The Pretenders, hoje no C6 Fest, tem grande música e muita aula de história ao vivo

Neste sábado no C6 Fest em São Paulo começa o festival para os indies, rockers, eletros, mpbabies e discos. Depois de dois dias mais voltado ao jazz e suas variáveis primas, Entre todos os shows de hoje e amanhã tem um especial, de “uma certa mulher”, que se apresenta com sua banda no começo da noite, ali no palco externo do Parque Ibirapuera.

Não é a primeira vez do conhecidíssimo The Pretenders no Brasil. E vai saber se não é a última. A única remanescente do grupo, fundado em 1978 no meio da bagunça punk inglesa, é a histórica Chrissie Hynde, que hoje tem 73 anos.

Chrissie Hynde em show do Pretenders em Curitiba, na terça passada

Ok, Hynde não é lá uma “figurinha difícil” para os brasileiros. Inclusive ela até já morou em São Paulo. Mas, com certeza, nesse cenário bonito do Parque Ibirapuera, vê-la desfilando no vocal e na guitarra seus inúmeros hits de quase 50 anos de música, será realmente um mergulho na história da música.

E também um livro aberto da história do rock, porque ali na frente de quem esgotou os ingressos do festival hoje vai estar uma senhora que:

1. Americana de Ohio, decidiu aos 21 anos (1973) ir viver em Londres, um lugar “mais artisticamente agitado”. Seus primeiros dois empregos: escrever para o jornal musical “New Music Express” e ser atendente numa certa loja de roupas de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, uma tal de Sex.

2. Na Sex, não precisa ler a bíblia “England’s Dreaming”, do Jon Savage, ela conheceu e entrou para uma “turminha” com caras que estariam logo em bandas como Sex Pistols, The Clash e The Damned, que protagonizariam uma das maiores revoluções da história da música jovem: o punk. Como Hynde já chegou na Inglaterra sabendo tocar guitarra, ela aqui e ali foi se metendo em ensaios e participações com todo mundo acima, mas tinha dois limitadores claros, diz a história: era mulher e era americana.

3. Hynde sempre quis fazer sua banda ali na chegada a Londres e chegou até a ensinar guitarra para o baixista Sid Vicious para se unir a ela no palco, mas a gente sabe que a coisa não deu muito certo. Mick Jones, vocalista e guitarrista do Clash, era para estar na banda de Hynde, mas não teve muito tempo depois que sua própria banda explodiu. E num teste de estúdio para testar suas habilidades para um olheiro de bandas, conseguiu que um amigo fosse quebrar um galho na bateria, no dia. Era o famoso Animal Taylor, um dos fundadores do Motorhead.

4. Com talento para as letras e seu jeito mais feminino e pop de tocar guitarra no meio da balbúrdia destruidora punk, Hynde finalmente conseguiu montar os Pretenders e vir a ser uma das primeiríssimas bandas do chamado pós-punk. De lá para cá são muito mais histórias de vida e de estúdio, porque as formações da banda mudaram, mas ela esteve à frente dos 12 álbuns lançados pelos Pretenders. O último, “Relentless”, é de 2023.

5. Algumas dessas mais outras histórias? Claro. Na fase antes da Inglaterra punk, ainda em Ohio, a adolescente Chrissie Hynde foi adepta ao movimento hippie, começou a se ligar em misticismo e virou vegetariana em protesto contra a matança de animais. Passou a protestar contra a Guerra do Vietnã e se viu envolvida no chamado “Massacre da Kant State”, treta entre estudantes e seguranças da universidade de Ohio em que morreram quatro jovens (entre eles o namorado e a melhor amiga de Hynde) e vários outros ficaram feridos.

6. Para resumir muito o inresumível, Chrissie Hynde fora da rica história dos Pretenders já gravou uma música em dueto com Frank Sinatra, já fez backing vocals para canções do INXS e Morrissey, já participou de um episódio da estupenda série americana “Friends”, na qual ela co-escreveu o “hit” “Smelly Cat” com a Phoebe, foi condecorada no Rock and Roll Hall of Fame em 2025, fez uma cover gravada com a banda de reggae UB40 virar sucesso mundial, foi melhor amiga de Linda McCartney, mulher de Paul, e quando Linda morreu ajudou a montar um enorme concerto-tributo para ela, em Londres, tocou e cantou de graça em Ohio na campanha presidencial do então candidato Barack Obama, um primeiro álbum solo seu teve Neil Young na guitarra e em 2023 foi uma das grandes atrações do Glastonbury Festival, com os Pretenders, em show que teve as participações de Johnny Marr (Smiths), na guitarra, e Dave Grohl (Foo Fighters) na bateria.

7. Aliás, falando em Johnny Marr, o guitarrista esteve em 1988 na primeira vez que os Pretenders vieram ao Brasil, no Hollywood Rock, realizado em SP e Rio. Foi a primeira vez de Chrissie Hynde no Brasil e foi a primeira vez também de um Smiths tocar no país. Depois de alguns shows por aqui, Hynde cria uma relação especial com São Paulo e chega a morar por alguns meses, em 2014, no icônico edifício Copan, no centrão da cidade, para desenvolver um projeto musical com Moreno Veloso, filho do Caetano.

Para além da música relevante de anos, tem tudo isso acima para notar ao vivo quando essa mulher tocar seus belos hits do Pretenders hoje à noite no C6 Fest.

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Para chegar no grande show de hoje do C6 Fest, em SP, Chrissie e seu Pretenders andou se apresentando por Porto Alegre, Curitiba e Brasiília. Trazemos aqui embaixo alguns momentos.

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Terreno Estranho – horizontal fixo Mark Lanegan