Top 10 Gringo – Ao topo de tudo com o Big Thief. O Suede antidepressivo em segundo. E a grande volta do Whitney fechando. É o que temos na semana (porém não só)

Não que a gente seja preguiçoso, veja bem. Na verdade, uma semana de trabalho fácil por aqui significa boas notícias para você também, já que a principal razão é um volume absurdo de músicas boas. Assim, o mais difícil foi escolher o que não ia entrar. Poderíamos fácil colocar todos do novo álbum do Big Thief no top 10, por exemplo. Fica para uma próxima, mas eles mereciam.  

Em entrevista à Pitchfork, James Krivchenia, baterista do Big Thief, conta que admira os artistas que respeitam sua voz interior em vez dos que tentam ser jovens para sempre. Ele não incluiu a si mesmo e sua banda no primeiro grupo, mas entendemos que o lugar do Big Thief é justamente por aí. Mesmo tendo alcançado o reconhecimento, a banda tocada também por Adrianne Lenker e Buck Meek nunca rastejou aos clichês e fórmulas. “Not” foi uma canção que explodiu, por exemplo, por sua carga emocional e eles nunca tentaram fazer uma “Not 2”. E assim corre “Double Infinity”, sexto álbum deles e o primeiro sem o baixista Max Oleartchik. Após tentativas de fazerem um disco mais pesado, depois um mais acústico, o trio se viu em Nova York tentando respeitar o que as canções pediam e adicionando músicos contratados para completar o time. Assim o trabalho vai para rumos inesperados. O folk e o rock continuam como o norte, mas o experimentalismo nos ritmos e texturas são ressaltados. Um ideia resumida no primeiro refrão do disco: “Incompreensível, deixe-me ser/ Incompreensível”. Resultado: entendemos tudinho (ou quase). Um disco mais ousado e conciso que o duplo e vasto trabalho anterior, “Dragon New Warm Mountain I Believe in You”.

Em um ano de tantos retornos fortes do britpop noventista, periga o Suede ficar injustamente ofuscado, de lado. Empolgados com a repercussão do seu álbum anterior, o excelente “Autofiction”, Brett Anderson e cia decidiram não diminuir a marcha e escreveram mais um trabalho investigando os tempos atuais. Se o álbum anterior fez barulho por apresentar a banda mais rústica do que nunca, a proposta em “Antidepressants” é sofisticar um pouco o rolê. A metáfora escolhida por eles foi comparar a mudança com a transição do punk para o pós-punk. O que se mantém é olhar atento ao presente. “Buscamos conexão em um mundo desconectado”, detalha o vocalista Brett Anderson. As canções reproduzem essa dor. Esta “Antidepressants” é uma descrição do conformismo com uma situação insatisfatória, por exemplo. Sem buscar soluções fáceis para perguntas difíceis, o Suede oferece uma boa companhia. Ninguém está tão só assim. Ainda no álbum, destaque para a emocionante “Somewhere Between an Atom and a Star”. Ao filosofar sobre nossa insignificância diante do universo, o detalhe que é a nossa vida diante de tanto mistério, Brett chega em um falsete primoroso. O U2 trocaria todos os seus últimos álbuns fracos por esta canção!

Ano que vem completa dez anos do lançamento de “Light Upon the Lake”, a estreia-sensação da incrível dupla Whitney, formada por Max Kakacek e Julien Ehrlich, ambos ex-Smith Westerns. Talvez sem a mesma repercussão do primeiro álbum, eles continuaram lançando música bonita como se corresse o ano de 1971 eternamente. “Small Talk”, quarto álbum deles, previsto para novembro, mantém essa toada. Se você ama o clássico “All Things Must Pass”, do George Harrison, se joga aqui nesse trabalho novo do Whitney, em especial no single “Dandelions”.  Além desta “Back to the Wind”, claro.

O Tame Impala é o Sr. Kevin Parker solo há muito tempo, mas em algum lugar parecia que Kevin respeitava uma certa aura da banda de rock psicodélico e estreitava os limites possíveis em termos sonoros. Apesar da expansão promovida em “The Slow Rush” (2020), agora ele aproxima de vez o Tame Impala de sua persona solo, vista anteriormente em trabalhos como sua colaboração com Mark Ronson ou Lady Gaga. Um Tame Impala mais da pista e das rádios, bem menos, muito menos, quase nada empoeirado. 

Para entender o Tortoise em poucas linhas basta saber que seu parceiro musical em terras brasileiras é um cidadão chamado Tom Zé. Explicamos bem? É uma introdução rápida para avisar que a mítica banda de post rock de Chicago, de raros lançamentos, apresenta agora um álbum de inéditas, “Touch”, após nove anos de silêncio. O disco físico chega em outubro e só sai nas plataformas digitais no começo do outro mês. “Layered Presence”, primeiro single, anuncia o tipo de experimentação do Tortoise: viagem instrumental, timbres inusitados e um senso de canção fora da canção absurdo.

Quem viveu de fato os anos 1970 foi a dupla Lindsey Buckingham e Stevie Nicks. A inspiração todinha do Whitney corre neste single que estará presente no relançamento de “Buckingham Nicks”, álbum da dupla lançado em 1973 antes de entrarem para o Fleetwood Mac. O material jamais foi relançado, daí o auê. Tava tudo lá mesmo. 

Em vez de lançar uma versão deluxe de “Mayhem”, Lady Gaga fez uma espécie de atualização do álbum nas plataformas digitais ao acrescentar três inéditas. Ou seja, a versão original do álbum “Mayhem” não existe mais nas plataformas de streaming. Música virou videogame? Os puristas vão ter que voltar a comprar CDs e vinis, estamos achando. Ooooopsp, isso já está acontecendo!  

Juliana Hatfield, ex-Blake Babies e até ex-Lemonheads, chega a seu 21° álbum solo de estúdio. Em um esquema simples, tocando tudo em parceria com o baterista Chris Anzalone e Ed Valauskas, ela escreveu “Lightning Might Strike” após uma fase tensa em sua vida pessoal: perdeu o melhor amigo, perdeu o cachorro e viu sua mãe adoecer seriamente. Da dor ela parece ter tirado lições luminosas, como indica o single ““Scratchers”, um rock daqueles honestíssimos. Sabe muito a Juliana. 

Não basta ter lançado um monte de álbuns inéditos e perdidos em 2025, Bruce continua mexendo no baú e arranjou material para expandir seu mítico “Nebraska”, de 1982. A principal jóia são as sessões elétricas do disco, há muito desejadas pelos fãs. Curiosamente, foi justamente pelas sessões elétricas insatisfatórias que Bruce lançou boa parte do material do Nebraska em seu formato acústico e gravado de forma quase amadora. Mas fã é fã, quer tudo. Então, toma aí essa versão de “Born in the U.S.A” bem mais soturna do que o resultado final – e bem mais próxima da ideia original, registrada em uma demo de 1982 presente em “Tracks”, coletânea de 1998. Enfim, só vai.

Você já sabe que aos poucos o Oasis vai montando uma coletânea de registro ao vivo de sua turnê de retorno. O single da vez é a poderosa “Wonderwall”, em Dublin, no dia 16 de agosto, uma noite cheia de homenagens familiares – “Stand by Me” foi dedicada à Irlanda e a Peggy Gallagher, mãe dos irmãos, e “Cast No Shadow” à família estendida deles por parte de pai. Os Gallaghers têm bastante sangue irlandês correndo naquelas veias manchesterianas.

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* Na vinheta do Top 10, o trio americano Big Thief, em foto de Daniel Arnold.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix

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