Top 50 da CENA – Viratempo quis o topo. Mahmundi amou o pódio. E a Bike emplaca o terceiro lugar

Os ecos de Rita Lee estão por aí. Semana passada pausamos nossa lista para celebrar a vida e obra de Rita aqui no Top 50. Mas essa tarefa continua nesta semana, agora indiretamente: no pop da Mahmundi, que visualiza a Rita otimista no amor, ou na psicodelia do Bike, que remonta os Mutantes e ecoa sua inspiração. Rita, there and everywhere.

Que música viciante que os meninos do Viratempo inventaram. “Te Quiero” é hit demais, que delícia! Se no primeiro disco lançado lá em 2018, “Cura”, o dia era noite, agora a noite é dia e um clima ensolarado toma conta do ambiente.  Frescor. Experimenta escutar “Te Quiero” nesse friozinho que estão os dias, pelo menos aqui no estado de São Paulo. O som de Vallada, Danilo Albuquerque, Hygor Miranda e Max Leblanc é capaz de te aquecer. No texto do disco, a banda se pergunta e também responde: “Dançar ajuda a esquecer? Acho que sim”. Concordamos, garotos. 

“Meu Amor” é uma faixa que a carioca Mahmundi lançou em seu álbum de estreia, que leva seu nome artístico e foi lançado no (nem tão) distante 2017. Por lá, a faixa tinha uma base eletrônica. Em 2023, em “Amor Fati”, seu novo disco, cujo título é baseado numa expressão nietzscheana, a música aparece novamente, mas vestida ao modelo rock básico – guitarra, baixo e bateria. Um formato que Marcela tinha na mente antes de gravar seus primeiros álbuns e abandonou para experimentar coisas mais eletrônicas. Como boa canção que é, “Meu Amor” sobreviveu ao tempo e ganhou novos significados, mais solar aqui no arranjo que revaloriza a letra sobre estar bem consigo, chave para estar bem com o outro. Aceitação, um termo que cabe com o conceito do novo álbum. 

A cada vez mais internacional paulista banda Bike logo na abertura de seu novo álbum , “Arte Bruta”, deixa a gente com a mente ligadíssima.  “Além-Ambiente” bebe em “Fuga N°2” dos Mutantes – da qual pega emprestada a melodia -, o que torna a faixa uma homenagem subliminar a Rita Lee – tributos que não param nesta faixa. A emoção bate de cara e segue no forte álbum que tem produção do superguitarrista Guilherme Held e faz uma reflexão sobre a situação brasileira em faixas de temática índigena – uma exploração temática e sonora. 

Clássica banda do indie rock brasileiro, o grupo de Bruno Souto, Fernando Barreto, Zeca Viana e Thiago Reis honrou seu nome (hehehe) e retomou seus trabalhos com uma canção que também se aproveita da piada para falar de um retorno a um velho amor. Uma música de reconciliação – com os fãs mais fiéis da banda!  

O tempo anda voando e conturbado pós-pandemia, hein? Parece que foi ontem que Majur soltou seu álbum de estreia “Ojunifé”, mas o lançamento foi lá em 2021! E por isso já é boa hora para novidades e elas chegam no pop “Arrisca”, que como o nome entrega se aventura por explorar uma nova sonoridade na carreira de Majur, mais pop, eletrônica e mais festeira – “Tudo ou Nada” lembra as farras da Kesha. 

O novo disco de Jards Macalé é sobre o amor. Amor enquanto ato político. Não confunda com a política rasteira praticada nas assembleias do país. A palavra política aí é no sentido do conjunto de práticas que modulam nosso dia a dia. Logo, na filosofia de Jards, ação constante para viver é amar. Assim pensa Jards, assim temos que pensar. E é sempre muito bom ouvir ele e sua voz por “Coração Bifurcado”, mas o que acontece no nosso coração com a chegada de Maria Bethânia no álbum solando em “Mistérios do Nosso Amor” é de outro mundo. A canção de Jards com Ronaldo Bastos, parceirinho novo de Macalé, derruba qualquer um. Daquelas canções que parecem que sempre existiram.  

Marina Sena não deitou no próprio sucesso. Arregaçou as mangas e foi atrás de trabalhar para fazer valer o sucessor de sua impactante estreia, “De Primeira”. Em vez de repetir a bem-sucedida fórmula do primeiro álbum, que pensou uma MPB a partir de uma produção muito influenciada pela música eletrônica; Marina foi investigar trap, reggaeton, drill, triphop e outras tendências eletrônicas na raíz. Em “Vício Inerente”, a música eletrônica não é um dos veículos que comporta a canção: é sua base. Em outras palavras, é um álbum menos pensando ao violão e mais feito 100% com a cara fritando numa telinha de notebook. Essa mudança de sonoridade combina com a mudança estética proposta; menos vermelho, mais azul, menos praia e campo, mais cidade e seu cinza. Mas os assuntos da música não mudaram tanto assim. O padrão de vida melhorou, mas as tretas são as mesmas. A maioria do papo ao longo de “Vício Inerente” é pegação, obsessão e idas e vindas amorosas. Lógico que tem alguns pés na bunda – tomados ou dados – mais dados, parece. Até por isso brisamos em “Meu Paraíso Sou Eu”, uma canção curtinha que pode ser lida de duas maneiras interessantes – a mais óbvia seria Marina se livrando de um relacionamento tóxico e se priorizando, outra leitura mais viajada é que essa pausa no álbum representaria um momentinho de prazer a sós consigo mesma, sabe. Viagem nossa? 

“Rock de favela”, anuncia Mateus logo na abertura de seu novo álbum, “Jesus Ñ Voltará”. Não é só um bordão, “rock de favela” é uma ação de Mateus. Se o rock no Brasil sempre foi muito branco e burguês, Mateus pega o gênero para contar outras histórias, mais plural. Mais próximo do que o rock foi na sua origem, calcula o artista. No novo álbum, ele busca revelar “como são os desafios que a gente conta para estar vivo, continuar vivo, querer continuar vivo e gostar de estar vivo”, conforme escreve. Nesta “Indigno Love”, por exemplo, Mateus subverte a concepção de lovesong de guitarras limpas para construir uma crítica certeira na discrepância social que permeia tanto as relações de afeto mais profundas até minúcias da cena artística.

A dupla Tim Bernardes e Rodrigo Amarante nos parece tão óbvia que soa maluquice a gente não ter visto ela em ação antes. Começou a circular um vídeo em que Tim e Rodrigo tocam juntos “Leve”, que Tim lançou em seu álbum “Mil Coisas Invísiveis” e ainda não tem no streaming para a gente playlistar. Não é um encontro profissa, é mais os dois batendo um papo ao violão na sala de casa – com Rodrigo meio que aprendendo a canção de Tim alli enquanto tocam. É bonito. Um fã encontrando o ídolo e descobrindo que o ídolo é seu mais novo fã.

“Radio, what’s new?”, já perguntaram por aí. E Lirinha responde essa pergunta com uma rádio toda sua, uma rádio cósmica, sua rádio cabeça, talvez, para puxar a ideia de outro poeta. Essa é a viagem de “MÊIKE RÁS FÂN”, o mais novo álbum solo do compositor, seu terceiro disco solo e o primeiro em oito anos. Um disco que pesquisa rádio, palavras e corpo – “o campo é o corpo” foi a sacada que motivou esta canção feita para uma causa para lá de nobre: inaugurar o campo Dr. Sócrates dentro da Escola Florestan Fernandes, espaço do MST em Guararema, no estado de São Paulo. De se imaginar que o próprio doutor Sócrates, filósofo que só, concordaria com a sacada e seus múltiplos significado, já que campo pode se referir a agricultura ou ao campo de futebol e por aí vaí. Bom demais.

11 – Tasha & Tracie com Mc Luanna – “Combate” (6)
12 – Edgar e Nelson D – “”Três Palavras” (7)
13 – Domenico Lancelotti – “Quem Samba” (8)
14 – Giovanna Moraes – “Fala Na Cara” (9)
15 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Que Meus Venenos Sejam Mel)” (10)
16 – Julia Mestre – “do do u”  (11)
17 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (12)
18 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (13)
19 – João Gilberto – “Rei sem Coroa” (versão ao vivo no Sesc Vila Mariana, 1998) (15)
20 – Iara Rennó – “Iemanjá” (16)
21 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (17)
22 – Pato Fu – “Fique Onde Eu Possa Te Ver” (18)
23 – YMA e Jadsa – “Meredith Monk” (19)
24 – Emicida e Chico Buarque – “Senzala e Favela” (20)
25 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (21)
26 – Gio – “Dois Lados” (com Russo Passapusso e Melly) (22)
27 – Ludmilla – “5 contra 1” (23)
28 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (24) 
29 – Selvagens à Procura de Lei – “O Verão Passou, Mas o Sol Continua Aqui” (26)
30 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (27)
31 – Jambu – “Caso Sério” (28)
32 – Alice Caymmi – “Desfruta” (29) 
33 – Getúlio Abelha – “Voguebike” (30) 
34 – Terraplana – “Me Encontrar” (31)  
35 – Cícero – “Longe” (33)
36 – Kamau – “Classe” (34)
37 – César Lacerda – “Nítido Cristal Puro” (35) 
38 – Carolina Maria de Jesus – “O Pobre e o Rico” (com Nega Duda) (36)
39 – Rodrigo Campos – “Atraco” (com Mari Tavares) (37) 
40 – Rubel – “Lua de Garrafa” (com Milton Nascimento) (38)
41 – Assucena – “Nu” (39)
42 – Sessa – Vento a Favor” (40) 
43 – MC Tha – “Coisas Bonitas” (com Mahal Pita) (41)
44 – Pabllo Vittar – AMEIANOITE (com Glória Groove) (43) 
45 – Tagua Tagua – “Pra Trás” (44)
46 – Nina Maia & Chica Barreto – “Gosto Meio Doce” (45) 
47 – Maria Beraldo – “Truco” (47)
48 – Jonathan Ferr – “Preterida” (48) 
49 – Mu540 – “Jatada Nostálgica Automotiva” (49) 
50 – Sara Não Tem Nome – “Agora” (50)


* Na vinheta do Top 50, o quarteto paulistano Viratempo.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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