alguns chamam de “beat agressivo”, “destrói fone” ou “sangra tímpano”. Além disso, as produças do K se destacam pelo esmero e pesquisa – são pequenos recortes de risos, frases, sacadas e até enredos apocalípticos que se apresentam em metacanções. Ou como está bem dito nesta “Isso Não É um Teste”, que destacamos aqui: “Diferente de tudo. Diferente de todos. Original”. 

O novo single do grupo paulistano indie-existencial Walfredo em Busca da Simbiose, do produtor Lou Alves, é uma parceria da Walfredo com Saudade, do Rio de Janeiro – não vá confundir o artista com o sentimento, hein. Se trata de uma canção que estava guardada no cofre de Lou até que ele encontrou no amigo Saulo Saudade uma conexão. Música para tardes perfeitamente melancólicas ou repletas de saudade. Neste caso, aquela mesmo. 

Estas por pouco não esbarram na cláusula de barreira da CENA, pelo caráter “gringo”, mas estão valendo por aqui sim. O Ultraviolet é formado pela russa-carioca Irina Gatsalova e o produtor Cello Nascimento. Vivem naquela busca constante por um pop perfeito que já seduziu muitos, como seduz esse single duplo recém-lançado. Camadas de violões, pianos elegantérrimos e vozes em harmonia. Busca insana, porém bastante satisfatória. 

Foram cinco anos de construção para o novo álbum, “7 Estrelas | quem arrancou o céu?”. Sendo assim, é até injusto ensaiar uma ideia sobre o trabalho poucos dias após seu lançamento. Tem muito para ser absorvido e observado no mais recente disco da cantora paulistana Luiza Lian. De cara, salta a produção ousadíssima, com pilhas de distorção nas bases e vozes – parece que ela mergulhou fundo em ousadias do hip hop, trap e funk. Inspirada nessa técnica, ela se multiplica em muitas vozes para cantar os fragmentos de nosso tempo. De 2018 até aqui foram muitas dores, nem todas curadas – se estivessem, o Estado não se sentiria no direito de chancelar chacinas. Soma-se aí Pandemia, Bolsonaro e o celular enquanto uma prisão do tempo e da nossa cognição e imaginação. As letras falam disso. Outra afirmação do disco é a potência da música como veículo de transporte (“A Minha Música É”), de desejo (“Homenagem”) e política (“Forca”). Se for para pensar em um resumo rápido, soam melhor as palavras da própria Luiza: “O transcender dessa nova ilusão para reconexão da matéria, da natureza e aí sim do transcendente, do infinito, do mistério, do verdadeiro indivisível, irreproduzível, inexplicável”. Do mágico virtual para o real mágico. É por aí.  

Dos muitos bons momentos de “O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar para Outro Planeta”, o mais recente lançamento do figura FBC, se destaca a brisa boa de “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?”, música que tem na sua letra o título do álbum. Sem um momento para versar, FBC se entrega ao beat e ao clima da música para alcançar quase um gospel que vai crescendo aos poucos até chegar em vocal de notas bem altas, quase gritadas. Construção ousada. Ficou massa demais. 

Procurando uma nova grande voz para chamar de sua? Nina Maia, cantora e compositora talentosa da nova safra da CENA, pode ser essa opção. Com referências que passam por Billie Eilish e Marisa Monte, uma conversa de estilos e gerações, Nina impressiona pelas texturas oferecidas aqui na voz e também no arranjo da música, sem medo de quebrar expectativas. “Sinto que a letra reflete a dualidade da luz e da sombra, foi o que eu quis deixar como mensagem”, escreve Nina. Que música! (Ela sai nesta meia-noite, com vídeo bonitaço. Traremos aqui para a playlist nos primeiros momentos da quinta-feira)

11 – Gui Hargreaves – “Somewhere to Start” (6)
12 – Garotas Suecas – “Todo Dia É de Mudança” (7)
13 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (8) 
14 – Jasmin Godoy – Show Me the Way (9) 
15 – Planet Hemp – “Salve Kalunga” (10)
16 – The Mönic – “Atear” (11)
17 – Ema Stoned -“Vale da Lua” (12)
18 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (13)
19 – João Donato – “Flor de Maracujá” (14)
20 – Ava Rocha – “Disfarce” (15)
21 – Terraplana – “Conversas – Ao Vivo” (16)
22 – Holger – “Vida Orgânica” (17)
23 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (18)
24 – Terno Rei – “Mercado” (19)
25 –  Sain – “Aquelas Coisas Mais pra Frente” (20) 
26 – Letrux – “As Feras, Essas Queridas” (21)
27 – Wilson das Neves e Rodrigo Amarante – “O Que É Carnaval” (23)
28 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (24)
29 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (25)
30 – Raffa Moreira – “Beleza Exótica” (com Matuê e Jay Kay) (26)
31 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (27) 
32– Troá! – “Que Pena” (28)
33 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (29)
34 – Coruja BC1 – “Versão Brasileira” (com FEBEM e MC Luanna) (30)
35 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (31)
36 – dadá Joãozinho, Alceu e Bebé – “Cuidado!” (32)
37 – Xis – “Isnaipa” (33)
38 – Ítallo – “Tarde no Walkiria” (34)
39 – Clarice Falcão – “Chorar na Boate” (35)
40 – Ruadois – “Sprint” (36)
41 – Dj RaMeMes – “Vamo Fuder” (37)
42 – Zé Ibarra – “Vou Me Embora” (38)
43 – Rincon Sapiência – “XONA” (39)
44 – TUM – “DTF” (40)
45 – L’homme Statue – “Espírito Livre” (41)
46 –  ÀTTØØXXÁ – “Dejavú” (com Liniker) (42)
47 – Mahmundi – “Meu Amor – Reprise” (43)
48 – BIKE – “Além-Ambiente” (44)
49 – Majur – “Tudo ou Nada” (45)
50 – Jards Macalé e Maria Bethânia – “Mistérios do Nosso Amor” (46)

* Na vinheta do Top 50, o cantor Xande de Pilares.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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