Top 50 da CENA – Semana mineira no Top. Desastros, Clara Bicho e Terno Rei (com Lô Borges) dominam as mais mais

Jards era tão do seu tempo, tão da rapaziada, como ele gostava de dizer, que pôde aparecer diversas vezes aqui no Top 50 da Cena, esse espaço tão novinho. Estamos aqui só desde 2020 e deu para falar à beça das novis de Jards, até chamamos ele de menino uma vez. Foi assim até o fim. Dói saber que não teremos mais o privilégio de colocar uma inédita sua aqui com sua presença imensa. Mas ficam o som e os ensinamentos. Lá em 2023, ele foi primeiro lugar aqui com uma música em parceria com Ronaldo Bastos cantada por Maria Bethânia. Fiquemos com um verso da canção: “E, assim, nosso amor/ Vai seguindo/ Sem ponto final”. 
Aliás, bom falar em Ronaldo Bastos, que não é mineiro, mas é um legítimo integrante do Clube da Esquina. Nosso pódio da semana é todin mineiro – ou quase. 

Os mineiros e seus projetos coletivos. A mesma turma que passa por Moons, Transmissor, Tarda, Pequeno Céu, Sítio Rosa tem uma nova banda: Felipe D´Angelo, Julia Baumfeld, Bernardo Bauer, Sara Não Tem Nome e Pedro Hamdam formam agora o Desastros. O novo projeto é porque todos esses artistas querem apresentar para nós uma nova perspectiva: nós, só uns bichos indefesos, habitantes da terra, tirando conclusões a partir do céu sobre esse mistério todo. As canções deles são sobre isso. Exemplo, “Desastres”, a faixa que abre o disco “Desastros”, é “um proto-samba torto com cavaquinho e lata de biscoito que insiste em nos dizer: já está tudo escrito nas estrelas”. 

Clara Bicho é cada vez mais sucesso. E não é porque ela também é uma poploader, o que talvez as pessoas achem que influencia nossa opinião… Rapaz, o Chico Barney se revelou fã da Clara! Precisa de mais sinais? “Telejornal Animal” se mostra seu single mais ousado e produzido até aqui. Uma expansão sonora mostrando como as delimitações lo-fi de uma operação caseira são coisa do passado. O capricho também aparece no vídeo da canção, o primeiro de Clara que não é uma animação. Ao recriar o telejornal da letra, conhecemos a personagem Lua no papel de âncora. Sim, a Lua, estrela da capa de tantos trabalho de Clara, ganha vida de uma forma que compra quantas horas a pequena Clara passou em frente da televisão, mais especificamente, da TV Cultura.  

Sonastério é aquele estúdio lindo em Minas Gerais com uma “janela lateral” de olho na paisagem das serras mineiras. Por lá, se gravam muitas sessões, inclusive a Sonastério ilumina, que já acumula 25 edições. Em uma delas, a turma do Terno Rei teve o privilégio de registrar ao vivo seu som gravado com Lô Borges em “Nenhuma Estrela”, talvez um dos últimos registros do mestre, justamente com uma banda que conversa tanto com sua melancolia. Valeu, Lô. 

Emicida deu a deixa do que será seu próximo disco em entrevista no programa global “Conversa com Bial”. “Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores” se apresenta como releitura de “Cores e Valores”, disco mais recente dos Racionais MC’s. Diferente do trabalho apresentado na semana passada, onde Emicida juntou seu som com o dos Racionais em forma de mashup, o novo disco parece ir mais fundo na reconstrução das músicas. Não é cover, não é mashup, são músicas inéditas a partir do escrito racional. “Us Memo Preto Zica”, apresentada ao vivo, transforma o refrão de “Preto Zica” em samba e os novos versos são trechos de diversas músicas dos Racionais remixadas por Emicida. Trampo de fã, como ele mesmo definiu. Nada disso está nos streamings, sai dia 28 de novembro, mas vale buscar a apresentação ao vivo da faixa. O zica voltou. 

Quem escuta “Lilás”, álbum de 1987 de Djavan, vê fácil os caminhos próximos por onde andaram o compositor alagoano e o dono de “Thriller”. Anos depois, Djavan revela que foi convidado por Quincy Jones para colaborar em “Bad”. Ele não levou muita fé e demorou para enviar a música, nunca gravada por Michael. A melodia reaparece agora em “Improviso”, seu 26º álbum de estúdio, como “Pra Sempre”, uma track super Michael Jackson e com letra dedicada ao rei do Pop. Com seu jeitinho de “Human Nature”, ele teria gravado ela fácil… Fica na imaginação. 

Já nos primeiros segundos, “Pequena Vertigem do Amor” exala anos 1970. É o baixo dos discos do Tim Maia, o violão dos discos do Jorge e as cordas sonhadas por Arthur. Com esse norte sonoro em mente, Sessa desenvolve temas como a paternidade e o cotidiano adulto. Uma busca por não perder o deslumbre com o mínimo, aprender com as crianças a ser mais criança. Nesse filme registrado em Super 8, “Carlos, Erasmo” toca ao fundo na vitrola e Sessa talvez tenha feito o seu disco que vai tocar por tardes e tardes na Tropicalia in Furs, a mesma  lojinha de discos classe A onde ele trabalhou por um bom tempo na gringa e ouviu todas as suas inspirações bem brasileiras. 

Rachel Reis ainda colhe os frutos do seu álbum “Divina Casca”, lançado em abril deste ano, mas decidiu começar a olhar já para o próximo verão. O EP “No Seu Radinho” é uma coleção esperta de músicas respeitando o conceito: canções radiofônicas e de diferentes gêneros, como se o ouvinte passeasse pelo dial e fosse encontrando a voz de Rachel em diferentes estações. Da baladinha romântica ao próximo axé mais quente e até aquela para tocar às quatro da manhã. Parece coletânea.

Rodrigo Campos e Clima são chapas de longa data e finalmente se juntaram para um álbum em parceria. Em “Questão de Educação”, resolveram recriar o modo de composição de antigos compositores de escola de samba – um faz a parte A e outro a B. Nessa alternância, os temas do disco se desenvolvem de maneira curiosa. Uma música pode versar sobre desavenças da rotina de um casal enquanto outra pode sonhar com a visita do revolucionário vietnamita Ho Chi Minh no Brasil – de fato, ele viveu no Brasil uma época!

A simbiose é “uma associação a longo prazo entre dois organismos de espécies diferentes”. Isso talvez cause estranheza e talvez seja para causar mesmo, mas a busca de Walfredo, essa encarnação artística de Lou Alves e sua trupe, só quer uma conexão especial com o ouvinte. Sim, você mesmo. Você que também foi ovelha negra da sua família (“Rita Lee”), você que observa o “Zum Zum Zum das Abelhas”. Você é diferente, você sabe. Venha sem medo para o “Mágico Imagético Circular”, novo álbum do Walfredo.       

Mateus Aleluia não sai de casa sem bom motivo. Daí que quando ele aparece em um feat. nossa atenção se volta imediatamente. E ele colou com a mineira Bella Guerra para pedir à deusa música licença para cantar. Como um bom encontro de rios, a beleza se dá no grave de Mateus em consonância com a voz leve de Bella. É como pedir bênção aos mais velhos. Sinal de respeito e sabedoria dos jovens. A canção estará em seu primeiro álbum, “Marés”.

11 – João Parahyba – “Forró World” (8)
12 – Chico Chico – “Girl from the North Country” (9)
13 – Tori – “Trastejo” (10)
14 – Janine Mathias – “Deixa pra Lá” (11)
15 – Flau Flau – “Bye Bye” (12)
16 – YMA – “Rita” (com Sophia Chablau) (14)
17 – Carlos Dafé – “Jazz Está Morto” (16) 
18– Pelados – “Modric” (17)
19 – Lorena Moura – “Quis” (19) 
20 – Lucas Santtana e Gilberto Gil – “A História da Nossa Língua” (20) 
21 – Jup do Bairro e Negro Leo – “A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ F*** COMIGO” (21)
22 – Vanguart – “O Mais Sincero” (22) 
23 – Varanda – “Não Me” (23)
24 – Teago Oliveira – “Desencontros, Despedidas” (24)
25 – Tasha & Tracie – “Serena & Venus” (25) 
26 – Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro – “Cinema Total” (26)
27 – PUSHER174 – “Eu Sou do Contra” (27) 
28 – Oruã – “Casual” (28) 
29 – Douglas Germano – “Tudo É Samba” (29)     
30 – Eliminadorzinho – “Você Me Deixa Coisado” (30) 
31 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (31) 
32 – Chico César – “Breu” (32) 
33 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (33)
34 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (34) 
35 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (35) 
36 – Marabu – “Rubato” (36) 
37 – Don L – “Iminência Parda” (37) 
38 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (38) 
39 – Zé Ibarra – “Segredo” (39)
40 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (40) 
41 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (41) 
42 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (42)   
43 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (43) 
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45) 
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46) 
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47) 
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48) 
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49) 
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50,  coletivo mineiro Desastros.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

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