Top 50 da CENA – Tuyo, Dead Fish e Pabllo Vittar. Que trinca para formar um pódio poderoso, hein?

Abrimos 2024 falando, no top da semana passada, que a música brasileira é devagar e sempre no começo do ano. E tomamos uma volta já na semana seguinte, esta, que vem a toda velocidade produtiva. Muitas músicas lindas e fortes para um janeiro quente e chuvoso desses. Os fones e as caixinhas de som do verão já têm nova companhia.

“Descobri que não tem como competir com o tempo.” Esse é o verso que abre e já machuca a gente na nova da banda paranaense Tuyo. Diante da descoberta gigantesca e terrível, uma tranquilidade se apresenta. O encontro do recomeço lá no fim do mundo. Produzida por Lio, Lay e Machado com a parceria de Lucs Romero,”Infinita” é mais uma música para o álbum novo, previsto para o primeiro semestre deste ano. Sonoramente é mais um passo em direção a um pop muito particular do trio. É radiofônico sem ser óbvio, experimental sem ser hermético – algo que já se apresentava em “Chegamos Sozinhos em Casa”. O cuidado com a melodia é absurdo: os versos têm a força de um refrão, mas sem a pressa de jogar o refrão na frente de tudo – uma obsessão moderna por atenção. E a belezinha da nova etapa fica mais completa com a participação de Walter Firmo clicando a capa. Firmo é um dos gigantes da fotografia brasileira. Não manja? Procure saber, diria o Gil.

“Labirinto da Memória” é o décimo álbum de estúdio do grupo de harcore capixaba Dead Fish, lançado já neste 2024 do agito. O número é uma marca e a banda celebra isso ao fazer um disco de investigação das memórias. O resultado é uma navegação onde cenas do passado e do presente se fundem e dão noção do que foi crescer no Brasil entre o período de ditadura militar e a redemocratização – que apesar de ser um sonho de liberdade trouxe junto um processo neoliberal que manteve as classes mais pobres do país em um lugar marcado por violência de todos os tipos – da brutal policial até a econômica, capaz de roubar almas, como canta a banda. Discaço. “11 de Setembro” marca isso ao lembrar a data de um ponto de vista diferente do que talvez você esteja imaginando. 

Pabllo foi até o hitaço “Listen To Your Heart”, lançado pelo duo sueco Roxette no final dos anos 1980, para fazer uma versão sem medo de se embedar do brega, honrando o espírito original da canção, afinal de contas. Destinada a tocar muito no Carnaval e no resto do ano em bons jukeboxes de buteco.

A gente nunca sabe se bota o Apeles, projeto indie-arte do talentoso multibandas Eduardo Praça, no nosso top gringo ou neste top nacional. Mas vamos aqui. Seu novo single aqui é o quinto de seu projeto global (viu?), que vem sendo lançado a conta-gotas desde o ano passado, pra se juntar num grande álbum a sair agora neste semestre. “Todos os Santos Permitidos”, uma linda confluência de sons em loops e vocal e barulhinhos, traz um feat. delícia com a argentina Fransia. Coisa linda.

Quem está na mesma busca de um som para chamar de só seu é a turma da Jambu. “Lentamente”, novo single da banda manauara, tem o rock já conhecido deles, mas trafega também por outros ambientes dentro de uma música só – em um determinado momento cada estrofe vem de um jeitão diferente. Mais hip-hop uma hora, mais pop em outra e por aí vai. De bônus rola uma citação a “Chorando Se Foi (Lambada)”, imortalizada pelo Kaoma.

O baiano Vandal, com certeza um dos melhores rappers do país hoje, bota seu grime para dialogar com o pagodão baiano do Fantasmão, com o propósito de encontrar os samples que municiam uma das faixas do seu breve EP, que leva justamente o nome de “Violah” tal qual esta música. Dois pés na porta: “Se todo homem tem seu preço, eu não quero saber o meu”. 

De Belo Horizonte se apresenta a artista Clara Campos e seu Clara Bicho, um projeto musical e visual. Os desenhos quase infantis e coloridos de Clara dão o tom para músicas em climas um tiquinho mais sombrios. Uma vibe de músicas feitas no quarto, esperando o calor do dia passar para dar uma volta pela noite. Olho nela!

Começo de ano sempre tem que ter uma inédita do rapper paulistano Parteum. E mais uma vez ele chegou com novidade no dia 1° de janeiro. E já temos um verso para guardar para o ano todo: “O que for meu antes do físico subir eu multiplico”. Faixa esperta com o flow bastante copiado por aí do Parteum, que colheu muito das ideias da letra em andanças escutando vendedores em aglomerações. Rua.  

Uma questão de todo começo do ano é: qual será a música do Carnaval? O Psirico, comandado por Márcio Victor, o favorito de Kayne West, simplicou as coisas e nomeou sua música nova simplesmente de “Música do Carnaval”. Será que pega? É divertida, requebra no ritmo e dá recados importantes: fortaleça a tia da cerveja, respeite o catador de latinha e “Não é não!”. Bacana. Aliás, “Lepo Lepo”, hit de outros carnavais, completa dez anos em 2024. 

Se quiser se manter no espírito do Carnaval, vale sacar o balanço que vem de Recife da banda GRIYÖ. Sacolejante e contagiante o som da trupe, “Afropenobeat (Passando Som)” abre o EP de mesmo nome como o que seu título indica: um teste de som. Com os graves, médios e agudos ajustados, a frequência de alegria dos ouvintes é que fica certa. 

11 – Rico Dalasam – “Jovinho” (6)
12 – Ogoin & Linguini – “Quando Tudo Começou” (7)
13 – Marabu – “Algo Me Diz” (8)
14 – Wado – “Dente D’ Ouro” (9)
15 – Tangolo Mangos – “Glauber Rocha” (10)
16 – Don L – “Tudo É Pra Sempre Agora (com Luiza de Alexandre)” (11)
17 – Giovani Cidreira e Luiz Lins – “Amor Tranquilo” (12)
18 – João Gomes – “Mais Ninguém” (13)
19 – Mart’nália – “Lobo Bobo” (14)
20 – Perdido – “30+” (15)
21 – Lori – “Me Dói, Boy (com Matias e FBC)” (19)
22 – Juyè (com Thiago Jamelão e Alisson Melo) – “Seguir” (20)
23 – tttigo e dadá joãozinho – “SEM SEGURO” (21)
24 – Rodrigo Campos e Romulo Fróes – “Um Amor Cantando” (22)
25 – Amiri – “Limbo” (23)
26 – Duda Beat – “Saudade de Você” (24)
27 – Apeles – “Lábios Mentem À Distância” (25)
28 – Giovanna Moraes – “As Mina no Poder” (27)
29 – Nelson D – “Defensor Assassinado” (28)
30 – Bruno Berle – “Tirolirole” (23)
31 – Ebony – “Espero Que Entendam” (25)
32 – Jaloo – “Pra quê amor?” (26)
33 – DJ RaMeMes, DJ Pretinho de VR, DJ Ramom, DJ LC da VG – “Putaria em Volta Redonda” (27)
34 – Papisa – “Melhor Assim” (28)
35 – YOÙN e Carlos do Complexo – “Não Vou Dançar Sozinho” (29)
36 – Tuyo – “Eu Vejo o Futuro” (30)
37 – Ana Frango Elétrico – “Boy of Stranger Things” (31)
38 – TUM – “Rainha da Sumaré” (32)
39 – Fabiana Cozza e Leci Brandão – “Dia de Glória” (33)
40 – Monna Brutal – “Esse Puto” (34)
41 – MC Carol – “Só de Passagem” (35)
42 – Rodrigo Ogi – “Aleatoriamente” (36)
43 – Assucena – “Reluzente” (37)
44 – Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – “Quem Vai Apagar a Luz” (com Negro Leo) (38)
45 – Alzira E + Corte – “Filha da Mãe” (39)
46 – Varanda – “Vontade” (40)
47 – dadá Joãozinho – “Pai e Mãe” (41)
48 – Karen Francis – “Linha do Tempo” (42)
49 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (43)
50 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (44)

***
*  Na vinheta do Top 50, o trio Tuyo, em foto de @gabriel.filmes e @rafael.botas.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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