Tem mais uns 200 de onde vieram estes dez. Mas fizemos “apenas” essa curadoriazinha de nomes cujas músicas, discos, shows devem brilhar em 2026, até porque já brilharam um pouco em 2025, mas o ano foi tão intenso, tão “gnarly”, que o espaço inicial para o reconhecimento já foi dado, resta agora surfar na onda do sucesso. Seja lá qual for o tamanho desse sucesso, óbvio.
Vem com a gente para 2026 e olho nesta galera.

Ninajirachi é uma produtora, DJ e cantora australiana, que parece estar aproveitando com inteligência as portas abertas do hyperpop no mundo pós-Brat. Em 2025, sua carreira ganhou um certo holofote com a chegada de seu álbum de estreia, o delicioso e afiado “I Love My Computer”, que recebeu aclamação da crítica e um elogio direto de PinkPantheress, a garota EDM do momento, que descreveu o disco como “o tipo de música única que você nunca escutou antes”. Som jovem, incentivo, estética futurista, pronto para a pista, pronto para o fone de ouvido, pronto para explodir e vir mais por aí. Ninajirachi foi a segunda artista mais tocada em 2025 na incrível rádio australiana Triple J, uma de nossas prediletas. Ah, e ela ilustra a vinheta deste post, aí em cima.
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Ainda orbitando o hyperpop, mas por uma via mais suave e introspectiva, a francesa Oklou chega já como um dos nomes mais elegantes do pop experimental atual. Prestes a ser vista de perto e ao vivo por nós na próxima edição do C6 Fest, a artista conquistou já em 2025 muitos lugares bons em boas listas de melhores do ano, além de resenhas entusiasmadas na imprensa especializada, colocando o álbum “Choke Enough” no radar global como peça-chave para entender os próximos movimentos do pop fora do óbvio. E, quando o cenário fica promissor, as parcerias importantes aparecem: FKA Twigs, A.G. Cook, Caroline Polachek e Bladee já passaram por esse universo. A pergunta agora é inevitável: com quem Oklou vai se conectar em 2026?
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Diz a lenda que uma banda de noise-rock nasce toda vez que uma fada encosta num amplificador quebrado ou pisa num pedal errado, e a canção já vem feia, como deve ser. Brincadeira à parte (ou nem tanto), os nova-iorquinos da Model/Actriz, donos de uma das faixas mais marcantes de 2025, “Cinderella”, vem empilhando entregas relevantes enquanto começa a infiltrar seu discurso queer, corporal e performático em line-ups de grandes festivais mundo afora. Se você ainda não viu a apresentações deles no KEXP que saiu dias atrás, faça um favor a si mesmo: pare tudo e vá assistir. E olho neles em 2026, porque o bafo vai ser forte.
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O buzz já está grandinho e deve aumentar dia 30 de janeiro, quando o coletivo Julieta Social lança finalmente seu primeiro disco pela Seloki Records. O álbum homônimo dessa banda que tem um núcleo duro (Rafael Bastos/voz, João Durão/guitarras e Rodrigo Mattos/ bateria) mas é superaberta a um esquema colaborativo, com cada faixa trazendo um convidado especial, já trouxe em 2025 quatro singles desse disco debut. O último, “Astronauta”, saiu no finalzinho de setembro e trouxe Rubens Adati na participação e uma sonoridade de algum lugar entre Strokes e Tim Bernardes. Mas repare: o Julieta Social, por essa característica integralista, nunca é a mesma banda em suas músicas. Cada faixa é comandada por seu convidado. Dia 30/1 vamos ter uma ideia melhor do que vai ser isso.

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2025 foi tão “gnarly” (gíria californiana para “ïrado”), uma das palavras mais usadas do ano, segundo o próprio Google. Parte disso passa pelo sucesso meteórico do hit do KATSEYE, do girl group pan feminino formado no reality da Netflix “The Debut: Dream Academy”. Adéla era uma das trainees mais comentadas do programa, mas ficou de fora da formação final. Fora do molde, a cantora tcheca recalculou a rota e apostou na carreira solo, mergulhando em um som mais alternativo, sombrio e experimental, bem distante do pop polido e global desenhado para o grupo. O desvio, ao que tudo indica, foi libertador: é ali, longe dos rótulos, que ADÉLA finalmente começa a desenhar sua própria identidade artística. Seu elogiado primeiro EP, “The Provocateur”, lançado no fim de agosto, não tem esse nome de bobeira.

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Os britânicos foram muito rápidos desta vez e já têm a “resposta” para o fenômeno Cameron Winter, o vocalista do grupo Geese. Só que mais, digamos, melódico e “controlado” na voz. Britânicos são assim, mesmo. O irlandês Dove Ellis lançou seu disco de estreia, meio sem grandes assessores de imprensa, sem alarde, sem entrevistas, agora nos primeiros dias de dezembro. Para dar aquele nó na cabeça da indústria. Pela data, já chega com a lista dos melhores do ano dos diversos veículos e críticos diversos pronta. Mas não conseguirá sair na lista de melhores de 2026, porque, enfim, é de 2025. Mas alguns até arriscaram. O “problema” é que o disco é bom mesmo. Ah, sim. Não à toa Dove Ellis abriu em novembro a turnê americana do Geese. Tudo conectado.
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A “Pitchfork” disse que ela é dance-pop para pessoas esquisitas. A “Rolling Stone” americana acha que ela mistura o fofo com o bizarro. Isso tudo e mais um pouco é o que constitui o ser humano Gelli Haha, nome “de guerra pop” de Angel Abaya, que antes de se mudar para Los Angeles era apenas uma garota folk rock de Idaho com disco e tudo, até que… No final de junho de 2025 ela lançou o espertíssimo disco de estreia (sim!) como Gelli Haha, “Switcheroo”, com faixas como “Pluto Is Not a Planet It’s a Restaurant” e acabou em muitas listas de melhores discos de 2025. Se ela vai nos “perturbar” em 2026? Sem dúvida nenhuma. Ha!

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Num desses últimos Circuito – Nova Música, Novos Caminhos no Cineclube Cortina, quando ela foi a “banda local paulistana”, sem viajar com as “principais”, a dupla Kim & Dramma (na ocasião em banda completa), foi fácil a responsável por arrancar o maior número de empolgados “Que show foi esse?” do evento. Num nível de as outras três bandas da sequência da noite (Kim & Dramma era a banda de abertura na noite de quatro shows) se perguntarem “Como fazemos agora para mostrar essa mesma energia?”. Duo de um certo hip hop experimental de levada indie, Kim & Dramma é o projeto dos amigos Quico Dramma (produtor e baterista) e Kim Cortada (rapper), que em 2024 lançaram seu disco de estreia, “No Ombro dos Outros”, construíram uma certa trajetória curta em shows em 2025, mas em 2026, mais afiados, vão relançar o “No Ombro dos Outros”, agora “para valer”, batizado com o complemento “Versão Deluxe”, com novidades e versões ao vivo. Segura!!!

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Sexteto de Londres armado por quatro garotas e dois rapazes, os mais velhos tendo 21 anos, art punk da melhor qualidade, o grupo deve chamar bastante atenção quando soltar seu primeiro álbum, em 2026. O nome do disco e a data de lançamento estão mantidos em segredo pela gravadora Fiction, casa de nomes como St. Vincent e The Cure, que contrataram a galera só por causa do EP de estreia, “Eazy Peazy”, gravado em 2024, e pelo barulhinho bom que fizeram tanto no South by Southwest quanto numa session para a rádio KEXP, ambos no começo do ano. Pelos dois singles conhecidos, “Only Girl” (lançado agora em novembro) e “Adam & Steve”, o disco promete mesmo. Acompanharemos muito o Man/Woman/Chainsaw. O nome da banda? Roubado e adaptado de um título de famoso livro sobre filmes de terror podreira, tipo slasher movie, da escritora americana Carol J. Clover. Deixa eles!

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Apesar de já terem um tempo de estrada, parece que é só agora que as norueguesas do Smerz vêm ganhando notoriedade e incomodando o circuio indie, especialmente após o lançamento do álbum “Big City Life”, em maio de 2025. Parte desse reconhecimento vem da forma como o duo faz o pop esbarrar na arte e no estranhamento, criando músicas que soam simples à primeira escuta, mas revelam novas camadas conforme o tempo passa. Dizem que em 2026 só vai dar elas. Vamos ver.
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* Esta lista foi escolhida e editada por Lúcio Ribeiro e Vinicius Dotta.