Top 10 Gringo – Beyoncé em primeiro, óbvio. Rosalía na cola, óbvio

Dá para dizer que a semana foi ganha com tranquilidade pela Beyoncé. Que disco, hein? Mas a concorrência chegou pesado: Rosalía soltou uma de suas músicas mais viciantes, por exemplo, e deixou a gente na dúvida por aqui… E estamos falando de uma semana em que composições de uns tais Brian Wilson e John Lennon compõem a nossa seleção – em versões incríveis, diga-se. 

Vocês leram o textaço da Dora Guerra na Semiload da semana passada, sobre a importância da Beyoncé no cenário pop dos últimos 20 anos? Fica até difícil para gente procurar outras palavras. Mas pensando nessa construção absurda que a Dora levantou, a gente só consegue vislumbrar o quanto “Renaissance” é o passo mais ousado da artista até aqui. Beyoncé não escapou do pop, mas se apresenta a milhas de distância do seu álbum anterior, “Lemonade”. Mergulhada na house music, provavelmente ela vai tirar o pop do seu atual revival da disco music dos anos 70 – isso para ficar em um dos muitos efeitos que o álbum deve provocar nos próximos anos. Teve quem riu do comentário dela de que o álbum é a criação de um espaço seguro, livre do perfeccionismo dos nossos tempos. Pode rir, mas não desacredita: esse espaço seguro é a pista de dança. E a trilha é “Renaissance”. E mais: a cabeça agora fica fervilhando, porque o álbum terá três atos! O que virá por aí? Mais músicas nessa linha? Ou ela vai abraçar outras sonoridades? Se tudo sair ainda neste ano, não duvide que o Top 5 do ano tenha espaço para apenas 3 artistas. 

Seguindo a tendência maluca atual de soltar um single inédito mesmo tendo acabado de lançar um disco (incrível e lotado de potenciais singles), Rosalía trouxe esse presente para os fãs agora que a turnê de “Motomami” está pelo mundo – inclusive, logo mais aqui no Brasil. O mais interessante é que o single é tão bom, viciante, maravilhoso e tudo mais que periga fazer mais sucesso que o álbum novo inteiro. Sem exagero. A música cola de prima: “Y ando despechá, oah, alocá’…”

O disco todo não é desta semana, mas capturou a gente a partir de uma sugestão de uma plataforma de streaming. A gente foi pesquisar mais e a história é curiosa. Sam é um músico de jazz que se vira em tudo que é instrumento. No álbum “Live a Little”, por exemplo, de onde pegamos essa faixa, ele toca: synths, violão, guitarra, sax, trompa, órgão, teclado e bateria. Massa, né? Mas a curiosidade maior é sobre a talentosa vocalista Antonia. Que é a irmã de 11 anos de Marcella, uma parça de Sam. Em uma tarde, a dupla saiu de improviso e o resultado é basicamente o que está no disco – impressionante, viu? Parece um som burilado por dias em estúdio, se você escuta sem saber como ele realmente foi feito.   

Para nós, fãs de Nirvana, foi difícil não ficar grudado no título da primeira música do novo álbum da sensação King Princess, “Hold On Baby”. A gente não sabe se era a intenção, mas nos lembrou a depressiva tirada de Cobain: “I Hate Myself and I Want to Die”. Apesar das diferenças, a tônica das duas frases é a depressão e as questões com a fama consequente de fazer música e ser uma estrela pop. Para os brasileiros, ainda fica a curiosa semelhança da capa do disco com a clássica capa do Erasmo Carlos em “Amar pra Viver ou Morrer de Amor” (1982).

Tem tempo que a gente diagnostica por aqui uma onda de questões de saúde mental aparecendo pela música pop. Quem vai fundo neste assunto agora é a Rina Sawayama, que pretende que o sucessor de sua estreia, “Sawayama” (2020), seja um espelho de sua jornada na terapia, que resolveu muito de seus antigos traumas. A faixa-título do no álbum, “Hold the Girl”, foi escrita no início dessa investigação e Rina deixa isso perceptível em versos como: “Às vezes eu fico com culpa/ Pelas promessas que quebrei para meu eu mais jovem”. E, cá entre nós, tem um tanto de ~Lady Gaga fase clássica~ neste som ou estamos viajando? 

Nunca compre um disco pela capa. A gente foi escutar essa banda inglesa a partir da bonita capa dos integrantes em um ambiente calmo e que susto levamos quando rolou o play: é uma banda de metal pesadíssima. Nomes fortes da cena atual, eles fazem um som muito criativo, em um blend de referências do gênero, mas que não ficam restritas a ele – toques de pós-punk são encontrados pelo caminho, por exemplo. Interessante. Se você não é do metal, mas quer entender como ele anda sendo feito hoje e tem tempo para só um disco: vem aqui! 

A queridinha dos cinéfilos A24 vai soltar em breve o filme “Bodie Bodies Bodies”, um terror que chamou muita atenção pelo trailer – que parece tirar uma onda legal com um conceito clássico: jovens se reúnem em uma casa para farrear e tudo dá errado. Um dos pontos altos do trailer era a trilha: uma inédita da Charli XCX, que finalmente dá as caras no streaming. Um som que caberia fácil com bônus track no excelente “Crash”, seu álbum mais recente. 

A gente já falou por aqui do álbum mais recente da banda inglesa Everything Everything, “Raw Data Feel”. É um disco que já tem um tempinho e tal, mas acontece que passamos a ficar preocupados com nosso vício na excelente “Jennifer”. E, vendo uma entrevista do vocalista Jonathan Higgs sobre a música, fica ainda mais engraçado ter ela como predileta. É que ele conta que a canção foi descrita por alguém da banda como “um dia de folga da própria banda”. Higgs acrescenta que a música é mesmo bem diferente do habitual do Everything Everything: é um som convencional. E viciante. 

Se aventurar pela obra dos Beach Boys é um risco. A gente tem que pensar sempre no próprio sofrimento da principal mente da banda, Brian Wilson, em busca de criar a obra mais perfeita possível. Dito isso, é preciso muito mau humor para não curtir as versões criadas pela dupla Zooey Deschanel e M. Ward. Ao passo que são despretensiosas, há um respeito com as harmonias vocais e suas camadas. E se dúvidas da nossa palavra, o próprio Brian elogiou o álbum. Imagina? 

E, por falar em “Don’t Worry Baby”, já notaram o quanto o John Lennon roubou do Brian Wilson nessa música para escrever “(Just Like) Starting Over”? Pois é. Mas não foi esse hit que Liam Gallagher, um dos maiores fãs do Lennon neste mundo, sacou para um esperto cover. Liam foi atrás de um diamante ainda mais raro: a suingada “Bless You”, uma música meio esquecida mas que adianta a fase mais madura do Lennon solo, lançada ainda em 1974 no bom “Walls and Bridges”. 


* Na vinheta do Top 10, a cantora americana Beyoncé.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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