Nesta semana, o mundo da música pop está paralisado para, entre outras coisas, comentar o retorno do Radiohead aos palcos. Já comentamos brevemente o setlist da primeira noite da banda de Thom Yorke em Madrid e postamos um vídeo com o show completo. Agora, após o segundo show, fazemos aqui uma análise música a música de tudo que rolou nessas duas primeiras noites da volta da banda, tanto sobre a performance quanto sobre os visuais no palco, comparando ao que o Radiohead fez em turnês passadas. Vamos?

Let Down: Às vezes, o Radiohead tem uma tradição esquisita de dizer “Vocês querem ouvir esta? Então toma”. Na turnê In Rainbows, quando voltaram a tocar “Creep” após muitos anos e todo mundo começou a comentar esse fato, simplesmente abriram um ou outro show com a música. Agora, em 2025, a bola da vez é “Let Down”, que apareceu na série “The Bear” e viralizou nas redes sociais. Querem “Let Down”? Pronto, abriram com ela.
2 + 2 = 5:
Faixa que tipicamente aparece perto do início de setlists do Radiohead. Nunca ficou sumida por muito tempo. Os telões exibem imagens da banda no palco, sob o efeito de filtros coloridos que remetem a uma identidade visual da música em questão, coisa de décadas já – por exemplo, “2+2=5” sempre foi azul. Vale comentar que, até esse ponto do show, os telões estão abaixados.
Sit Down. Stand Up.: A maior raridade da noite. Estreou na turnê pré-disco “Hail to the Thief”, lá em 2002, foi tocada por dois anos, depois sumiu. Não é considerado como o momento mais excelente do Radiohead em estúdio, mas talvez fique legal vendo ao vivo. Nessa primeira performance, pelo que vimos em vídeos, parece que nem tudo soou bem certo.
Bloom: Uma das poucas sobreviventes do pior (?!) disco da banda, “The King of Limbs” (2011), “Bloom” marcou o momento em que os telões se ergueram e mostraram a banda. Ao que tudo indica, esse movimento deve acontecer na terceira ou quarta música de cada show.
Lucky: Um clássico que, infelizmente, fica cada vez mais difícil para a voz de Thom Yorke, mas não deixa de aparecer nos setlists. Vamos aproveitar enquanto dá.
Ful Stop: Até o momento, é uma de três sobreviventes do álbum “A Moon Shaped Pool”, o mais recente da banda, que talvez infelizmente dominou seus setlists na sua última passagem pelo Brasil. Como a turnê atual não é baseada em nenhum disco específico, será interessante ver quantas faixas de seus trabalhos mais recentes aparecerão nos setlists, em comparação ao material “clássico”, do “In Rainbows” para trás.
The Gloaming: De todas as músicas do álbum “Hail to the Thief” (2003), essa é a segunda mais tocada, quase chegando no top 20 das que mais aparecem em setlists na história da banda. Sua identidade visual mudou, de um verde “Matrix” para um multicolorido meio psicodélico, meio glitch art, que lembra um pouco o visual de “Creep” na turnê do álbum “In Rainbows”.
Myxomatosis: Música pesada que sempre mereceu mais destaque. Aqui, os telões ficaram descendo e subindo, deixando claramente evidente que há bastões de luz verticais atrás dos telões, para que as pessoas mais perto do palco tenham um elemento visual por trás da banda quando não houver um telão visível. Isso remete à forma que preencheram todo o espaço vertical do palco na turnê “In Rainbows”, também com bastões verticais de luz.
No Surprises: Nada a comentar. Todo mundo conhece a maravilhosa “No Surprises”.
Videotape: Também continua sendo a linda “Videotape” que todo mundo conhece.
Weird Fishes/Arpeggi: Mais uma mudança de identidade visual, indo do azul para o roxo.
Everything in Its Right Place: Música que teve, por muito tempo, a função de encerrar os shows da banda, mas passou a ocupar uma posição mais para o meio dos setlists em turnês mais recentes. [Já adiantamos que, na segunda noite em Madrid, foi a última do setlist.] Felizmente, ela perdeu o teclado esquisito que tinha adquirido na turnê “A Moon Shaped Pool”.
15 Step: É a faixa de abertura de “In Rainbows”, sempre esteve relativamente presente nos setlists. Nada a acrescentar aqui.
The National Anthem: Música que já foi um tour de force dos visuais ao vivo do Radiohead, com um vermelho claro, agora parece não trazer tantos efeitos nos telões. Mas admitimos que não conseguimos ver direito nos vídeos postados até o momento.
Daydreaming: Aqui, sim, uma novidade. Comentamos que o Radiohead costuma preencher seus telões com vídeos da própria banda, sob o efeito de filtros, raramente usando algum “conteúdo visual” criado especificamente para ser exibido. Mas “Daydreaming” foi uma exceção. Uma belíssima animação poligonal e monocromática ficou passeando pelos telões ao redor do palco enquanto o grupo tocava, banhado por uma luz vermelha. Talvez o look mais bonito da noite.
A Wolf at the Door: Olha só quem voltou! Mais uma raridade, relativamente falando, de “Hail to the Thief”. Thom Yorke parece adorar cantar essa.
Bodysnatchers: Que bom que essa nunca fica muito tempo fora dos setlists.
Idioteque: Ao que parece, o visual verde “Matrix” de “The Gloaming” foi transportado para a clássica “Idioteque”. Combinou, deu certo.
Fake Plastic Trees: Aqui começou o bis. Esperamos que o Radiohead tenha aprendido que “Fake Plastic Trees” não é música de encerramento. Até hoje há brasileiros chateados com o fato de que essa foi a última tocada no show deles em São Paulo, em 2018. No meio do setlist fica excelente, mas no fim é anticlimática.
Subterranean Homesick Alien: Essa foi tocada muito nos anos 1990, mas, de 2000 para cá, apareceu menos de 10 vezes nos setlists. Agora, em Madrid, veio acompanhada de mais uma animação bonita em 3D nos telões, além de imagens da própria banda. Tudo de muito bom gosto.
Paranoid Android: Curiosamente, a banda optou por não utilizar uma explosão de vermelho no palco e nos telões durante a parte mais pesada da música. Era um contraste que funcionava excepcionalmente bem. Do jeito que está, ficou azul do começo ao fim.
How to Disappear Completely: Mais uma animação em 3D nos telões, sem a banda. Até aqui, o bis parece bom demais para ser verdade…
You and Whose Army? …mas ainda melhorou. A sensacional “You and Whose Army?” manteve a tradição de colocar uma câmera no piano de Thom Yorke, apontada para sua cara. Só não teve aquele close-up extremo de seu olho, como já rolou em turnês passadas.
There There: A melhor música do disco “Hail to the Thief”, não coincidentemente a mais tocada dele. Dificilmente o Radiohead passa dois shows sem tocá-la.
Karma Police: “Karma Police”, um dos hinos do sublime “OK Computer”, é o encerramento que todo show do Radiohead merece. Pelo que vimos nos vídeos dessa música, os telões ao redor do palco, além de se erguerem, também podem girar em seus próprios eixos, mas o efeito é utilizado em apenas uma ou outra música de cada show.

Agora, falamos sobre as 11 faixas diferentes que foram executadas na segunda noite em Madrid, ontem, dia 5:
The Bends: A pesada faixa-título do álbum “The Bends” veio para indicar que, sim, a banda ainda toca material de seu segundo disco – quem morreu mesmo foi só o primeiro, “Pablo Honey”. Talvez “Creep” apareça em algum show desta turnê, e só.
Jigsaw Falling Into Place: Uma das mais elogiadas faixas do disco “In Rainbows”, inexplicavelmente sumiu dos setlists após 2009. Aqui fez seu merecido retorno, também marcando o primeiro momento em que os telões se ergueram no segundo show.
All I Need: Outra faixa excelente de “In Rainbows” que nunca fica muito tempo longe dos setlists, assim como…
Nude: …a clássica “Nude”, que aqui apareceu com uma nova introdução no piano, e também como…
Reckoner: …”Reckoner”, bastante executada desde que estreou. Caso você não saiba, pode ser polêmico aqui,”In Rainbows” é o melhor disco do Radiohead.
Airbag: Mas há quem diga que “OK Computer” é o melhor disco do Radiohead, e sua faixa de abertura, “Airbag”, está aí para provar. Thom Yorke teve problemas vocais ao tentar atingir algumas de suas notas.
Separator: A única a representar “The King of Limbs” na segunda noite. Apostamos que essa baixa porcentagem de faixas do disco deve permanecer durante a turnê toda.
Pyramid Song: Tranquilamente uma das melhores composições da carreira do Radiohead. Agora também recebe uma bela animação nos telões.
(Nice Dream): Outra sumida desde 2009, essa faixa de “The Bends” praticamente despencou dos setlists pós-2000, sendo executada menos de 20 vezes nas últimas duas décadas.
Exit Music (for a Film): É mais uma clássica de “OK Computer” que deve aparecer com frequência na turnê, como sempre foi.
Street Spirit (Fade Out): A terceira faixa de “The Bends” da noite, “Street Spirit (Fade Out)” é a música mais tocada ao vivo na carreira do Radiohead, um pouco à frente de “Paranoid Android”.
Planet Telex: Perto do fim do show, mais uma de “The Bends” – curiosamente, o setlist impresso trazia que “Just”, também de “The Bends”, era uma alternativa para esse momento do show.
Present Tense: Essa foi tocada à exaustão na turnê de “A Moon Shaped Pool”, mas retornou aqui.
The Daily Mail: A última “novidade” da noite veio com “The Daily Mail”, faixa da era “The King of Limbs” que não apareceu no álbum, mas consegue ser melhor que a maioria das que entraram nele. Sempre vale a pena revisitá-la.
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* Amanhã, dia 7, o Radiohead se apresenta mais uma vez em Madrid; depois, no dia 8, faz sua última apresentação na cidade. Até o momento, tocaram 36 das supostas 65 músicas ensaiadas. Veremos quantas mais aparecem nos setlists.
** Abaixo, vídeos de galera de performances de ontem, a segunda noite na Espanha.